Capítulo 45

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Eu odiava cemitérios, mas não podia deixar de prestar homenagem aos policiais que foram assassinados. As famílias estavam em luto, com uma dor que jamais passaria, e eu os entendia muito bem.
Ao invés de ir embora quando tudo terminou, preferi ficar para poder ir até outro túmulo, o da minha mãe. De tempo em tempo eu tinha o costume de visitá-la, conversar com ela e dizer todas as loucuras que estavam acontecendo em minha vida, e isso era importante para mim.

Limpei as folhas velhas que cobriam seu nome na lápide, e senti a lágrima quente escorrer pela minha bochecha. Às vezes a saudade que eu sentia dela era a mais difícil de lidar, era uma dor que não iria embora nunca mais e ela seria lembrada até o dia do meu último suspiro.

Sinto sua falta, mamãe. — Sussurro enquanto olhava a foto ao lado do seu nome.

O som de alguém pigarrear ao meu lado faz com que eu desviasse meu olhar, e quando menos eu esperava, lá estava Alejandro em seu traje engomado e um olhar neutro como se mais ninguém no mundo fosse importante além dele.

— Você. — Digo entredentes e me levanto devagar. — Seu filho da puta, sem caráter! — O empurro com raiva. — Foi você quem armou aquela merda, foi você quem deixou aquela foto em cima do móvel! — O empurro novamente, mas dessa vez as mãos dele seguram meu pulso com força.

— Do que você está falando, Louise? — Ele sussurra tentando não chamar atenção.

— Da casa em que eu morava! Você comprou aquele lugar apenas para acabar comigo e no segundo seguinte você matar quinze pessoas inocentes que não tem nada a ver com a raiva que você tem de mim.

— Meu Deus, do que você está falando? — O olhar confuso permanecia em seu rosto. — Não fui eu quem comprou aquela casa, foi o Herrera, e que foto é essa?

— Não se faça de idiota, a foto do corpo da minha mãe no dia do assassinato. Por que você fez isso? — Me desvencilho do seu braço e sinto o nó em minha garganta me sufocar.

— Não, eu não coloquei essa foto, e o ataque não foi coisa minha. Você precisa me ouvir, mas não podemos ficar aqui, vamos conversar em algum lugar mais adequado e sem chance que alguém nos veja juntos.

— Eu não vou a lugar nenhum com você, desista disso. — Pego minha bolsa que estava no chão e começo a caminhar em direção ao estacionamento.

Mesmo que Alejandro não fosse uma pessoa confiável, ele não parecia estar mentindo quando disse não ter nenhum envolvimento com os negócios de Herrera, ainda sim era difícil de confiar em alguém como ele.
Destravei a porta do carro, joguei a bolsa no banco de trás, mas não consegui ser mais ágil que ele, que simplesmente abriu a porta do passageiro e se sentou ao meu lado.

— Sai. — Sussurro. — Sai agora ou eu vou usar minha arma em você. — Aperto o volante com raiva.

— Não, eu não vou sair e não tenho medo de você. — Ele diz tranquilamente. — Precisa ouvir o que tenho a dizer, caso contrário vai correr em círculos, e eu posso ajudar vocês.

— Pode? Ah, meu Deus, você vai entregar seu cartel sem mais nem menos? Acordou no dia de hoje, escolheu a hora mais errada que tinha e decidiu mudar de ideia e entregar todos seus amiguinhos?!

— Eles não são mais meus amigos, eu não sou mais o chefe do cartel de Cali e tem coisas piores acontecendo, mas se você não me der a chance de falar, vamos continuar nisso e sem chegar a lugar algum.

— Desembucha. — Gesticulo esperando que ele falasse de uma vez por todas.

Alejandro encostou a cabeça no banco e respirou fundo.

— Eu estou fora do cartel, eles me tiraram sem que eu soubesse, atacaram vocês no Texas e fizeram parecer que eu tinha algo a ver com isso. E antes que você pergunte, sim fui eu quem denunciou vocês para a embaixada. Eu queria me livrar do seu namorado e o amigo para que eu pudesse perder o foco de uma vez, te ajudar a matar o Pablo e finalmente assumir o cartel de Cali. — Ele me olha fixamente por alguns segundos. — Mas eles traíram minha confiança.

— Isso só pode ser piada. — Seguro a risada. — Te traíram como?

— Me deram papéis para assinar quando eu não estava em sã consciência, e pegaram tudo para eles. E quer saber? Eu quero que esses filhos da puta se fodam, então eu vou ajudar vocês a pegarem cada um deles, seja lá o que isso me custe.

— Essa foi a coisa mais burra que você já fez, tenho certeza disso. — Cruzo os braços indignada com o que havia acabado de escutar. — Sabe que eu não confio em você, e toda a história de dizer que só não me mata porque gosta de mim, só cola com o Javier.

O olhar dele se estreita a cada palavra que eu digo.

— Você não vai querer que eu te prove o que é verdade ou não.— A voz dele sai completamente carregada. — Pode escolher e eu te mostro até que ponto eu menti para o Javier.

Era ridículo, mas tenho certeza que a coloração das minhas bochechas mudaram no mesmo instante e a forma que meu coração acelerou, devem ter deixado claro o porquê da falta de resposta.

— Foi o que eu pensei. — Ele ri baixo. — Eu não deveria ter encostado em você naquela noite, mas existem tantas coisas que me irritam e uma delas é ser um completo idiota que jamais te mereceria.

— Cala a boca, por favor. — Peço enquanto fecho os olhos. — Com o que você quer ajudar?

Ouço novamente uma risada contida dele, mas ignoro.

— Com o que vocês quiserem. Vou tentar encontrar o local em que eles estão, mas tudo que eu sei, é que amanhã terá uma festa na mansão do barão Del Rey, ele agora é um dos novos chefes do cartel. Seria uma pena se vocês invadissem aquele lugar, e matassem alguns deles.

— Não somos igual a vocês, queremos todos vivos, não há forma melhor para se pagar do que ter que viver uma vida infeliz na cadeia. — O olho de relance durante alguns segundos. — Por que demorou tanto para aparecer?

— Estava esperando o momento em que te encontraria sozinha, e também estava tentando coletar informações para não chegar de mãos abanando.

— Tudo tem um preço, não é? E o que essas informações vão me custar? — Cruzo os braços.

— É simples. Você não vai contar que sou eu te dando as informações, por mais que o seu amiguinho gringo e o Javier saibam que se trata de mim, você não pode deixá-los se meter nisso. Tem que ser algo restrito entre nós dois e mais ninguém, e quando eu conseguir te dar todos eles de presente, você vai saber o que eu quero fazer e a história acaba.

— Fácil assim? Tem algo errado nisso.

— O que eu farei quando acabar não diz ao seu respeito, não darei mais as caras, então não precisa se preocupar comigo. Eu mesmo vou dar um jeito, mas vou precisar da sua ajuda uma última vez.

— É claro que vai. — Penso mil vezes antes de concordar, porque eu sabia que no fundo Javier e Steve não ficariam fora disso. — Não sei se quero trabalhar com você novamente, se não sabe, sua cabeça vale milhões de dólares e eu poderia fazer ela meu troféu da noite.

— Você não me mataria. — Ele sorri de forma cinica. — Do mesmo jeito que eu não faço isso com você por ter meus motivos, eu sei que você tem os seus.

— Certo, com tanto que essa ladainha acabe, eu trabalho com você, mas já fique sabendo que se estiver mentindo sobre qualquer coisa aqui, nenhum motivo irá me impedir de te matar.

— Tudo bem. — O olhar glorioso dele me causava calafrio.

Trabalhar com Alejandro não era minha melhor opção, mas viver da incerteza de que receberíamos alguma pista de Herrera não era minha opção favorita. Então, era melhor trabalhar com quem eu já sabia que traria alguma resposta, e mesmo que não fosse a melhor pessoa do mundo, Alejandro ainda tinha suas vantagens.

Monster in me - Javier PeñaOnde histórias criam vida. Descubra agora