40_ Então, me beija

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As carnes começaram a sair, o almoço ainda não estava completamente pronto, mas minha mãe já não precisava mais da nossa ajuda. Íris voltou para a sala para ficar com a Giulia e eu parei na porta da cozinha.

Minha preocupação era o fato do Trevor estar entrando tanto na minha vida. Os únicos lugares que frequento, ele já tinha ido. O estúdio, a cafeteria, a minha casa, a casa dos meus pais... Como não vou me lembrar dele em todo lugar quando ele for embora?

Trevor, cachorro, passou correndo por mim e se rolou no gramado, ficando com a barriga para cima, pedindo carinho. Sorri e me aproximei dele. Me abaixei para alcança-lo e fiz carinho.

Senti Trevor se aproximando, mas continuei com minha atenção focada no cachorro. Ele se abaixou na minha frente e olhou com um sorriso para o cachorro que rolava pela grama.

ㅡ Esse é o famoso Trevor? ㅡ Ele estendeu a mão para acariciar o cachorro e eu afastei a minha. Eu não disse nada, apenas concordei com a cabeça.

Trevor estava com os olhos focados no cachorro, então não disfarcei o meu olhar nele. Ele estava tão perto... Era tão bom olha-lo de perto. Queria conseguir guardar os detalhes do seu rosto na minha mente, mas memória é uma coisa que não funciona direito em mim.

O celular dele começou a tocar e ele o pegou. Trevor se levantou e eu fiz o mesmo. Após ver quem era, ele olhou de um lado para o outro, provavelmente procurando um lugar mais silencioso para atender a chamada. O que era difícil na minha casa.

ㅡ Vem comigo. ㅡ Voltei para dentro de casa e passei pela cozinha. Entrei no corredor, pouco antes de chegar a sala e destranquei a porta do que costumava ser o meu quarto na adolescência. Isso depois de eu vir morar com meu pai. ㅡ Entra. ㅡ Trevor olhou o cômodo rapidamente e logo voltou a olhar para mim.

ㅡ Quer que eu espere lá fora? ㅡ Apontei para o corredor.

ㅡ Não, fica. ㅡ O escandalo de alguém entrando na sala me fez fazer uma careta. Certamente era Pk chegando. Para não atrapalhar a chamada, fechei a porta atrás de mim e me encostei nela. Trevor foi para perto da janela e atendeu o telefone. ㅡ Hi, mom... ㅡ Ele sorriu. Como eu amava quando ele sorria. ㅡ Ok, ok, já sei... Português... ㅡ Trevor riu e começou a andar de um lado para o outro, olhando as coisas que tinham no meu quarto.

Aquele quarto tinha as paredes pintadas na cor lilás. Uma cortina branca cobria boa parte da parede em que ficava a janela e uma cama de solteiro encostava na parede a direita. Na outra parede tinha uma escrivaninha e uma estante com livros, tanto da escola quanto livros que eu gostava de ler. Trevor parou perto da parede que tinham várias fotos minha em Polaroid. Algumas de dança, outras com meus amigos e outras com a família. Eu era fascinada por tirar fotos nessa época.

ㅡ Sim, está tudo bem... ㅡ Ele puxou uma foto que não consegui ver qual era. ㅡ Estou na casa da Sophia, vamos almoçar aqui hoje. ㅡ Continuou olhando a foto enquanto segurava o celular no ouvido com a outra mão. ㅡ Eu sei, mãe... ㅡ O tom de sua voz desanimou. ㅡ Não é tão fácil quanto parece. ㅡ Ele segurou o celular entre o ombro e a orelha e pendurou a foto novamente no lugar. Era uma foto minha rindo de alguma coisa que não me lembro. ㅡ Eu não consigo ficar muito tempo longe dela. ㅡ Senti meu coração errar a batida. Ele continuou de costas para mim e eu continuei apoiada na porta, mas agora sentia as minhas bochechas queimarem. ㅡ Eu to tentando, mãe. ㅡ Ele se virou para mim. ㅡ Mas, é difícil quando só me sinto completo perto da Sophia.

Era isso. Eu virei um tomate.

Trevor disse aquilo olhando diretamente para mim e eu senti que perderia o equilíbrio se não me desencostasse da porta e pisasse firme no chão.

Parte de mim não queria que ele fizesse aquilo. Parte de mim queria que ele seguisse o maldito plano de não termos nada para que eu me avosdumasse mais rápido a não tê-lo por perto. Mas... A outra parte de mim o entendia e queria que ele parasse de enrolação e me beijasse logo.

Ambos sabemos que não deveríamos fazer nada, mas ambos esquecemos disso quando estávamos juntos.

Trevor chegou um pouco mais perto e eu mordi o lábio inferior sentindo a tensão tomar conta do meu corpo. Ele me olhou com aquele olhar... Aquele olhar de quem não estava pensando nem um pouco no que estava fazendo. Aquele olhar de quem já tinha perdido o controle. Eu estava amando receber aquele olhar.

Ele estava mais perto de mim, então consegui escutar quando sua mãe falou do outro lado da linha:

ㅡ Vai conseguir viver em paz depois de vir embora e saber que machucou o coração dessa menina? ㅡ As palavras dela foram como um despertador que fez Trevor acordar. O olhar de descontrole despareceu e ele voltou ao seu olhar comum. Ele já não ia mais fazer algo impensado. Ele voltou ao plano.

ㅡ Não. ㅡ Abaixei minha cabeça ouvindo a sua resposta. ㅡ Acho... Acho que vou desligar. Vamos almoçar. ㅡ A mãe dele se despediu dele e desligou a chamada. Trevor não se afastou, continuou no mesmo lugar, imóvel. ㅡ Me desculpa, Sophia. Eu não devia...

ㅡ Acha que vou sofrer menos se não me beijar agora? ㅡ Voltei a olhar em seus olhos e ele franziu o cenho.

ㅡ O que?

ㅡ Trevor, eu vou sofrer do mesmo jeito quando você for embora, quer você me beije agora ou não. Então... Me beija. ㅡ Fui direta. Fiquei admirada por não ter engasgado com as palavras. Trevor pareceu surpreso.

ㅡ Mas, você... ㅡ O interrompi novamente.

ㅡ Trevor... ㅡ Dei um passo a frente. ㅡ Você vai me fazer pedir de novo? ㅡ Arqueei uma sobrancelha. Ele me encarou ainda com surpresa no olhar, mas quando percebeu que eu estava falando sério, ele não levou nem meio segundo para dar um passo a frente, me puxar e me unir a ele num beijo.

Esse beijo não foi como os outros, foi um pouco mais desesperado. Foi um beijo ansioso. Um beijo que estava sendo ansiado por nós dois a muito tempo e que sabíamos que talvez não se repetiria.

Trevor ergueu as minhas pernas num ato rápido, as rodeando em sua volta. Ele imprensou minhas costas na parede, sem interromper o beijo.

Aproveitei cada detalhe daquele beijo. Cada toque, cada segundo, cada onda de calor, tudo. Aproveitei porque não acredito que um dia algum outro cara vá conseguir me fazer sentir tudo isso de novo. Eu já tive um namorado, eu já beijei outros caras, mas nunca senti nada como o que sinto com Trevor. Nunca me senti tão ligada a alguém. Nunca senti essa sensação tão aconchegante e desesperadora ao mesmo tempo.

Paramos de nos beijar, mas não saímos do lugar. Assim que seus lábios soltaram os meus, Trevor afundou o seu rosto no meu pescoço e me abraçou forte.

Desci de seu colo após longos segundos apenas escutando a respiração um do outro. Observei o seu rosto. Ele segurou o meu com suas duas mãos e me deu um beijo na testa.

Depois voltamos para o almoço como se nada tivesse acontecido. Porém, eu ainda sentia ele em mim.

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora