𝘃𝗂𝗻𝗍𝗲 𝖾 𝘀𝖾𝘁𝖾

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Kael

Me aproxímo do lugar que daria uma das mãos para nunca mais pôr o pé.

Deus, por quê tinha que ser assim?

Passei em casa antes de vir para cá, tomei um banho, comi uma torrada com ovos mexidos e bebi um copo do suco verde que minha mãe não deixa de tomar nenhum dia, tem gosto de couve, mas com um toque agridoce.

Caminho com as mãos no bolso do moletom preto até receber um aceno de cabeça do novato que guarda a entrada da boca.

- E aí? - comprimenta, desencostando-se do poste de luz.

A pele negra reluz no sol, ele usa uma bandana vermelha amarrada na cabeça, veste calça jeans larga e uma camisa branca com colete igual a calça, reparo que o tênis é caro, um Jordan retrô High OG.

- Vim falar com o chefe.

- Entendi e eu sou o Barack Obama.

Rio fraco.

- Não cara, falando sério. Eu quero ver o chefe. - determino.

- E quem é você? - pergunta chegando mais perto de mim, ajeita as costas para trás projetando o peito.

Inacreditável.

- Sou o dono desse lugar, agora me deixa ver como tá a bagunça por aqui. - tento passar reto, mas apesar do queixo caído, ele segura meu braço, impedindo-me de avançar.

Reviro os olhos, poderia acabar com o novato em um golpe se me importasse em perder tempo. A verdade é que estou tão cansado de correr que dessa vez apenas fico a espera.

E ele me olha como se não acreditasse no que está vendo.

- Quanta audácia...chega agindo como o dono e acha que vou permitir sua passagem. - dá um sorriso mordaz. - Dá o fora daqui, antes que eu chute sua bunda magra.

Fala como o superior. Mal sabe ele que eu conheço mais esse negócio do que pode imaginar.

- Olha só, amigo, eu não quero passar por cima de você, então é melhor se afastar antes que...

- O quê, Kael? - a voz retumba nos meus ouvidos. - Sua vidinha de merda fracassou e agora veio feito um cachorrinho catar os restos do meu prato?

- Não, eu vim aqui porque preciso falar com você. - me viro para Jace decidido.

- É bem cedo. - constata, apesar de declarar a própria hipocrisia com uma camisa de manga curta listrada e ainda por cima bermuda jeans. A imagem do verão no outono.

Isso só pode ser uma coisa.

- Tá frio, né? - comento inclinando o pescoço para o céu nublado.

- Entra logo. - me deixa passar na frente pelo corredor escuro. - Vigie a porta. - o ouço dizer, provavelmente para o novato, antes de vir atrás de mim.

- Ele é determinado, tem potencial aqui dentro.

- Isso quem decide sou eu. - retruca.

Balanço a cabeça negativamente, vejo rostos conhecidos pelo chão em cada canto onde eu costumava ficar. Pessoas fumando, vendendo e compartilhando drogas.

Sem Tempo Para MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora