Capítulo 38: Carinha feliz

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— Duas janelas quebradas, paredes morfadas e cheias de lodo, telhas quebradas, nenhuma eletricidade e pisos manchados pelo tempo... — Daniel leu na caderneta e soltou um longo suspiro, ele ia continuar, mas Scarlet interrompeu:

— Ok, ok... — Ela suspirou também, puxando a mão de Sofia antes que ela alcançasse a teia de aranha que queria desfazer — Acho melhor terminarmos isso lá fora. — Riu, limpando uma sujeira de poeira no nariz da menina. Desde que chegaram que ela não parava quieta, querendo explorar e correr pela casa.

A conversa teve continuidade no jardim – ou restos do que um dia fora um jardim – e a conclusão em que os dois chegaram foi a de que praticamente tudo precisaria ser trocado, pois mesmo se houvesse uma manutenção na estrutura já existente, não valeria a pena.

A casa de pedras era enorme e as marcas do tempo estavam por todo lado. O pai de Scarlet não foi o primeiro a morar lá, obviamente; Segundo o que Scarlet sabia, a casa foi construída no século 18 e de lá pra cá não foram feitas muitas reformas.

É claro que, quando ela era pequena e costumava passar fins de semana com o pai no lugar, ele era completamente diferente; Não estava repleto de poeira, havia mobília e um quarto com os utensílios de pesca e ferramentas dele, o jardim não tinha virado um emaranhado de plantas diversas crescendo de forma desregulada ao redor da casa e as teias de aranha não tinham tomado conta de tudo.

— Titia Scar! — Sofia chamou quando eles estavam fazendo um lanche do lado de fora, sentados na grama. Scarlet olhou pra ela enquanto mordia um pedaço do sanduíche — Você vai morar aqui com a titia Alex?

Scarlet mastigou devagar e olhou pra Daniel, que também estava interessado na resposta.

— Não. — Respondeu cautelosamente depois de engolir — Eu e a titia Alex trabalhamos em Seattle, então não podemos nos mudar pra cá. — Acariciou a bochecha dela, mas Sofia parecia não entender.

— Mas por quê? É só vocês trabalharem aqui! — Daniel conteu uma risada e Scar suspirou, pensando numa resposta.

Se eu fosse sincera com Sofia? Ah, eu diria que eu moraria aqui pelo resto da minha vida e ficaria feliz em acordar todos os dias olhando pra esse rio.

Diria que estou reformando a casa em respeito à memória do que vivi com meu pai, mas também porquê quero passar algum tempo nela sempre que precisar, e talvez, um dia, ficar para sempre.

Trabalhar como editora na Ace me faz feliz, mas eu trocaria minha vida em Seattle por isso aqui. Pescar, tentar manter o jardim... Eu poderia voltar a escrever, como fazia quando era adolescente...

— Você tem razão, princesa. — Scarlet sorriu pra ela. Sofia estava usando uma jardineira e uma blusa azul de botões, estava completamente suja de lama e poeira e havia pedaços de grama nos cabelos dela. De repente Scarlet lembrou de sí mesma quando era pequena.

Quando saíram de River e chegaram em casa já era mais de quatro horas da tarde. Sofia adormeceu no banco de trás e quando estacionaram no jardim, Daniel conferiu se ela continuava dormindo. Quando confirmou que sim, se voltou pra Scarlet:

— Scarlet... — Ele continuou com o cinto, relutante em continuar a falar. Scarlet tirou o dela e o encarou, esperando. Quando ele olhou pra mão dela ela já sabia o que ele ia perguntar — Está tudo bem entre você e a Alexandra?

— Ah, isso? — Ela deu de ombros, olhando pra própria mão — Quase perdi a aliança diversas vezes... Estava meio folgada então mandei fazerem um ajuste. Quando voltar de viagem já estará pronta.

Daniel suspirou, satisfeito com a resposta, mas não saiu do carro.

— Mas está tudo bem, né? — Perguntou e ela acentiu, então ele sorriu.
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De Repente Casadas | Sáfico Onde histórias criam vida. Descubra agora