Meio-fio tá aí, cai quem quer

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Vesti minha blusa do Patinhas, me olhando no espelho pra prender o cabelo num rabo de cavalo, até Milena dar um berro lá da sala:

— Gabe! O Nathaniel tá aqui!

Deixei o cabelo preso na metade, ainda ficou bagunçado em cima, e corri pra fora do quarto.

Totalmente anormal o Nath vir aqui tamanha seis e quarenta, sendo que marcamos no parque, com todo mundo, às oito. Da mesma forma que é anormal ele me ligar ontem a noite mais cedo do que de costume, e ir dormir cedo também – e olha que ele dorme tarde às vezes – outra coisa, foi que ele ficou calado durante um bom tempo, então eu perguntei “cê tá usando meia?”. Sensata? Claro. Ele riu um pouco, e não, não estava usando meia.

- Fica à vontade, Nath – mamãe disse, voltando pra cozinha.

- E aí, ‘Thaniel.

Ele suspira, sentando no sofá. Fiz bico, sentando do seu lado com cara de pombo do WhatsApp.

- Aconteceu alguma coisa?

- O de sempre.

- Eu não sei qual o de sempre. Na verdade, eu não sei bem quais problemas você enfrenta, porque você nunca age diferente comigo.

- Meu pai – falou em tom baixo.

Desviei o olhar pro chão assim que ele me encarou. Pensando em muitas coisas que poderiam acontecer e que pudessem atormentar o Nathaniel. Nenhuma me parecia plausível.

- O que tem ele?

- Lembra de ontem? Que eu ficava vendo as horas no celular a todo momento? – balanço a cabeça – Meu pai é rígido demais. Eu gosto quando você vai lá em casa, mas ele pode ser desagradável, então eu estava me preparando psicologicamente pra quando ele chegasse.

- É, eu nunca vi seu pai na vida.

- Ele detesta qualquer coisa que eu faça, e ontem pra mim foi o auge – bufou, engoli seco antes de perguntar:

- O que houve ontem?

- Ele ficou sabendo do Patinhas e disse que me queria fora do projeto.

Apertei a beira da minha blusa, de cabeça baixa.

- Por isso você estava tão estranho ontem a noite... e está aqui tão cedo.

- Eu saí antes dele, e fiquei na praça, então decidi vir aqui.

- Mas o Patinhas...

- Eu não vou sair do projeto. – Mostrei um sorriso fraco, e estendi a mão pra segurar a sua.

- Não vai arranjar problemas?

- Não é como se eu me importasse – deu de ombros, balancei a cabeça e belisquei a mão dele – Ai! Que foi?

- Deu vontade – foi minha vez de dar de ombros – Já que você não se importa, também não vai se importar de tomar café da manhã aqui, vai?

- Eu já tomei.

- Mentira.

Levantei num pulo, puxando o McCullen pela mão até a cozinha e anunciei pra minha mãe que ele iria tomar café da manhã com a gente. Ele fez careta pra mim. Mostrei língua, e ele riu.

Depois do café, Nathaniel e eu saímos, pra fazer absolutamente nada porque tava cedo, então ficamos andando lentamente pela rua. Subi no meio-fio, me apoiando no ombro dele, com o outro braço esticado.

- Eu ainda tô esperando o relatório matinal.

Quase tropeço em meus próprios pés, perdendo o equilíbrio. Ai, droga!

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