Meu calcanhar tamborilava no chão em ansiedade. De vez em quando levando os dedos até a boca, mordiscando a unha de meu polegar. Admito que na minha infância isso era um hábito recorrente, mas com o tempo fui me policiando para que parasse de roer as unhas até que a frequência com que fazia diminui consideravelmente, exceto nos momentos de grande ansiedade e estresse.
Nova, a bailarina a minha frente apresentava uma coreografia de "immortality", de fato uma apresentação fascinante. Concentrada apenas em fazer melhor, eu precisava dessa bolsa pra sair deste pequeno inferno, era tudo o que eu precisava.
— Dorothy Schneider! — Os olheiros fizeram seu comentário a respeito da performance da moça e em seguida meu nome foi chamado.
Respirei fundo quando Nova, passou por mim, com um sorriso torto e olhos traiçoeiros, por um momento pensei que ela tivesse aprontado alguma coisa, já que seu hobby é me perturbar e me humilhar desde a quarta série, devido a nossa extrema diferença quando se tratava de classe social. Franzi o cenho em dúvida, mas logo prossegui à frente.
"My Way" iniciou-se, e meu corpo foi seguindo a coreografia. Dei meu melhor, controlando minha respiração, tudo ia bem, quando sinto minha sapatilha escorregar, olhei rapidamente para meu pé, percebendo minha sapatilha desmanchando.
Merda.
Segui minha dança, até que não pudesse, mais ouvir a voz de Elvis Presley, com minha sapatilha completamente desmanchada, Nova, desgraçada, foi ela, eu tenho plena certeza.
— Bom... — Iniciou Sr. Haywood. — Sua apresentação foi fenomenal, mas indico que cuide melhor de seus instrumentos. — Encaro o chão, sentindo a raiva ferver meu sangue, poderia até mesmo arrancar os pés de Nova.
Mais alguns comentários a respeito de minha coreografia, porém, nada mais me afetava, um "erro" como este era o suficiente para me fazer perder minha tão desejada bolsa para a faculdade. Enfim fui dispensada.
Andei com os pés firmes no chão na direção de Nova, que ria com as outras bailarinas contando orgulhosa seu feito no camarim, depositei um murro no rosto da moça que em seguida cai com o nariz sangrando. As meninas se viraram para ela preocupadas, mas apenas arranquei meu casaco e minha mochila do armário e sai do local.
(...)
Fui para o McDonald's, meu trabalho da tarde. Pus a pequena boina da empresa com a blusa por cima da camiseta que usava. Atendia o caixa com a feição irritada e o punho dolorido, sabia que era pelo soco, mas não me importei.
— Sra. Schneider, ajeite essa cara, está assustando os clientes! — Disse Sr. Holland, meu chefe, agarrando meu braço.
— Desculpe.
— Dod's?! — Ouvi meu apelido ser chamado, me virei encarando outra funcionária com o telefone em mãos. — É pra você!
Segui à frente pegando o aparelho e pondo no ouvido, Sra. Phillips, minha chefe do meu segundo emprego. A senhora avisava que sairia para uma conferência em Vegas e que eu não precisaria ir esta noite, conhecendo-a sabia que sua "conferência" não passava de uma noite de jogos de azar.
O relógio marcava sete da noite, meu horário, me despedi, e deixei meu uniforme no armário com meu nome. Peguei um táxi indo de volta pra casa. Um conjunto de prédios acabados num campo enorme, paguei o táxi e caminhei para a escada da esquerda, chegando ao pequeno apartamento. Abri com certa dificuldade a porta e entrei, vendo meu pai jogado no chão, com sua rotineira garrafa de cerveja na mão.
– Pai? Vamos, vou te levar pra cama.
Geralmente ele responde resmungando e vai mancando para a cama, se jogando lá, com a roupa do dia, fedendo a cerveja, mas desta vez ele nem se quer se mexeu. Estava tão exausta que simplesmente ignorei e fui me deitar.
(...)
Mais uma manhã em minha miserável vida. Acordo com o som do despertador e a luz do sol que invadia meu quarto chegando aos meus olhos. Levanto cambaleante, esfregando os olhos, no banheiro, escovo os dentes e prendo meu cabelo num coque mal feito. De volta a sala, ainda sonolento tropeço em algo, no chão, meu pai, permanece ainda no mesmo local que na noite anterior, engoli em seco e me voltei para o mais velho.
– Pai?
Digo balançado o homem, que antes de bruços se vira para frente, me dando visão a seus braços, tendo em um deles uma agulha, heroína. Arregalo meus olhos assustada.
– Pai?! Pai?! – Começo a gritar ainda o sacudindo.
Puta merda.
Corro até o interfone discando o número do hospital mais próximo.
"– Los Angeles Community Hospital?
– Alo? Por favor, meu pai, meu pai teve uma overdose, preciso de ajuda! – Digo quase gritando com a moça do outro lado da linha.
– Ok querida, por favor mantenha a calma, onde você está?"
Disse meu endereço e desliguei, já não tinha mais esperança alguma de que meu pai ainda estivesse vivo. Não conseguia ficar quieta então fiquei andando de um lado para o outro com os dedos na boca mastigando minhas unhas.
Meu bairro tinha a má fama de prostituição, drogas e álcool, então quando se tratava dele, hospitais ou ate mesmo policiais não tinham pressa alguma. A ambulância demorou cerca de 40 minutos para chegar em casa. Fizeram todo o procedimento de ressuscitação, mas tudo em vão, deram ele como morto, e me levaram para a delegacia para dar meu depoimento do ocorrido.
Um dia inteiro de estudo, trabalho e dança todo gasto numa delegacia dando um depoimento de como meu pai morreu. Repeti a história tantas vezes que já estava ficando irritada, fui liberada por volta das cinco da tarde, fui pra parada de ônibus, que chegou minutos depois da minha chegada, encostei minha cabeça no vidro e a exaustão era tamanha que peguei no sono ali mesmo.Acordei agarrada a minha mochila sendo perturbada pelo motorista, sai do ônibus cambaleante, e entrei no apartamento, ainda com o cheiro insuportável de cerveja. Me joguei na cama e apaguei, sem ter derramado um lagrima se quer ainda.
Sempre ouvi dizer que jardins bem cuidados costumam envolver casas felizes, não é atoa que na minha nunca floresceu uma flor se quer.
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Olá pessoas.
Mais um dia, mais uma fanfic nova do belíssimo Bill Kailitz.
Os capítulos serão postados um dia sim e um dia não, com a revisão cedida por @solaceversion.
Espero de coração que gostem da fanfic.
Um beijo grande e até a próxima.
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You Dream Of The End - Bill Kaulitz
RomanceEra tudo guardado em meio aqueles malditos olhos, mas num tom sem vida alguma, guardando toda a mágoa, tudo que mais doía nela, curada por olhos castanhos que enxergava e curava toda sua dor, a sapatilha vai aguentar? O microfone vai quebrar? As flo...