48_ Dia de pagamento

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Eram quase oito da noite e eu estava fazendo de tudo para conseguir administrar o salão da cafeteria sem surtar e sem demonstrar o quão desanimada eu estava.

A situação com a minha mãe me deixou extremamente para baixo. Sem contar com o fato de eu ainda me sentir insegura. Tudo isso resultou no meu ótimo humor indo por água a baixo.

Isadora não estava ajudando em nada, como quase sempre, e, para melhorar tudo, soltava um comentário sarcástico a cada vez que passava por mim. Seria totalmente justificável se eu tivesse um surto e quebrasse tudo ali. Ou não... Acho melhor eu continuar trabalhando mesmo. Preciso muito desse emprego.

ㅡ Ai, Sophia, anima vai. ㅡ Carol balançou os meus ombros. ㅡ Hoje é dia de pagamento, lembra? E amanhã é sábado, o que quer dizer que você não trabalha. Se anima, sorri.

ㅡ Eu juro que estou tentando me animar. ㅡ Voltei a focar minha atenção no café do cliente.

ㅡ Hm... Agora sim você se anima. ㅡ Seu comentário me deixou confusa. Olhei para ela e percebi que ela olhava na direção da porta da cafeteria. Me virei na mesma direção e abri um sorriso involuntário quando vi Trevor entrando. Ele também sorriu para mim e isso meio que melhorou um pouco as coisas. ㅡ Meu Deus, parecem até a dona Florinda e o professor Girafales. Só falta tocar aquela música.

ㅡ O que?

ㅡ Nada. Vai lá. ㅡ Ela tomou o meu lugar e continuou fazendo o café. ㅡ Vai atender o seu namorado bonitão.

Ri dela falando e me virei para sair de trás do balcão, mas parei no lugar quando Isadora pegou as comandas antes de mim.

ㅡ Pode deixar comigo. ㅡ Ela sorriu da maneira cínica que só ela sabia.

ㅡ Ei... ㅡ Carol chamou sua atenção e ela olhou para nós. ㅡ Acho que a Sophia pode atender o namorado dela.

ㅡ Namorado? ㅡ Isadora arqueou uma sobrancelha.

ㅡ O que está acontecendo aqui? ㅡ A chefe apareceu e eu já me virei para voltar para o meu lugar. Se a chefe aparecia, significava que a Isadora iria se dar bem, então... Paramos de tentar discutir.

ㅡ Nada, eu só vou atender um cliente. ㅡ Isadora sorriu contente e seguiu pelo salão até a mesa onde Trevor estava sentado. Ele tinha o notebook aberto em cima da mesa.

ㅡ Muito bem, Isa. Continue assim. ㅡ A chefe sorriu de maneira orgulhosa e Carol fez uma careta para ela. ㅡ E vocês? ㅡ Nos olhou. ㅡ Não tem trabalho a fazer? ㅡ Nós não a respondemos, então ela voltou para a parte de trás do café.

ㅡ Isa? Essa mulher tem muita intimidade com essa garota. ㅡ Carol fez uma careta, colocou o café que estava fazendo sobre a bandeja e me entregou. ㅡ Faltou pouco para eu não dar com esse café na cara dela.

ㅡ Hoje é dia de pagamento. ㅡ A lembrei e ela respirou fundo fechando os olhos.

Fui até o salão segurando a bandeja e entreguei o café para o cliente que estava sentado uma mesa depois do Trevor. Isadora ainda estava o atendendo quando passei de volta para o balcão.

A noite se seguiu. Passo para lá, passo para cá, atendo pedidos, levo a conta, recebo gorjetas, respiro fundo pra não socar ninguém... Quando a hora do café fechar estava quase chegando, tirei o meu avental e bebi um pouco d'água.

ㅡ Por que a Isadora ainda está aqui? ㅡ Perguntei para Carol com uma careta. ㅡ Ela, geralmente, não vai embora bem antes do horário?

ㅡ É, mas o Trevor ainda está aqui. Não percebeu que a cobra correu para atendê-lo a noite toda? Ela não vai embora até que ele vá. E cuidado em, é capaz dela seguir ele até o carro igual uma maníaca. ㅡ Eu ri na hora, mas sabia que era bem possível. O que me deixava tranquila era o quanto eu confiava no Trevor. Era nítido como ele tentava chamar a minha atenção, mas a Isadora voava na minha frente.

Trevor pediu a conta e ela foi correndo novamente. Ele pagou, juntou suas coisas e saiu da cafeteria. Não demorou nem três segundos e Isadora estava saindo também com sua bolsa e um sorriso no rosto.

ㅡ Deixa que eu fecho hoje. ㅡ Carol tocou meu ombro. ㅡ Ele deve te esperar para te levar pra casa. Pode ir. ㅡ Assenti e fui até os fundos. Tirei o meu uniforme, peguei a minha mochila e saí da cafeteria. Parei na porta quando vi Trevor encostado em seu carro com os braços cruzados e a cabeça baixa. Isadora estava na frente dele. Nenhum dos dois havia me notado.

ㅡ O que você me diz? Garanto que vai se divertir muito. A festa acaba tarde, mas você pode dormir lá se quiser, tem um espaço no meu quarto. ㅡ Ela sorriu. Trevor ergueu o rosto e olhou para ela.

Ele bufou, se desencostou do carro e saiu de perto dela. Trevor deu a volta na frente do carro e abriu a porta do motorista.

ㅡ Trevor? Não vai me responder? O que ta fazendo?

ㅡ Vou esperar a minha namorada dentro do carro. ㅡ Ele colocou um pé para dentro do carro, mas ela chamou a atenção dele novamente.

ㅡ Espera! ㅡ Ele a olhou por cima do carro.

ㅡ É sério? Podendo sair comigo, você prefere ficar com a Sophia? ㅡ Apertei o meu maxilar e fechei minha mão. Aquilo era inacreditável.

ㅡ Não entendi a sua pergunta. ㅡ Trevor franziu as sobrancelhas. ㅡ Ta querendo dizer que eu deveria trocar a Sophia por você? ㅡ Ele riu abaixando a cabeça e apoiando o braço sobre o teto do carro. ㅡ Olha, seja lá qual for o seu nome, eu não devo te dar satisfação, mas para que você entenda e pare de ficar fazendo isso que está fazendo, quero deixar bem claro. Eu não troco a Sophia por ninguém nesse mundo. Quando eu venho aqui, é porque to com saudades e quero vê-la. Sei que é o seu trabalho, mas, se puder, faça a gentileza de deixar que ela me atenda da próxima vez. ㅡ Ele entrou no carro.

Isadora ficou uns segundos encarando o carro parecendo desacreditada, mas logo saiu andando pela caçada.

Desci do degrau da porta e andei pela calça. Trevor olhou para mim pelo retrovisor e saiu do carro quase que na mesma hora. Tudo para que? Para dar a volta e abrir a porta para mim.

ㅡ Ta tudo bem? ㅡ Perguntei antes de entrar no carro.

ㅡ Sim, minha linda. Você quem não parece muito bem. ㅡ Ele acariciou o meu braço e eu abaixei a cabeça. ㅡ Quer conversar? ㅡ Concordei e nós entramos no seu carro.

O veículo ficou em silêncio por alguns segundos até eu tomar coragem de falar. Eu estava com medo de falar? Não, só que o desânimo que eu estava me fazia não querer falar sobre o que aconteceu. Não sei explicar, é só que quando estou desanimada, prefiro ficar em silêncio.

ㅡ Minha mãe apareceu no estúdio hoje. ㅡ Trevor arregalou os olhos.

ㅡ O que? Ela... Te fez alguma coisa? ㅡ Virou-se para mim preocupado.

ㅡ Não, ela só ficou falando que sentia muito e que estava com saudades de mim. Disse que me amava e que se arrependia. ㅡ Segurei minhas mãos em meu colo.

ㅡ Acha que é verdade?

ㅡ Não. ㅡ Balancei a cabeça. Abaixei o meu rosto e me peguei chorando. Eu estava segurando tanto as minhas emoções durante o dia que desabei ali sem nem perceber.

ㅡ Sophia... ㅡ Trevor me puxou para ele e me abraçou, me deixando chorar em seus braços. ㅡ Não fica desse jeito. Parte meu coração.

ㅡ Desculpa... ㅡ Minha voz saiu trêmula. ㅡ Eu só quero ter paz. Só isso. ㅡ Olhei para ele com olhos embaçados pelas lágrimas. ㅡ Eu sou muito insegura, Trevor. Qualquer comentário negativo de qualquer pessoa que seja, me abala. E acho que isso é por conta do que sofri com a minha mãe. Ela me fazia sentir que eu não servia para nada e eu carrego isso comigo até hoje. Eu não sei o que fazer... ㅡ Abaixei a cabeça e chorei mais. Trevor tocou a parte de trás da minha cabeça com a sua mão e me deixou ficar ali. ㅡ Como eu faço pra superar o meu passado? ㅡ O olhei novamente.

ㅡ Eu não sou nada bom com essas coisas. Mas, acho que o melhor jeito de superar é... Enfrentar. ㅡ Ele me observou por uns segundos e tocou a minha bochecha com a sua mão. Fechei os meus olhos e deixei que ele me beijasse. Seus beijos me faziam esquecer tudo e eu queria muito poder esquecer tudo por alguns segundos.

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora