O Olho

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O gosto acobreado em seus lábios já se tornou familiar. Ela tosse, uma e outra vez, arfando com a dor que mesmo esse movimento lhe traz. Seu cérebro está letárgico e ela não tem certeza de quando a inconsciência vai reivindica-la outra vez, então ela se concentra em pensar nos fatos, tentando se manter sã o suficiente para passar por aquela tortura.

"Meu nome é Kana Uchiha. Dezessete anos. Ninja de Konoha. Infiltrei-me em Isengard e fui capturada por elemento hostil. "

Uma brisa suave se faz, e ela capta o odor de fogo, árvores queimadas. Ela pode ouvir ruídos venenosos que ela passou a associar com aquela língua sórdida dos orcs.

"Missão de assassinato falhou. O alvo, Saruman, de alguma forma conseguiu ressuscitar ou me enganar para pensar que ele estava morto. Eiko, Katsuo e Riki Uchiha foram capturados. Localização das vítimas: desconhecido. Hipótese: em algum lugar da Torre. Status das vítimas: reféns ou mortos. Hipótese mais provável: vivos, dado que ele queria nos usar como armas."

O calor se infiltra apesar das camadas de roupa, onde ela pode sentir as bolhas de queimadura raspar contra o tecido da roupa.

"Minha condição: acorrentada por algum tipo de magia que suga chakra constantemente. Mantida à beira da exaustão chakra. Alimento e água mínimos, o suficiente para não morrer. Pulsos, tornozelos e costas perfurados pela corrente. Queimaduras de sol e frio. Dificuldade para respirar, costelas quebradas, reflexos e pensamentos lentos..."

Kana faz uma pausa, momentaneamente hesitando em até mesmo pensar nisso. Mas ela precisava aceitar e seguir em frente.

"...e cega."

É uma coisa amarga de engolir. Kana tenta não pensar muito nessa condição, não naquele momento, não naquele lugar.

"Quando você estiver segura com Eiko, Riki e Katsuo, você pode pensar sobre isso. Até lá, não dê a satisfação de chorar em território inimigo."

Então a Uchiha pensa, tentando encontrar uma solução para seu estado de cativeiro. Kana testa suas correntes várias vezes, suportando a cada movimento brusco um pouco mais de seu chakra sendo drenado, e o que estava prendendo-a se ficando ainda mais.

Ela não desistiu, no entanto. Em algum lugar, suas crianças, sua família precisava dela.

Não havia nada a fazer a não ser esperar, especular e passar por aquilo. Se ela estivesse certa, Saruman tentaria convencê-la a se juntar ao exército dele novamente, esperando que a experiência de tortura física e psicológica mudasse sua mente.

Ela era uma ninja, no entanto. Ela era feita para ser quebrada, uma e outra vez, e permanecer fiel à missão. Ela já havia passado por isso e provavelmente passaria de novo no futuro, porque essa era vida de um ninja.

Mas Saruman não sabia disso porque não há ninjas na Terra-Média.

Uma hora, ele cometeria um erro.

Então ela espera.

*

Kana não está mais sozinha.

Há alguém na Torre, alguém que ela não conseguia captar o som de correntes a se arrastar, o que significava que não estava preso, alguém cujo poder ela podia sentir, alguém que era um inimigo de Saruman.

"O erro de Saruman."

Ela quase sorri de canto, mas mantém sua expressão cuidadosamente neutra e a respiração o mais suave possível, atenta aos barulhos que o outro faz. Ela supõe que seja um homem, pelos gritos que ecoaram anteriormente. Por um longo tempo, tudo que havia eram suspiros e alguns gemidos de dor e traição tão expressivos que era desconcertante de ouvir.

Beyond Duty and BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora