32_ Tudo desabou

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Trevor acabou recebendo uma ligação assim que voltamos para a casa. Ele ficou na varanda, falando com sua mãe, e eu fui dar uma olhada nos animais. Estávamos numa " fazenda " e tudo o que eu tinha visto até agora eram cães e gatos.

Me aproximei de um lugar onde tinha galinhas. Galinheiro é o nome? Enfim, foi impossível não lembrar do Patrick e daquela noite no parque. Não entendo muito de galinhas, não sei como se chama atenção, não sei do que elas gostam e nem diferenciar os machos das fêmeas. Acabei seguindo um pouco mais até chegar numa área fechada com unas espécies de pássaros que eu também não conheço. Sei que uns ali eram os famosos tô fraco. Também sei que o nome deles de verdade não é esse, mas não sei o nome de verdade. Notemos que não sou nada inteligente com ralação a bichos.

Tinha também uns gansos, alguns coelhos, cavalos, que eu particularmente tenho um bocado de medo, também vi algo que me pareceu um pavão, mas ele estava longe e eu não quis me aproximar para ter certeza.

Foi quando eu o vi... O bode/cabra/cabrito/carneiro ou sei lá o que era, também não sei a diferença. Também não parei para pensar nisso na hora, pois minha preocupação foi com o fato dele estar solto.

Eu congelei no meu lugar. Prendi a respiração com o susto e comecei a dar passos lentos para trás. Ele é perigoso? Não sei, mas não quero saber também. Se esse bicho corre atrás de mim eu morro do coração antes de conseguir correr dele.

Voltei devagar para perto da casa e assim que pisei na varanda, corri para dentro e fechei a porta.

ㅡ O que foi, menina? ㅡ A avó do Patrick estava sentada no sofá e olhou para mim sem entender a minha provável cara de pânico.

ㅡ É... ㅡ Pensei em arrumar uma desculpa, mas suspirei me soltando da porta e resolvi falar a verdade. Mesmo que ela me ache uma doida. Ou estranha. ㅡ É que eu tenho medo de bode/cabra ou seja lá o que for aquele quadrúpede andando solto lá fora.

ㅡ A Gertrudes? Ah, ela é uma cabra adorável. ㅡ A senhora sorriu, porém, não consegui sorrir junto, o que a fez parar de sorrir e parecer preocupada. ㅡ Oh, você tem medo mesmo? ㅡ Se levantou do sofá. ㅡ Ô velho!! ㅡ Ela gritou olhando na direção da porta da cozinha. ㅡ Prende a Gertrudes!

ㅡ Não, não precisa. ㅡ Dei um passo a frente. ㅡ Se ela é acostumada a ficar solta, não se deve prende-la por minha culpa. Eu tento ficar... Longe dela.

ㅡ Esquece, velho! ㅡ Ela gritou de novo.

A senhora voltou a se sentar e eu decidi subir ao andar de cima. Entrei no quarto e me sentei na cama, virada na direção da janela. Fazia cerca de vinte e quatro horas que eu estava ali, mas já estava morrendo de saudades de casa. Eu amava estar sozinha na minha casa, na minha paz. Era bom estar ali? Óbvio, era um lugar maravilhoso, mas nada como a minha casa.

ㅡ Ok... ㅡ Puxei o meu celular na intenção de voltar ao foco na minha vida. Eu ainda tinha que ensaiar a coreografia para o tal vídeo, nem me lembrava do prazo. De qualquer forma, na segunda já quero estar com ele filmado e editado para mandar para a Mônica.

Porém, me lembrei do tal perfil que criaram e resolvi procurar mais uma vez. Não encontrei. Certamente esse tal amigo do Trevor conseguiu tirar o perfil do ar.

Trevor... Eu estava tão nervosa com aquela situação que mal parei para reparar no quão irritado ele ficou com aquilo. Parecia até que o perfil falava dele.

Eu estava sorrindo... Estava sorrindo de novo só de pensar nele.

Voltei meus olhos para a janela novamente e o vi, ainda falando ao telefone enquanto andava pelo campo. Ele falava, sorria, ouvia, ria, mexia numas plantas, até tirou uma pequena flor cor de rosa de um dos arbustos e sorriu para ela.

ㅡ Ok! ㅡ Me levantei quando notei que estava enrolando de novo e saí do quarto. Procurei um lugar pela casa que fosse vazio o suficiente para não correr risco de eu esbarrar em algo e quebrar.

Acabei ficando naquela varanda enorme que tinham as redes. Por algum motivo elas não estavam abertas, então deixou um espaço ainda maior.

Me sentei no chão para me alongar enquanto escutava a música mais uma vez. Pausei assim que escutei alguém se aproximar pelo jardim ao lado da casa.

ㅡ Mãe, a gente pode falar em inglês... ㅡ Trevor riu falando ao telefone. Ele caminhava distraidamente por ali, chutando alguns pequenos gravetos e girando a flor na mão com o dedo indicador e o dedão. ㅡ Eu sei que a senhora quer aprender o português, mas fico três minutos pensando e tentando entender o que a senhora disse. ㅡ Ele ficou um tempo em silêncio e voltou a rir. ㅡ Tudo bem, a gente fala em português. ㅡ Balançou a cabeça. ㅡ Não, ainda estou no sítio do amigo da Sophia... É, é muito bonito. E bem diferente da nossa casa aí na Califórnia. É mais... Puro, não sei... Eu acho que ela vai participar, sim, ela estava ensaiando na CA. Seria legal se ela fosse escolhida, eu poderia apresentar ela pra senhora... ㅡ Ele está falando de mim? Está falando de mim para sua mãe? Está falando de me apresentar para sua mãe? ㅡ Não, mãe, eu não posso, seria trapaça usar a minha influência para ela ser escolhida, não posso fazer isso com ela. E... Eu confio no talento dela, ela não precisa da minha influência. ㅡ Meu coração deu uma palpitada de novo. ㅡ Não precisa me lembrar... ㅡ De repente, ele parou de sorrir. ㅡ Eu sei que não posso me envolver com ninguém daqui, porque vou embora daqui um tempo. ㅡ Meu coração parou de palpitar. Quase parou de bater, na verdade. ㅡ Eu vim aqui para me aperfeiçoar na dança e to fazendo isso. Daqui um tempo eu vou embora e... Certamente não voltarei a vê-la. ㅡ Meus ombros se abaixaram com a frustração. ㅡ Então... Não se preocupe com isso. Não vou partir nem o meu... Nem o coração dela.

Eu já tinha sentido a sensação de tudo desabar a minha volta. Uma vez, caí no palco no meio de uma apresentação muito importante e essa foi a sensação. Também senti quando convenci minha mãe a me deixar fazer uma audição na CA e não passei. Também senti quando li os posts ontem e lembrei do meu passado. É como se a terra me engolisse, me sufocasse. Era isso que eu estava sentindo. E estava sentindo porque percebi que entre Trevor e eu nunca aconteceria nada.

Tudo desabou...

•••
Continua...

Te Pedi para a Estrela CadenteOnde histórias criam vida. Descubra agora