Capítulo 22

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Após Pablo sequestrar uma das maiores jornalistas dos últimos tempos da Colômbia, suas exigências se tornavam cada vezes piores. Ele fez inúmeras ameaças, e vídeos com a vítima pedindo algum tipo de acordo, e o que ele queria? Ele iria se entregar, mas dentro de suas próprias condições.
Ainda que o presidente Gaviria aceitasse tudo o que ele pediu, nós sabíamos que não seria o suficiente, e que concordar com todos aqueles termos era como assinar um contrato com o diabo.

  A equipe de busca de Carrillo encontrou onde a jornalista estava, e como sempre fizeram a invasão que deveria ser feita, a gente só não imaginava que seria pior do que pensávamos. Pablo não precisou apertar o gatilho, porque nós fizemos isso por ele.
  Com a morte dela as coisas começaram a sair ainda mais do controle, e Gaviria não tinha mais paciência para as voltas que Pablo dava. A proposta do narcotraficante estava a cada passo mais próxima de ser aceita.

  Inúmeras reuniões com o secretário do presidente foram feitas nos últimos dias, e o que eu mais lamentava era ter que colocar a Noonan no meio disso. Aquela mulher deveria receber um prêmio por suportar todos os histerismos daqueles três homens.
  A nossa maior discussão era que se Gaviria aceitasse o jeito em que Pablo queria ser preso, o tráfico iria continuar, porque ele estaria comandando de dentro da cadeia.
Mas nos tornávamos praticamente incompetentes quando não podíamos fazer nada, quanto mais tentávamos parar esse tipo de ideia mirabolante de Escobar, mais pessoas importantes morriam, e isso estava se tornando um ciclo sem fim.

  Enquanto debatíamos o que faríamos com Pablo, ele dava um jeito de construir a cadeia que ele tanto dizia em que iria ficar. E nós, precisávamos chegar até ele o mais rápido possível.
  Uma vez que ele estivesse na cadeia, ele estaria a salvo, mas nós que estávamos fora, claramente não estaríamos seguros.

Além de estes problemas, tínhamos que lidar com que a equipe de busca de Carrillo corria risco de ser desfeita, o que estava enlouquecendo meu pai. E ninguém conseguia ajudá-lo, já que ele havia dedicado todo seu tempo nisso, e logo o trabalho tão suado dele iria por água abaixo.

  Encostei minha cabeça no banco do restaurante enquanto olhava atentamente para Javier, que conversava com meu pai, e o sorriso estampado em seu rosto me causava arrepios. Eu estava em total silêncio enquanto a música e a conversa dos dois preenchia o ambiente.

— Eu matei o Gustavo. — Meu pai sussurra enquanto soltava a fumaça do cigarro para o alto.

  Pude sentir o meu brilho desparecer automaticamente.

— Você o quê? — Meus olhos se arregalaram. — Não pode ser, você está falando a verdade?

— Estou.

  Alterno meu olhar entre ele e Javier, que aparentemente já sabia da notícia.

— Meu Deus... — Passo os dedos entre os fios de cabelo e seguro minha cabeça. — Pai, você é maluco.

— Estamos desestabilizando ele, e vamos conseguir, não importa o que eu precise fazer para isso acontecer.

— Ele teve o que mereceu. — Javier inalou a fumaça do cigarro enquanto olhava para mim. — Você também acha isso.

— Eu não acho mais nada, daqui a pouco todos que procuramos vão estar mortos e só vai restar ele. — Dou de ombros sem me importar. — Espero que fique mais fácil.

— Não vai. — Meu pai responde rápido. — Se ele for para esse circo que ele chama de cadeia, as coisas vão ser ainda mais difíceis, por tanto esqueça.

— Ai que merda. — Suspiro frustrada.

  Ouço a voz de Steve no rádio de meu pai e estranho. Percebi que ele abaixou o volume rapidamente enquanto ouvia o que o loiro tinha para dizer, e ao contrário de mim seu rosto brilhou.

Monster in me - Javier PeñaOnde histórias criam vida. Descubra agora