Desliguei a ligação abruptamente, e segui até o quarto de Violet em silêncio, peguei um dos tacos de golfe na ponta da sala, provavelmente de seu padrasto. Subi as escadas lentamente indo até o quarto da menina. A porta se encontrava entreaberta, dei uma leve batida na porta com o taco e adentrei.
— Vi? — Quando abri a porta vi a garota sentada numa cadeira em frente a uma penteadeira com o espelho estraçalhado. — Deus, o que aconteceu? — Disse soltando o taco e me aproximando.
Ela permanecia estática, olhando para o espelho todo quebrado, com os olhos cheios de lágrimas e as mãos cortadas pelo vidro tremendo.
— Dorothy... — Ela sussurrou com o queixo tremendo. — Eu vejo ele... no espelho... eu vejo ele... — Falou com as lágrimas rolando pelas bochechas.
Me ajoelhei ao seu lado pegando suas mãos, ela permanecia com o olhar na vidraça.
— Quem é ele? — Perguntei a olhando de baixo.
— Henry... Henry... — Não sabia quem era, mas sem dúvidas era alguém importante o suficiente para dar a Violet motivo para chorar.
Ela chorava sem parar, soluçando e sangrando, com uma ferida no rosto e algumas nas mãos. Peguei um lenço encima da cômoda e limpei suas feridas.
Não fazia ideia de como consolar alguém, nunca precisei fazer nada além de preparar um chá para ressaca e levar a pessoa pra cama, no caso meu pai. Mas creio que um chá não irá resolver esse problema.
Mordia minha bochecha tentando pensar em algo para fazer e fracassando miseravelmente. Me cedi a única opção que me parecia válida, um abraço. Me aproximei da moça que soluçava a envolvendo em meus braços, meio desengonçada, dando leves batidinhas em suas costas.
— Vai ficar tudo bem Vi! — Afirmava em voz baixa, deixando a menina se acalmar em seu devido tempo.
(...)
Era a primeira vez que vira Violet tão atormentada assim, imagino que tinha algo haver com a batida, ela começou a ficar atordoada desde aquele momento. Desci e peguei um copo de água com açúcar para a moça, entreguei a ela que estava no andar de cima com o rosto vermelho e inchado.
— Obrigada! — Disse dando um gole na água fungando um pouco.
Peguei uma cadeira e pus a frente da moça que estava sentada na ponta da cama.
— E então, quer conversar sobre isso? — Perguntei fazendo contato visual com a menina.
— Acho que eu preciso... mas não sei por onde começar... — Ela disse encarando o copo no seu colo.
— Por que não começa me contando quem é Henry? — Ela voltou o olhar para mim e suspirou.
— Ele é meu irmão, irmão gêmeo.
Não lembro de Violet ter mencionado alguma vez um irmão mas permiti que prosseguisse.
— Ele morreu quando eu tinha onze anos. Num acidente de carro. Ele bateu a cabeça muito forte no vidro. Não sobreviveu apesar dos médicos terem feito de tudo. — Senti o peso na fala dela.
Nunca pensei que alguém tão doce e brilhante quanto Violet pudesse ter um passado tão obscuro. Segurei a mão da moça em forma de apoio e ela continuou.
— Meu pai estava no carro com ele, ele se culpou pela morte do meu irmão, a esquizofrenia dele foi piorando mais e mais com o tempo.
Isso me lembrou do meu pai, mas ao invés de um irmão foi com o seu amor, que escolheu deixá-lo, que escolheu nos deixar.
— Minha mãe ficou com minha guarda, pediu o divórcio e internou meu pai, pouco tempo depois ela casou com o traste do meu padrasto que nos trata como lixo. — Disse apertando minha mão. Nunca pensei ver com raiva, seus olhos fumegavam só de falar nele. — Quando me olho no espelho, as vezes vejo Henry do outro lado, como meu reflexo. — Explicou voltando o olhar pra cômoda quebrada. — Aquele acidente mais cedo... foi como o fogo no meu pavio, o suficiente para que como uma bomba eu explodisse.
— Olha, não há nada que eu possa dizer que vá fazer passar a dor da perda de uma pessoa que amávamos.
Não sei se posso citar a morte do meu pai como experiência por que a morte dele pra mim foi como se tirassem um peso enorme dos meus ombros. Não sei se já cheguei a o amar de fato, nem sei dizer se ele me amou, se já me considerou sua filha ou se como ele era para mim, um peso morto.
— Só sei que podemos substituir as memórias ruins pelas boas, lembre-se do seu irmão com carinho e não com pesar. Tenho certeza de que ele te amava muito Violet, afinal, como não amar. Você é incrível. Não merece tudo isso. Não deixe que seu passado destrua quem você é.
Falei com um sorriso meigo, me sentindo extremamente foda e sábia por dentro. Quem diria que uma pobretona como eu, teria alguma sabedoria para dar.
— Uma vez alguém me disse que não precisamos viver reféns do nosso passado. Que podemos escolher fazer nossa própria felicidade. — Disse lembrando das palavras de Bill para mim naquele fim de tarde. — Agora você escolhe, quer viver triste olhando pra trás, preocupada com o que já passou ou quer olhar para frente e ver o seu futuro, e fazer dele o melhor possível? O que me diz?
Ela baixou a vista com lágrimas nos olhos, e então voltou a me olhar, pondo um sorriso no rosto.
— Eu quero olhar pra frente! — Disse com a voz embargada.
— Bom, pois eu vou estar com você a todo momento! — Disse e ela soltou um sorriso maior ainda pulando em meus braços e me abraçando.
Diferente do que eu achei que iria me sentir eu me senti leve, seu abraço não foi desconfortável e sim acolhedor, nós dividíamos um peso, um demônio e íamos nos apoiar uma na outra até o fim.
Do lado de fora da casa começou a trovejar e de repente a chuva recaiu dos céus, a menina olhou para a janela percebendo o tempo, levantou num pulo agarrou minha mão e me puxou escada abaixo.
— Ei! Vi! O que tá fazendo?! — Falei em dúvida.
— Indo dançar com a chuva! — Afirmou com o tom excêntrico e cheio de vida voltando a sua voz.
Ela arreganhou a porta da frente e se pôs diante da chuva.
— Vem Dorothy! — Disse rodopiando na rua.
— Você tá maluca? Quer pegar um resfriado? — Disse sentindo o ar frio da noite.
— As melhores pessoas são aquelas com uns parafusos a menos! — Sorri, lembrando da afirmação que eu mesma geralmente uso adaptada.
Pus um pé à frente e senti meu corpo molhar pela chuva, senti a água passeando pelo meu corpo, fechei os olhos e me vi com um enorme sorriso no rosto.
É engraçado como coisas simples como um banho de chuva podem mudar completamente nosso dia.
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Chegaste ao final do capítulo!
Mais um pouco sobre a Violet, sobre sua história e passado sofrido, amo ferrar com o psicológico dos meus personagens e leitores 🤩
@dixx_let foi quem inspirou a Violet, quem está dando vida a essa personagem cativante.
Bom agora até quarta queridos 🫶
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You Dream Of The End - Bill Kaulitz
RomanceEra tudo guardado em meio aqueles malditos olhos, mas num tom sem vida alguma, guardando toda a mágoa, tudo que mais doía nela, curada por olhos castanhos que enxergava e curava toda sua dor, a sapatilha vai aguentar? O microfone vai quebrar? As flo...