A mulher parece nervosa e confusa no início, Sauron pensa, enquanto analisa uma das duas principais peças no jogo que ele estava prestes a por em andamento. Sob a luz de velas, ele continua a explicar sobre a geografia da Terra-Média, história, política e alfabetizando-os.
Anya e Zirgur eram seu plano de contingência. Ele estava preparando-os, lapidando-os para serem seus comandantes. Zirgur seria a força física, embora ele não negligenciasse os aspectos intelectuais do orc (surpreendentemente, ele era inteligente, para um orc) e Anya seria sua estrategista, mesmo que ele também esteja ensinando-a a se defender e empunhar armas. Nenhum deles passaria por um treinamento menos que excelente para os propósitos que ele tinha em mente. Então, ambos se tornaram sua sombra, com a missão de observar, ficar ao lado dele, aprender, até que estivessem prontos. Eles ainda não sabiam para quê; isso era algo que Sauron explicaria no momento certo.
Os três estavam em rotina militar. Sauron estava se preparando duplamente para guerra, cobrindo tudo que possivelmente pudesse dar errado.
Uma rotina que foi certamente súbita para orc e mulher, embora não fosse percebida por ninguém que Sauron não quisesse. Ele ainda era um mestre em discrição – não foi à toa que passou séculos como espião para seu mestre, Morgoth, na terra abençoada. Se os próprios Valares não desconfiaram de seus esquemas, ninguém mais descobriria o que ele planejava.
Eles estavam em menor quantidade agora também, o que lhe convinha perfeitamente. Saruman havia levado seu exército de orcs para dominar Rohan, e agora mesmo eles provavelmente estavam pilhando, destruindo e subjulgando seus habitantes, após a espera.
Mais alguns meses. Ele precisava deixar os sobreviventes e a resistência apenas desesperados o suficiente.
Então, o momento certo para apresentar seus comandantes secretos chegaria.
*
Meus comandantes.
*
Cuidado com o que deseja, dizem. Éowyn agora entendia esse ditado. Seu sangue ardia em empolgação naquele momento de batalha, valores como coragem e ousadia lhe enchendo todo corpo, uma vontade flamejante de proteger seu povo.
Mas o momento de batalha passou, a sensação vertiginosa de vitória sob o oponente acabou.
Eles perderam.
Seu povo, humilhado e subjulgado, feitos cativos na própria terra, aqueles orcs nojentos sob comando do Mago Branco causando destruição e brutalidades à todos, velhos e crianças, mulheres e homens. Ela escapou – seu irmão a tirou da batalha, e ela teve orgulho de ter sido teimosa na época, mas agora se envergonhava por sua imaturidade. Havia um tempo para lutar e havia um tempo para recuar e lutar outro dia, ela aprendeu após um tempo.
Sua fé não esmoreceu.
Mesmo quando seu pai em tudo menos no sangue consentiu com a perseguição, quando se submeteu à Saruman, quando prometeu a mão dela à Gríma, sem lhe consultar. Ela sabia que tinha que ser magia negra. Não havia outra explicação no mundo para que seu rei agisse daquele modo.
Então ela sobreviveu, junto com as tropas de seu irmão e com uns poucos sobreviventes que não foram feitos cativos, como andarilha, mais guerreira que nobre, em parte alcançando aquilo que almejava, de ser reconhecida por sua bravura e começar a fazer um nome em campo, em parte com uma fúria e tristeza pela injustiça de tudo aquilo.
Éowyn achava que ser uma mulher da nobreza em Rohan era ser acorrentada. Ela só via as coisas que lhe irritavam, como o de não ser ouvida, de ser diminuída, de não poder viver todo seu potencial... mas em algum momento naqueles meses, quando ela já tinha saciado um pouco daquela vontade de ser reconhecida nas lutas com seu irmão, quando as mãos sujas de sangue dos oponentes já tinham sido lavadas uma e outra vez após vários e vários pequenos confrontos de resistência, quando ela cuidou dos feridos - seus companheiros de armas, as mulheres e crianças que se refugiavam com eles, o povo dela...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Beyond Duty and Blood
FanfictionExiste uma nova criatura perigosa na Terra-Média. Legolas sabia que não era sábio procurar ser amigo de algo tão perigoso. Mas, novamente, também não era sábio para um elfo se tornar amigo de um humano e lá foi ele e o fez de qualquer forma. Então...