35_ Perfeito, ou não

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Eu já tinha sentido a sensação do mundo estar desabando, mas agora sentia como se o mundo ficasse lá embaixo e eu flutuasse. Era isso. Eu estava flutuando.

Trevor estava me beijando. Eu o estava beijando. Suas mãos seguravam firmes a minha cintura, puxando o meu corpo para ela. Meus braços estavam sobre os seus ombros, em volta da sua nuca. Nossos lábios estavam numa sintonia tão boa que eu senti como eles tivessem sido feitos para se encaixar um dia.

Ele estava de moletom.

Trevor estava de moletom e a medida que seus braços me rodeavam, mais eu sentia a sensação de lar que seus abraços me passavam.

Eu estava me sentindo tão bem. Parecia que tudo estava perfeito. Nada estava errado. Não existiam problemas, tristezas, situações ruins, inconveniências, nada. Aquele momento se resumiu em uma palavra: perfeito.

O beijo durou minutos inteiros até separarmos nossos lábios um do outro. Sabíamos o que viria depois. Sabíamos que diríamos um ao outro que aquilo não deveria ter acontecido e isso tiraria toda a perfeição da situação, então não fizemos nada. Apenas nos abraçamos. Ele me envolveu ainda mais em seus braços e eu apoiei a cabeça em seu peito.

Eu o queria. Meu coração se ligou a ele de tal forma que parece que ele parte de mim.

Trevor tocou a parte de trás da minha cabeça com a sua mão e acariciou devagar e com cuidado. Eu sentia que ele já estava arrependido. Sentia que ele estava desejando nem ter vindo aqui. Sentia que ele iria embora já já... E isso me doía.

De repente, nada mais é perfeito.

( Narrado por Trevor )

[ Obs: o diálogo a seguir aconteceu originalmente em inglês ]

ㅡ Eu já te contei sobre o meu primeiro amor? ㅡ Minha mãe apertou o edredom a minha volta para que eu não sentisse frio. Eu já tinha doze anos, já podia fazer isso sozinho, mas nunca disse isso a ela.

ㅡ O seu primeiro amor não foi o papai? ㅡ Perguntei curioso. Era noite de inverno e estava nevando lá fora. Minha mãe estava me colocando para dormir após nossa noite de pizza.

ㅡ Não. ㅡ Ela sorriu com aquele olhar de quem me contaria mais uma de suas histórias. Eu cresci ouvindo histórias antes de dormir, mas não eram contos de fadas, eram aventuras que ela e o meu pai viveram. ㅡ O meu primeiro amor se chamava Joshua. ㅡ Puxou a cadeira da minha escrivaninha e se sentou de frente para minha cama. ㅡ Eu tinha dezoito anos e estava no primeiro ano da faculdade. Ele era um... Era um aventureiro, como seu pai. Ele era chefe de cozinha e gostava de viajar para aprimorar a sua técnica e entender a diversificação da culinária. Ele ia de país em país e provava da comida típica. O que ele gostava... Acrescentava em seus pratos.

ㅡ Como o papai...

ㅡ É, como o seu pai. ㅡ Ela sorriu. ㅡ Eu ainda não conhecia o seu pai e era muito inexperiente nessa coisa de paixão e amor. Quando conheci o Joshua numa exposição de arte ao ar livre, senti que estava experimentando desse tal amor a primeira vista.

ㅡ O que a senhora sentiu?

ㅡ Eu senti... Senti como se ele tivesse sido feito para mim. Como se fossemos metades andando por aí. ㅡ Ela riu do que disse. ㅡ Eu era tímida, mas tomei coragem de experimentar algo do cardápio dele. Ao fim da exposição ele pediu o meu número e desde então continuamos nos vendo. ㅡ O sorriso dela se tornou um sorriso triste. ㅡ Eu o amei muito. Tive certeza de que era o amor da minha vida e que ficaríamos juntos para sempre.

ㅡ O que aconteceu?

ㅡ Ele foi embora. ㅡ Ela suspirou, ainda forçando o sorriso, como se estivesse me contando qualquer outra história. ㅡ Ele estava só de passagem e, quando a sua viajem terminou, ele foi embora.

ㅡ Vocês terminaram?

ㅡ Sim... ㅡ Apertou as mãos em seu colo. ㅡ Não ia dar certo. Um continuaria na minha faculdade e ele continuaria viajando o mundo. Eu não... Não tinha espaço na vida dele.

ㅡ Por que me contou isso?

ㅡ Trevor, sei que quer seguir os passos do seu pai. Sei que quer viajar tanto quanto viajamos e sei que quer viver tanto quanto vivemos. Estou te contando isso porque não quero que faça o mesmo que Joshua um dia fez. ㅡ Ela me olhou atentamente. ㅡ Filho, se um dia conhecer alguém num país diferente que te interesse, não... Não machuque essa pessoa. Não a deixe passar pelo que eu passei. Tudo bem?

ㅡ Tudo bem, mãe. ㅡ Ela me deu um beijo na testa, sussurrou um boa noite e saiu do meu quarto.

>>>

Eu sabia que não deveria ter ido até a casa dela. Sabia que não deveria ter pego o carro, ido até a farmácia, comprado remédios e depois gritar por seu nome na porta de sua casa. Eu sabia que não deveria ter ficado quando ela pediu. Eu sabia que não deveria ter subido ao seu quarto e muito menos ter ficado tão perto dela.

Droga, eu sabia que perderia o controle se ficasse à menos de um metro dela. Mas, mesmo assim, fui teimoso o suficiente para fazer tudo isso e ainda beija-la. Eu não deveria tê-la beijado. Não deveria porque agora tudo o que sinto em mim é ela e é isso que quero sentir para sempre daqui pra frente.

Mas, eu não posso. Não posso ficar com ela agora porque quero e depois ir e a deixar magoada assim como aconteceu com a minha mãe.

Eu não suportaria machucar a Sophia.

O problema é que sinto que estou fazendo isso agora. A culpa é minha. Eu quem me deixei levar desde que cheguei aqui. Deveria ter ficado na minha. Deveria ter ficado isolado apenas aprendendo, assim não teria me apaixonado.

Só que eu não consegui. Desde que a vi naquela cafeteria correndo de um lado para o outro tentando dar conta de tudo que não consigo tirar ela da cabeça. Não consigo esquecer o sorriso que ela me deu ao servir aquele café.

Depois a encontrei chorando na rua e me preocupei. Me preocupei com uma pessoa que eu mal conhecia. Encontra-la novamente no estúdio só me fez crer que eu não teria saída aqui a não ser me encantar por ela em todo lugar que eu fosse.

Sophia tomou os meus pensamentos e o meu coração. Eu me sinto sem uma parte do meu coração quando estou sem ela. Talvez por isso vim para cá ao invés de ficar quieto em casa.

Eu precisava da outra parte do meu coração.

O outro problema era que se eu tivesse a outra parte do meu coração agora, certamente levaria parte do dela junto comigo quando fosse embora. E não quero fazer isso com ela.

ㅡ Sophia... ㅡ Ela se afastou de mim e abaixou a cabeça, passando o dedo embaixo dos olhos. Vê-la chorar quebrou o meu coração em tantas partes que me senti a pessoa mais horrível do mundo por estar fazendo isso com ela.

ㅡ Eu sei. ㅡ Assentiu e puxou o ar com o nariz com dificuldade. ㅡ Ta tudo bem, eu entendo. Obrigada por... Por ter vindo aqui e se preocupado comigo. Eu vou descansar agora. Nos vemos na CA amanhã? ㅡ Ela me estendeu a mão para que eu apertasse. Era a forma dela dizer que seríamos amigos. Apenas.

Apertei sua mão e assenti. Não consegui dizer nada, nem sequer um adeus antes de sair de casa e ir até o carro. Não corri e nem me importei com a chuva. Nada estava importando muito no momento.

Entrei no carro e fechei a porta. As gotas pesadas molhavam as janelas e o parabrisa, impossibilitado que eu visse qualquer coisa lá fora. Não me importei de ligar o carro também, só me recostei no banco e fechei os olhos.

Eu chorei. Comecei a chorar feito criança sentindo o meu peito ser despedaçado.

Eu iria superar, certo? Ela também iria, certo? Eu nem preciso... Só quero que ela supere e possa ficar bem e feliz independente de eu estar em sua vida ou não. Eu não preciso estar bem ou feliz. Ela precisa.

•••
Continua...

Hoje sai mais um, fiquem atentos❤️

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora