Capítulo 5

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Entrar por aquela porta parecia mais difícil do que eu pensei que seria. Talvez seja o medo de tantas lembranças, ou só o puro e simples prazer de estar em um lugar que eu sei que estaria segura, pela primeira vez em muito tempo.

Assim que olhei a sala fui vendo cada detalhe, tentando me lembrar de como era antes e anotando cada pequeno detalhe que mudou nos últimos 6 anos. Mas tinha tanta coisa igual, que não teve como não sentir as lágrimas saindo de novo.

Eu sei que tive várias oportunidades de vir visitar meu pai e meu irmão, mas não podia me dar o luxo de vê-los e esconder tudo o que acontecia nessas épocas. Meu último relacionamento estava na pior fase quando soube do incidente com Justin. E saber que ele só esteve no fundo do poço depois de me ver nele, me fez ter certeza que não teria coragem de visita-lo, não saberia o que dizer. Não podia julgar ele pelas suas atitudes, já que eu mesmo já havia feito as mesmas coisas e quase morri por isso. No caso dele, ele machucou outras pessoas e prejudicou meu pai. Me senti culpada demais para olhar nos olhos deles.

Antes disso tive outras oportunidades, todas eu desviava, usava desculpa de treinamento, muitas vezes que nem existiram, apenas para não sentir o que estou sentindo agora. E depois também.

Mas isso tudo parecia besta nesse momento. Os quadros na sala de mim e de Justin, desde pequenos até antes da mamãe morrer, trazia um aperto no peito gigante e era culpa minha.

A última vez que vi ele, estava no hospital depois da overdose e dizendo que iria para outro lado do país por ordem o papai. Depois disso, nunca mais o vi. E era tudo culpa minha. Não podia e nem conseguiria culpar meu pai por isso. Ele fez o melhor que podia por mim, mas ainda doía saber que se não tivesse voltando de última hora, podia nem estar sabendo do que aconteceu.

Continuei minha caminhada pela casa, lembrando de cada caminho que devia tomar e me vejo entrando no quarto de Justin, nem se quer entrei no meu. Encontrei tudo arrumado, e algumas coisas de criança no meio de tudo. Sorrio de leve pensando no meu sobrinho, que não conhecia ainda.

Me aproximo do armário e o abro, vendo suas roupas ali, aproximo uma camisa do meu rosto e fecho os olhos. Aspirando o cheiro inconfundível dele. O mesmo cheiro desde os 16 anos. O perfume que lhe dei no nosso aniversário, dizendo que me fez lembrar dele. Me lembro exatamente do momento em que lhe entreguei.

Flashback on

-Abre, Justin.

-Qual é Julia. Combinamos sem presente esse ano, eu não te comprei nada.

Ele me olhava com um certo tom de reprovação na voz enquanto segurava a caixa embrulhada em mãos.

-Não pude me controlar, abre logo a caixa, inferno.

Falo o fazendo rir com o meu jeito, super carinhoso, enquanto seguro as mãos o vendo abrir.

-Um perfume, Julia. Tá me chama do de fedido por um acaso?

Jogo a cabeça pra trás e solto uma gargalhada alta.

-Se a carapuça serviu... mas não foi por isso. Foi até engraçado. Fui até a loja com o Matt, ele disse que iria comprar um perfume novo pra ele, porque o dele estava acabando, enfim, assim que vi esse e senti o cheiro, me lembrei de você. Me trouxe uma sensação de segurança, conforto e casa. A mesma sensação que sinto quando estou com você, Jus.

Sorrio de leve e vejo os olhos dele marejarem. Ele podia fingir, mas eu sabia que era a única capaz de mexer totalmente com ele.

-Cara, não sei o que dizer, mas pode ter certeza que sempre usarei ele, para que você sinta ele em qualquer lugar e lembre que estou com você sempre. Podemos não estar juntos em todos os momentos, Ju. Mas eu sempre vou estar aqui. -coloca o indicador no meu coração. -cuidando de você e com você para tudo. Juntos desde o útero e até o final dos tempos.

Uma nova vida - Jay halstead Onde histórias criam vida. Descubra agora