Capítulo- 22

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Alexa abriu a porta do novo apartamento e atravessou a sala com o filho adormecido nos braços. Depois de colocá-lo na cama, sentou ao seu lado contemplando-o, vigiando o seu sono. Não conseguia acreditar que seu filhinho estava de volta.

Passou as costas da mão pelo rosto do garoto sentindo em seus dedos a pele macia e delicada. Lágrimas brotaram dos seus olhos e sentiu-se culpada por não ter conseguido proteger o filho da maneira que ele precisava.

Como ela o amava! Em toda a sua vida nunca teve nada que fosse unicamente seu. Mas Lucas era dela, somente dela e não deixaria que ninguém os afastasse novamente. Tudo o que sempre fez por ele é o que gostaria que a sua genitora tivesse feito por ela, mas foi criada sentindo medo da mãe, sem receber um abraço nem palavras de carinho.

O que uma pessoa que maltrata uma criança tem dentro de si? Se questionava naquele momento lembrando das atitudes cruéis da sua mãe. Por isso havia decidido ser a melhor mãe do mundo para o seu filho e mesmo assim ela quase o perdeu.

O que havia acontecido com Lucas nos últimos meses era um pensamento que não conseguia tirar da cabeça. Não havia uma resposta definida para o seu desaparecimento. O policial que conversou com ela no corredor do hospital fez anotações e prometeu que iria investigar, mas ela não acreditava na polícia; na maioria das vezes ela só chegava depois que tudo acabava.

Enquanto esteve no hospital conversou com o segurança que fazia a vigilância no dia em que o filho apareceu na portaria.

O homem contou-lhe que chovia muito naquela noite e de repente surgiu uma senhora idosa apoiando-se numa bengala e segurando a mão do menino. Ela disse apenas que o havia encontrado na rua, em seguida afastou-se alguns metros, entrou em um carro que estava estacionado e partiu.

Para azar de Alexa as câmeras de segurança não estavam funcionando àquela noite e o vigilante não prestou atenção no carro que a mulher dirigia porque no mesmo momento havia chegado duas ambulâncias carregando vítimas de um acidente de trânsito.

Alexa tirou os sapatos e deitou-se ao lado de Lucas. Dylan havia lhe emprestado o apartamento pelo tempo que ela precisasse. Era muito pequeno, mas confortável. Tinha apenas um quarto com banheiro, cozinha e sala com uma minúscula sacada. Mas naquele momento ela não precisava de espaço maior, tudo o que desejava era segurança e privacidade para viver em paz com o filho.

Com todos esses pensamentos na cabeça Alexa fechou os olhos e tentou relaxar enquanto Lucas dormia serenamente.

***

Na manhã seguinte bem cedo ela desceu para comprar alimentos para o café da manhã na padaria em frente ao apartamento e resolveu tomar o desjejum lá mesmo enquanto Lucas ainda dormia.

Sentou próximo ao vidro onde podia vigiar a janela do apartamento, pois caso houvesse uma ameaça por perto, queria estar atenta aos sinais.

Enquanto mexia o café na xícara um medo congelante lhe sufocava causando-lhe arrepios pelo corpo. O barulho atrás dela a fez quase pular da cadeira e só relaxou quando percebeu que foi apenas um copo que caiu da bandeja da garçonete.

Há muito tempo que não sabia o que era viver sem sentir medo e depois do desaparecimento do filho o pânico e o terror aumentaram. Mas estava se esforçando para superar. Não queria que esse medo a paralisasse, por isso se forçava a sair de casa sempre que tinha oportunidade.

Olhou para o sinal à sua frente observando o vaivém de pessoas e de repente arregalou os olhos pensando ter visto um rosto conhecido no meio da multidão. Foi tudo tão rápido que a mulher de cabelos escuros e corte chanel já havia dobrado a esquina.

Alexa deixou o dinheiro sobre a mesa, abriu a porta e saiu. Viu a mulher caminhando com passos apressados no meio do povo, o seu casaco cinza se misturando aos demais, confundindo seus olhos, não a deixando ver nitidamente.

A rua estava movimentada e dos carros saíam os sons de sirenes e buzinas insistentes e ensurdecedoras. Alexa caminhava rápido, passando pelo meio do povo, olhando cada rosto de mulher e ficou um pouco perdida no meio da aglomeração de pessoas.

Parou na calçada próximo a uma barraca de lanches movendo a cabeça em todas as direções, buscando o objeto da sua curiosidade e quando olhou para frente a viu novamente. A mulher se deteve na entrada de um prédio comercial e olhou para o lado contrário. Não dava para ver o seu rosto, mas o coração de Alexa estava martelando dentro do peito. Seria ela?

A mulher abriu a porta e entrou no prédio, acompanhada por um número interminável de pessoas. Alexa passou pelo meio da multidão correndo como louca e também entrou no prédio. Viu uma fila enorme ao lado dos elevadores, se aproximou analisando cada rosto, mas não viu nenhuma mulher de cabelos escuros e corte chanel.

Parou desanimada. Estava exausta e vendo coisas; precisava de uma dose mais forte de calmantes.

Deu meia-volta, abriu a porta do prédio e saiu para a rua.

***

Ela abriu a porta do apartamento, se dirigiu para a cozinha e encontrou Dylan colocando leite e frutas na mesa. Lucas estava sentado comendo sua refeição com o olhar fixo no prato. Ele nunca levantava a cabeça para olhar quando alguém chegava, mesmo que fosse ela.

— Bom dia! — Alexa falou serenamente.

— O que houve? — Dylan perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

— Nada. Levantei cedo e fui comprar pão e biscoito.

— E onde estão o pão e o biscoito?

Naquele momento Alexa lembrou que havia esquecido de pedir o pão e o biscoito na padaria. Desviou os olhos de Dylan e os pousou na janela da cozinha.

— Ele ficou sozinho — disse Dylan apontando para Lucas.

— Eu não ia demorar — Alexa voltou a encará-lo.

— Você demorou! — Dylan falou enfatizando as palavras.

— Está me acusando de alguma coisa? — ela perguntou, aborrecida.

Dylan deu um sorriso irônico de canto de boca e não respondeu.

— Olhe aqui, eu sei cuidar do meu filho.

— Onde você estava? E se não fosse eu quem tivesse chegado?

— Não preciso de você me dando sermão — ela gritou.

— Eu só estava preocupado com a criança.

— Dispenso sua preocupação.

— Acha mesmo que o perigo já passou? Você nem sabe o que aconteceu com o seu filho enquanto ele estava desaparecido — Dylan falou encarando-a.

— Vá embora daqui! E a propósito, não entre mais na minha casa quando eu não estiver.

— Eu bati e ouvi as cabeçadas dele na madeira da porta, então usei a minha chave. Mas tudo bem, eu já estou saindo.

Dylan deixou a bandeja de alimentos em cima da mesa e arrancou o avental, em seguida atravessou a sala e saiu fechando a porta atrás de si.

Alexa permaneceu parada no meio do cômodo, limpando com as costas da mão as lágrimas quentes que escorriam pelo rosto.



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