Onze. Meu não tão querido demônio

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A semana passou tão lentamente, só sai do meu quarto por um motivo, o trabalho, Violet tentou me chamar pra sair, pra conversar mas neguei a todos os chamados. Bill e eu não nos vimos desde de o dia do incidente, eu queria esvaziar minha mente e esquecer tudo.

Vendo do ponto de vista de qualquer outra pessoa não passa de um acidente, mas do meu, vendo por tudo o que já passei era amedrontador, sei que ele não fez nada e acredito que não seria capaz de fazer mas uma parte de mim tem medo de que possa vir a acontecer.

Nunca fui alguém de se admirar, sempre fui completamente invisível aos olhos de todos que passaram pela minha vida, a única pessoa que cheguei a de fato reconhecer como um amigo foi a Sra. Quinn, que era uma viúva que vivia junto de dezenas de gatos. Uma vez quando tinha quinze anos teve um garoto que foi a uma das minhas apresentações me chamou depois detrás do camarim.

Na época eu e meu pai estávamos passando fome e muitas dificuldades, ainda mais que o normal e não era segredo pra ninguém a minha situação financeira, todos sabiam onde eu morava e a fama de quase mendiga que eu tinha.

O nome do garoto era Jack Harris. Foi com ele que tive meu primeiro beijo, eu havia virado sua putinha particular, não queria ser visto comigo, não queria ser visto com a menina pobre. Não estava especificamente apaixonada mas por algum motivo eu gostava daquilo até que o dia que ele me ofereceu trinta dólares pra abaixar suas calças. Eu não queria, e para muitos aquilo poderia ser uma mixaria mas pra mim significava uma refeição.

Fiz isso por umas duas vezes até que ele quis mais, e mais, e então, numa tarde no vestiário masculino de futebol, Jack me chamou e me forçou a transar com ele, ele me estuprou e me espancou, mas mesmo assim jogou cinquenta dólares encima do meu corpo desacordado e repleto de hematomas.

Voltei para casa destronada e me sentindo podre por dentro, eu o odiei muito pelo que fez, mas acima de tudo eu me odiei por permitir que aquilo acontecesse. E quando cheguei apanhei mais ainda do meu pai por ter apanhando de outro alguém.

Esse era o meu demônio. Meu passado, meu pai, Jorge Moore, Jack Harris, meu trauma. Eu precisava quebrar a coleira, o quanto antes.

— Toque-Toque? Alguém em casa? — Ouvi a voz da tia Marie na porta sorri e pedi que entrasse. — Oi querida. — Disse sentando na ponta da cama acariciando minha perna com o polegar.

— Oi titia. — Respondi.

— Oh meu amor, não quer me contar o que aconteceu enquanto eu estava fora? Quando sai estava com um sorriso enorme, onde é que ele foi parar? — Ela disse segurando meu queixo. — Sei o quanto deve estar sendo difícil Dorothy, a mudança de vida, a volta pra Alemanha, a morte do seu pai. Foi demais. Você está sendo muito forte querida, muito, e eu não quero lhe forçar a nada, quero que seja tudo no seu devido tempo. Só quero que saiba que eu lhe amo muito, ok?!

— Ok, obrigada tia, você é incrível! — Ela sorriu.

— Bom então por que não me faz um favorzinho e vem comigo até a cozinha e bate uma boa pratada de comida ein? Não te deram de comer enquanto eu estive fora? — Ela riu e me arrastou para baixo.

Comi um prato de panquecas com café, não tinha noção da fome que eu estava. Tia Marie passou cada segundo olhando para mim e tagarelando sobre como foi a sua viajem a negócios para o exterior.

— Eu estava tão ocupada e aquela maluca não parava de meu encher o saco... Ah, olá Bill. — Disse cortando sua fala, olhei para trás e vi o rapaz de cabelos escuros e mechas esbranquiçadas.

Merda.

Não sabia como olhar pra ele, não sabia o que falar com ele, queria ser invisível, mas pra minha má sorte eu não era.

— Posso te ajudar com alguma coisa querido? — Perguntou tia Marie sorrindo simpática.

— Agradeço mas não precisa Sra. Listing.

— Sua mãe fez um ótimo trabalho na sua criação e na de Tom, são meninos ótimos! — Afirmou e o garoto sorriu.

— Obrigado! — Ela entendeu o recado, ela fingiu ir até o quarto de Anelise pra guardar umas roupas, e Bill veio até mim. — Olha, Dorothy... a gente pode conversar? — Então ele falou a frase que eu menos queria ouvir.

— Uhum. — Pus o prato na pia e pedi que me seguisse.

Fui até meu quarto e a sacada, sentei no parapeito como de costume e ele me acompanhou.

— Não vai pular né? — Falou se referindo ao dia que nós conhecemos.

— Ainda estou pensando sobre isso. — Ele olhou em duvida mas não quis detalhes.

— Dorothy, me desculpa, por favor, não devia ter gritado com você, achei que fosse Tom, ele é fã de fazer isso. — Disse tentando por uma pitada de humor na conversa, percebendo que não estava indo adiante. — De verdade, eu não queria ter te feito sentir mal.

— Bill. Você não é culpado. Desculpa, por ter te chutado e desculpa por ter te deixado preocupado. Eu só me assustei, foi só um mal entendido.

Silêncio. Maldito silêncio.

Apesar de tudo eu sinto que devia uma resposta devida, fora que eu precisava por aquilo pra fora, e confio em Bill para ser meu ouvinte.

— Diferente do que deve pensar da minha vida em Los Angeles, eu vivia tentando sobreviver. Eu já fui estuprada mais de um vez, abusada e objetificada, até mesmo pelo meu próprio pai. Sei que não fez nada, mas quando eu te vi foi a primeira coisa que pensei...

— Dorothy, eu jamais faria isso! — Disse me cortando.

— Eu sei mas é um trauma, eu tenho pavor de homens e a associação foi tão imediata que nem tive tempo de pensar, Bill. Pensei que isso ia acabar depois que meu pai morreu mas não só me sinto cada vez pior.

Disse sem conseguir controlar as minhas palavras, eram coisas que estavam presas a tanto tempo que quando tiveram oportunidade elas simplesmente jorraram de minha boca.

— Isso me machuca tanto, eu queria acabar com isso, mas eu não posso, está é minha maldição, é meu demônio, e vai me seguir até minha morte e não há nada que eu possa fazer a respeito.

Silêncio e então, lágrimas.

- - -

Chegaste ao fim do capítulo!
Pesado, né?! Pois é.
Amo ferrar com o psicológico dos meus personagens 😍
Bom o passado da Dorothy é bemmmmm turbulento, mas ela seguiu, de fato tenho muito o que me orgulhar da minha personagem.
Bom por hora é isso, mais tarde talvez eu lance um capítulo novo.
É isso, bjs. 🥰🤭🤩

You Dream Of The End - Bill KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora