Capítulo 48: Purê de abóbora

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Uma taça — que estava longe de ser uma taça de conhaque — vazia de um lado, uma mesa de centro completamente bagunçada de outro e uma loira esparramada no sofá da sala depois de encerrar uma chamada de vídeo de quase duas horas com o irmão.

Daniel ligava pelo menos duas vezes por dia para dar notícias sobre a obra — que já tinha começado com grande sucesso — e o assunto acabava sendo alimentado por Scarlet e sua empolgação com a casa, o que levava a chamada a parecer interminável.

Mas o que a incomodava — A ponto de deixá-la exausta no sofá, procurando desesperadamente por uma dose reforçada de álcool — era o fato do irmão não desconfiar de nada.

Devia ser o contrário, e no começo ela pensou assim; Se ele não pergunta sobre Alexandra, porque com certeza deve parecer estranho ela nunca estar comigo quando nos falamos, deve ser porque não há nada com o que se preocupar.

Mas agora o pensamento é o de desespero e curiosidade. Nas primeiras ligações Scarlet comentava, mesmo sem ele ter perguntado, algo como: "Alex não pode se juntar a nós na chamada pois foi ao mercado" ou "Ela está ocupada demais com o trabalho", o que deixava subentendido que elas, como deveria ser, moravam juntas.

O que nós sabemos que não é nem um pouco verdade.

Mas Daniel não parecia ligar nenhum pouco para o paradeiro de Alex, e rebatia os comentários com um "Sem problemas" antes de engatinhar mais um ponto importante para a reforma.

Esse comportamento começou a deixar Scarlet paranóica, mesmo ela tentando repetir para si mesma que estava tudo bem e que o acordo estava a salvo. Porém de vez em quando, imaginar como a família reagiria se descobrisse a verdade a arrastava para um mar de incertezas.

A única certeza que ela tinha no momento era a de que era uma noite nublada de sexta-feira e a embriaguez estava começando a se instalar em seu corpo; Fora um dia corrido na Ace e ela não tivera tempo de descansar, pois assim que chegou foi diretamente resolver as pendências com Daniel.

Ficar paranóica em relação á ele era definitivamente melhor do que passar a noite inteira matutando sobre sua própria esposa e o convite que ela não esquecera.

Alex tinha a chamado para ir até a sua casa, e depois desse convite inusitado elas só se falaram uma única vez, quando Scarlet perguntou se ela havia gostado do presente que tinha a enviado.

Agora Scarlet encarava a conversa delas aberta no aplicativo de mensagens. "A que você usou comigo não foi" era a última mensagem, uma provocação que não foi respondida, e isso fazia Scarlet questionar-se se o convite ainda estaria de pé...

Eu devia perguntar, não é? Não é como se eu estivesse desesperada; só quero saber se ainda terei planos amanhã.

Batucou os dedos na tela, mordendo o canto dos lábios.

Certo, talvez eu esteja desesperada.

Soltou o ar pelo nariz, se inclinando na mesa de centro para encher a taça novamente, mas desistiu na metade do caminho e levantou, quase caindo de volta no sofá.

Esqueça isso.

Pensou, arrumando os cabelos para trás enquanto ia em direção ao quarto.

O apartamento estava quase totalmente escuro, com apenas a luz do abajur da sala ligada e a iluminação urbana do lado de fora da janela.

Depois de tirar a roupa e se aninhar entre os lençóis da cama não demorou muito para ela cair num sono profundo, provocado pelo cansaço do dia e do álcool ingerido minutos antes.

De Repente Casadas | Sáfico Onde histórias criam vida. Descubra agora