Capítulo- 11

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Dedico este capítulo a:

Alessia Cortez - @autoralessia, 

autora da obra "Desejo Carmesim", um romance de época maravilhoso, sensível e muito enriquecedor.


Alexa olhava para sua imagem no espelho. Cada dia que passava se reconhecia menos, como se estivesse se transformando em outra pessoa. O cabelo adquiriu uma tonalidade mais clara, entretanto era a mudança na cor dos olhos que a estava preocupando mais. A cor natural deles sempre foi castanho com a tonalidade voltada para o marrom escuro, agora o olho esquerdo estava âmbar com a tonalidade voltada para o marrom claro cor de mel e o olho direito ficara azul com a tonalidade voltada para o violeta.

Os óculos escuros e as lentes de contato evitavam especulações e perguntas por onde passava. Já bastava estar se sentindo uma extraterrestre, não queria que mais ninguém a estereotipasse. As drogas experimentais causaram mudanças estupendas no seu organismo e sabe Deus o que mais poderia estar acontecendo com ela.

Pensamentos tenebrosos voltaram a infernizá-la. Teria adquirido alguma doença grave? Estaria morrendo? Não sabia. Tinha muitas perguntas e pouquíssimas respostas.

Ansiosa por averiguar o que estava acontecendo com a sua saúde pegou o telefone e digitou um número.

***

Às cinco e trinta da tarde ainda estava sentada na recepção da clinica aguardando a sua vez. Observava as pessoas ao redor e voltava a divagar o pensamento olhando pela janela. Percebeu vagamente que alguém a estava chamando. Era a recepcionista que lhe indicava uma porta. Devagarinho, seguiu pelo corredor e abriu a primeira porta. O médico levantou-se e veio cumprimentá-la:

— Alexa Jones? Sou o doutor Ralph Friedman, oftalmologista.

— Muito prazer, doutor. Trouxe meus exames.

— Sente-se ali naquela maca. Vou examiná-la e analisar seus exames.

Meia hora depois, o doutor Friedman já tinha um diagnóstico.

— A senhora se expôs a algum tipo de radiação ou recebeu alguma substância estranha no seu organismo ultimamente?

— Não!

Aquela mentira foi fácil de dizer e iria evitar possíveis questionamentos do médico. Não podia dizer a verdade enquanto estivesse investigando o desaparecimento do filho. Além do mais, como poderia saber se o médico acreditaria nela ou se a classificaria como louca? Para que contar algo que poderia torná-la objeto de especulações? E, sinceramente, ela não tinha vontade de contar a verdade para ninguém porque desejava do fundo do seu coração que aquela verdade nunca tivesse existido. Se pudesse, arrancava da memória os quatro anos em que esteve encarcerada naquela ilha.

Ela não conseguiria dizer aquela verdade mesmo se quisesse, porque as palavras estavam embargadas na garganta. Por isso suas lembranças iriam com ela para o túmulo, pois sabia que ninguém jamais seria capaz de entender o que ela havia passado e sentimentos piedosos não iriam ajudá-la a esquecer o martírio que viveu.

Portanto, mentir era algo necessário naquele momento desordenado e confuso em que se encontrava.

A voz do médico a trouxe de volta.

— Pelo que vi nos seus exames está tudo bem com a senhora.

Alexa respirou aliviada. Então ela não estava à beira da morte; ainda tinha tempo de procurar pelo filho.

— O que a senhora tem nos olhos é uma heterocromia inofensiva; não vai precisar de tratamento, muito menos de cirurgia, mas aconselho que volte outras vezes para fazermos o acompanhamento. Se a senhora não se expôs a nenhum desses elementos que citei, então a aconselho a procurar um terapeuta, porque acredito que está sob muita pressão e com um nível de ansiedade altíssimo.

O doutor acertara em cheio: seus nervos estavam à flor da pele. Não comia bem, não dormia direito; estava a ponto de surtar.

— A senhora vai usar este colírio três vezes ao dia. E por favor, marque o retorno com a minha atendente.

— Obrigada, doutor, tenha um bom dia.

— Tenha um bom dia, senhora.

Alexa fechou a porta atrás de si e encaminhou-se à recepção. Marcou o retorno e seguiu em direção aos elevadores. Uma das portas dos dois elevadores se abriu e ela entrou. Era a única passageira e uma vez lá dentro posicionou-se de frente para o corredor e apertou o botão para fechar.

Foi naquele momento que um homem usando um terno escuro e sapatos pretos brilhantes, segurando uma maleta de couro escura saiu do elevador ao lado. Ao reconhecê-lo Alexa estremeceu e deu um passo para trás, mas para seu azar o sapato de salto fino bateu forte na parede metálica, o que despertou a atenção do homem.

Ele olhou rapidamente, mas ao vê-la, parou à sua frente e arregalou os olhos, surpreso. Ambos se encararam, Alexa empalideceu e seu coração deu fortes pancadas dentro do peito causando-lhe falta de ar.

Lorenzo Ercolani enrugou a testa em sinal de que a havia reconhecido e deu um passo para frente, mas a porta do elevador se fechou trazendo alivio momentâneo para Alexa que se apoiou nas paredes de metal, com as pernas trêmulas e as têmporas encharcadas de suor.

Sentia um pressentimento ruim de que aquilo ainda não havia acabado. Sua cabeça deu um nó impedindo-a de pensar e buscar uma fuga. A última coisa que imaginaria na vida era que veria Lorenzo Ercolani naquele lugar. Ele jamais poderia reencontrar a garota do hotel à beira-mar.

As coisas começavam a ficar assustadoras e uma sensação de pânico a invadiu enquanto ela tentava achar uma solução antes de chegar ao seu destino. O pavor aumentava, sua cabeça girava e o elevador parou no térreo.

Assim que as portas se abriram ela empurrou as pessoas que aguardavam para entrar, correu e se escondeu atrás de uma coluna de tijolos marrons, olhando sempre na direção do elevador.

No mesmo instante viu Lorenzo Ercolani saltar do outro elevador girando o corpo, olhando para os lados, procurando-a com os olhos atentos e interrogativos. Em seguida caminhou na direção onde ela estava escondida.

Alexa prendeu a respiração e começou a tremer, mas naquele exato momento o telefone dele tocou. Ele puxou o aparelho do bolso e o atendeu virando-se de costas para falar ao mesmo tempo em que caminhava de volta em direção ao elevador, mas não entrou. Enquanto falava ele a buscava com os olhos vigilantes e cuidadosos.

Alexa esperou que ele se distraísse com a ligação, então correu e entrou no banheiro feminino à sua frente. Colocou a bolsa sobre a bancada da pia e remexeu o seu interior com impaciência até encontrar o frasco do calmante que usava. Engoliu dois comprimidos e encostou na parede para tomar fôlego, ao menos por um momento.

Cobaia 52Onde histórias criam vida. Descubra agora