𝘃𝗂𝗻𝗍𝗲 𝖾 𝗇𝗼𝗏𝗲

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Kael

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Kael

Três semanas depois, eu não descobri nada sobre a garota que ocupa minha mente de madrugada.

Para mim, ela é um mistério com rosto de anjo e lábia demoníaca.

Sonho com nossas noites do momento em que fecho os olhos até o dia raiar. Acordo atordoado, meu cérebro nunca para realmente de funcionar o que quer dizer que durante todo o tempo fico imaginando possíveis razões que justifiquem o que aconteceu.

Ainda estou preso as lembranças do seu corpo no meu e apesar de nunca ter retornado a casa onde estivemos juntos pela última vez sinto seu cheiro em todo lugar. No meu travesseiro, na camisa que usei naquela noite e toda vez que abro a porta do meu quarto...consigo vê-la lá, deitada na cama com a minha camisa e somente isso, dormindo tão serena que não parece capaz de mentir.

Parei de me tocar, pois sei que vou imaginar sua boca ao redor do meu membro e pensarei tanto nela acordado que não vou conseguir parar mais, então vai estar tudo fodido, porque eu preciso me concentrar nas vendas para dar o próximo passo. Por isso tenho tomado banhos frios mais dias do que quero me lembrar.

Minha volta aos negócios foi fenomenal no sentido ecônomico, porque socialmente só mostrou o tamanho da minha desgraça.

As pessoas envolvidas no tráfico, bem como os viciados ou moradores de bairros, que eles frequentam pensam que eu ameacei JC dizendo que denunciaria a parada se ele não me deixasse sair em paz, ou seja, agora que voltei rastejando sou o traidor andando com um alvo nas costas e ele o fracote que me deixou retornar.

Eu sai porque sabia que precisava de uma nova vida se não desejasse acabar como meu irmão.

A identidade da minha mãe também corria o risco de ser comprometida e isso eu não permitiria nunca, ela fez muitos sacrifícios para cuidar de nós.

Lembro do cheiro do incenso de canela que ela comprava para disfarçar o odor de fumo trazido por alguns clientes.

Lembro das carreiras de coca disfarçadas como sal, dos dias que pareciam intermináveis, das piores brigas com meu irmão.

A chuva que castigava as janelas, não podíamos abri-las de jeito nenhum. O apartamento ficava muito abafado e o prédio inteiro balançava por conta dos ventos.

Lembro que em dias assim, eu costumava ouvir minha mãe gritar mais do quarto, nunca soube o por quê, mas meu irmão sempre se fez de forte. Ele fingia que nada o afetava, nem a falta da presença de um pai, nem o trabalho da nossa mãe.

Nessa época, só nesses dias em que era impossível ignorar ele vinha até mim e me abraçava. Os berros dela, puramente de dor sobressaíam o estrondo de cada trovão.

Não sei se era por que éramos crianças ou adormeciamos ouvindo, mas aquilo parecia durar a noite toda. Eu sei que não porque lembro de acordar com ela me desejando boa noite de madrugada, olhando para nós dois, pequenos meninhos de olhos puxados dividindo uma cama e ela mesma, usando só um robe de seda que trouxe do Japão, sorria.

Sem Tempo Para MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora