Sentado numa cadeira, olhando placidamente pela janela e vendo um céu cinzento sem chuvas, Dylan tirou o telefone descartável do bolso, fez a chamada e aguardou:
— Zoe White — a mulher atendeu do outro lado.
— Já olhou os seus e-mails? —Dylan perguntou seriamente.
Houve uma pausa, em seguida Zoe White indagou:
— Dylan Damon?
Desta vez o silêncio veio da parte dele. Ela então respondeu pausadamente:
— Sim, li o relatório completo que você me enviou.
— Espero que agora pare de me perseguir — Dylan falou com prontidão e clareza.
— Por que não me diz onde está? — ela perguntou baixando a voz.
— É melhor que você não saiba.
Houve mais uma pausa. Em seguida a voz calma de Zoe White quebrou o silêncio e prosseguiu serenamente:
— Olhe, você é um bom agente. Provou sua inocência e nos entregou uma lista interminável de inimigos infiltrados, além de desmascarar os dois maiores traidores da agência.
— E...
— Você está livre, Dylan Damon. Tem a minha palavra.
Dylan já conhecia a fama de Zoe White. Ela era a nova diretora da agência, uma mulher séria, competente, de um profissionalismo impecável. Por isso ele havia mandado as provas diretamente para ela, no entanto, não pretendia mais fazer parte daquela organização.
— Adeus, Zoe.
— Espera! Já pegamos os traidores. Por que não fica? Podemos trabalhar juntos.
— Estou fora.
Dylan desligou e finalmente conseguiu sentir-se livre de verdade.
***
Passos apressados, cabelos ao vento e uma expressão de preocupação no rosto, sempre olhando por cima do ombro. Foi assim que Alexa chegou à frente do prédio onde morava, com um saco de compras nas mãos.
Afobada e impaciente, ela empurrou a porta com rapidez e entrou. Uma vez lá dentro, abriu a porta do apartamento, atravessou o pequeno cômodo e depositou o saco sobre a bancada da pia. Em seguida preparou uma refeição rápida e sentou-se à mesa.
Os pensamentos borbulhavam e sua cabeça parecia uma bola cheia de mensagens circulando dentro. Permanecia o mistério sobre o período em que o filho esteve desaparecido e a única coisa que tinha certeza era que ele não havia sofrido violência física, mas até aquele momento não tinha pistas do que realmente havia acontecido. Tentou por diversas vezes conversar com Lucas e extrair alguma informação dele, mas o filho não interagia e ela continuava no escuro.
Naquele momento, olhando o telefone sobre a mesa lembrou-se de que precisava fazer uma ligação para sua supervisora, porém, deixaria para mais tarde. Seu novo cargo como editora-chefe estava lhe trazendo novas perspectivas e parecia que finalmente sua vida profissional havia deslanchado, mas antes de aceitar ela fez uma pequena exigência: continuaria trabalhando em casa, pelo menos até que saísse daquele momento turbulento em que se encontrava. Era disso que estava precisando: rever seus conceitos, adquirir uma nova mentalidade e voltar a ser...
Ia dizer normal, mas sabia que nascer do ventre de uma mãe alcoólatra e ser cobaia de uma experiência científica fazia dela uma pessoa no mínimo, esquisita. E talvez nunca soubesse o que era ser normal.
Desde muito nova descobrira como a vida era difícil e que para vencer teria que lutar muito. Sua terapeuta havia lhe dito que ia demorar um pouco até que ela conseguisse vencer o medo e confiar nas pessoas. Não tinha medo de algo específico, mas sentia uma ansiedade intensa que lhe tirava a paz.
Depois da refeição lavou a louça, sentou no sofá e ligou a televisão. Uma repórter dava as últimas informações sobre a notícia que estava chocando a cidade:
Nesta madrugada, Armando Ercolani dono da Erco Pharma, uma importante indústria farmacêutica da cidade de Nova York, recebeu ordem de prisão no Hospital Geral depois de ter dado entrada com suspeita de enfarto. Sua saúde continua estável e ele está sendo vigiado por dois policiais enquanto permanece internado.
Os laboratórios de experimentos clandestinos de Armando Ercolani foram fechados, incluindo o maior deles que ficava numa ilha particular que pertencia à família. Os materiais encontrados foram apreendidos pela Vigilância Sanitária para análise de autenticidade.
Afirma-se que na última década, centenas de pessoas morreram quando foram usadas como cobaias de um produto para aumentar a imunidade, mas que ainda estava em período de teste, o MGK2.
Também foi preso Michael Fowles, vice-presidente de uma importante agência de inteligência. Segundo a polícia, Fowles enviava os agentes para Ercolani quando achava que eles não tinham mais utilidades para a agência.
A atual diretora da agência, Zoe White, disse que há muito tempo Michael Fowles estava sendo investigado secretamente para que a agência chegasse até seu cúmplice misterioso. A revelação do envolvimento de Armando Ercolani veio através de uma informação sigilosa e ultrassecreta.
A repórter concluiu sua fala da seguinte forma:
Por hora a polícia não deu mais informações sobre o caso.
Alexa desligou a televisão e afundou no sofá. Estava aliviada em saber que finalmente Armando Ercolani pagaria o seu débito com a sociedade e que a imagem de bom samaritano havia sido desfeita. No entanto, ela sabia que a sociedade, o mundo em geral, sempre seria daquele jeito. A mentira e o engano estavam espalhados pelo ar como uma fumaça venenosa contaminando e corrompendo a humanidade e quem não tivesse poder para mudar aquela realidade era melhor que fizesse vista grossa.
Levantou do sofá e foi para o banheiro. Encheu a banheira com água quente e se permitiu tomar um banho relaxante na esperança de que pudesse desacelerar.
Quinze minutos depois, voltou para o quarto usando um roupão e sem acender a luz jogou-se na cama. Demorou muito para dormir sentindo uma inquietação profunda, virando-se de um lado para o outro e finalmente apagou.
Naquele momento alguém se aproximou da cama sorrateiramente e tampou o nariz e a boca de Alexa com um pano embebido em clorofórmio. Em seguida a carregou para o banheiro.
Enquanto isso, Alexa sonhava que estava novamente na banheira, mas dessa vez o banho era gelado.
Leitor e leitora, meus amores.
O que aconteceu?
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Cobaia 52
Mystery / ThrillerEla casa com um cientista bilionário, louco e perverso, herdeiro de uma empresa farmacêutica multinacional. É mantida prisioneira numa ilha durante quatro anos, usada como cobaia em um experimento científico e tem a sua saúde física e mental desesta...