Sete. Perturbacao de sossego

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Quando pisquei os olhos já tinha passado uma semana desde a festa. Acordei nessa manhã com a mesma dor de cabeça incessante que me seguia como uma maldição. Abri a gaveta da minha cabeceira onde guardava alguns de meus remédios, dentre eles o meu para enxaqueca.

Peguei a caixinha de Doril na gaveta balancei para checar se ainda tinha algo e bom, desde que cheguei ele virou quase como um suplemento diário, mesmo sendo um remédio bem forte. Levantei cambaleando, peguei um robe no armário jogando por cima do meu pijama um tanto curto.

Desci e fui direto na cozinha atrás da tia Marie, mas ao invés dela achei um pequeno bilhete dela, endereçado a mim e Georg.

"Fui ao Shopping com Anelise, volto lá pra três horas. Dorothy está no comando!"

E agora? Georg. Minha última opção.

Me dirijo até o quarto do rapaz bato na porta um, duas, três vezes mas apenas recebi um silêncio em resposta. Ele não está aqui. Volto pra cozinha e começo a procurar nos armários, não é possível que não tenha um único analgésico nesta casa.

— Tá fazendo o que aqui? — Ouço a pergunta reconhecendo a voz de imediato, o garoto da sacada, Bill.

— Eu quem diga, o que você está fazendo aqui?

Disse dando ênfase no você, me virando pro rapaz que me olhava com aqueles olhos castanhos que diferentemente da última vez não estavam rodeados de uma sombra preta, na verdade, ele todo estava com uma aparência bem mais comum.

— Eu perguntei primeiro! — Afirmou.

— Voltou para o fundamental? Mas ok, já que insiste, tô atrás de analgésicos e do meu primo inconsequente.

Disse cruzando os braços me lembrando que estava apenas de pijama curto e robe, mesmo assim ele não baixou o olhar por um momento, permaneceu com os olhos nos meus. Que decente.

— Bom quanto os analgésicos eu não sei mas seu "primo inconsequente" está lá em baixo no ensaio da banda, que é o que eu vim fazer aqui.

— Entendo. — Última palavra e então silêncio, mas diferentemente daquela noite era um silêncio um tanto constrangedor.

— Dorothy? Já acordou, tá com fome? — Disse Georg entrando na cozinha com uma bandeja pondo na pia, quebrando o maldito silêncio.

— Não muita, vem cá, você tem alguma coisa pra dor de cabeça? — Volto meu olhar para o moreno atrás da bancada que da as costas e volta por onde veio.

(...)

Já estava mofando no meu quarto a horas, folheando uma das milhares revistas de Anelise de pernas pro ar. Já eram quase quatro horas e nenhum sinal da mãe e filha Listing, estava num tédio sem fim sem Ane para me perturbar, os rapazes ensaiavam no porão num volume tão absurdamente alto que ainda não sei como os vizinhos ainda não os denunciaram por perturbação de sossego.

Mas uma página e então a coluna de empregos, dei uma olhada no lançamento da revista para ver se não era antiga é bom não era. Li alguns mas um chamou minha atenção, "consultora de ballet infantil", por que não? Aquilo era pra mim, eu poderia enfim voltar a dançar, apesar de não ser tão chegada a crianças, fora um salário bom.

Eu tinha uma cópia do meu currículo escolar para faculdades e determinados empregos, só espero que não seja cobrada formação acadêmica, mas creio que não será necessária, apenas a minha experiência, que bom pelo meu histórico escolar a dança me acompanhava desde muito cedo.

Pus roupas mais decentes que meu pijaminha, soltei meu cabelo me arrependendo quase instantaneamente voltando a prendê-lo, sai do quarto dessa vez com um croped por baixo de um moletom preto, fechando o zíper até encima, podendo agora sair do quarto sem ter a preocupação de alguém me espiando, porque sinceramente, não confio muito nos amigos de Georg, não confio num bando de "adolescentes" apocalípticos como tal.

Desci até o porão que só de abrir a porta o cheiro de morte vindo de lá era detectado a quilômetros, latas de cerveja e restos de maços de cigarros jogados ao chão a música permanecia absurdamente alta mas continuava linda, dessa vez a música era Scream, diferentemente de Don't Jump essa tinha uma pegada claramente mais pesada.

Eles não notaram minha presença quando derrubei por acidente um par de baquetas de Gustav, eles pararam com um desvio de Tom na guitarra e olharam diretamente para mim, principalmente Bill, que me olhou inicialmente irritado pelo interrupção mas quando se deu por si sua feição tomou um ar mais calmo porém ainda rígido.

— Ah desculpa. — Disse sem os olhar nos olhos.

— Posso te ajudar com alguma coisa Dod's? — Georg iniciou e eu me adiantei em responder.

— Na verdade pode sim, preciso ir a esse lugar. — Disse apontando para o nome da pequeno Studio de dança apresentado, ele se aproximou cerrando os olhos para enxergar as micro letrinhas na folha.

— Olha até posso mas no final do ensaio, ainda tô ajeitando uns acordes no baixo, acha que pode esperar umas duas horas? — Não, não posso, preciso chegar o quanto antes, isso se a vaga já não estiver ocupada o que seria um saco.

— Esquece, vou pegar o metrô, um táxi, sei lá, eu me viro. — Disse já dando as costas.

— Peraí. — Fui impedida abruptamente por Bill. — Já terminei de ensaiar minhas músicas só ia ficar acompanhando eles, se quiser eu posso te levar.

— Mas cara a gente ainda tá no meio do ensaio. Aí! — Disse Georg sendo interrompido por uma das baquetas de Gustav, que atingirá sua cabeça.

— Agradeço sua iniciativa garotão, mas eu posso me cuidar. — Disse dando um breve tapinha no ombro da rapaz, que pareceu um tanto decepcionado.

— Nunca é tarde demais para levar um belíssimo fora né mano. Aí! — Brincou Tom tendo a outra baqueta arremessada na cabeça pelo baterista e em seguida o dedo do meio do irmão mais novo.

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Chegaste ao final do capítulo!
Sem comentários para hoje.
Até sábado, bjs 😗🫶

You Dream Of The End - Bill KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora