Capítulo- 21

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O motorista saiu da rodovia principal e entrou numa estrada comprida e estreita de terra batida com muito cascalho. Parou o carro na frente do lago, estendeu a toalha, em seguida depositou uma travessa contendo frango frito, purê de batatas e frutas.

Senhor Blake, agora senhor Reddington, sentou o garoto sobre a toalha e acomodou-se ao seu lado na frente do lago, com os olhos fixos nas águas cristalinas.

Viajara várias horas até chegar àquele lugar sossegado para colocar a cabeça em ordem. Em Nova York não conseguia pensar por causa do barulho. Tinha gente demais nas ruas, nos metrôs, nos parques. Por que tinha tanta gente no mundo? Pessoas morriam todos os dias de causas diversas: doenças, acidentes, assassinatos, suicídios e mesmo assim Nova York continuava abarrotada.

Gostava da solidão. Não gostava de pessoas; elas eram ruins, enganavam, decepcionavam, magoavam. Quando tentava se encaixar sentia-se ainda mais fora de órbita, sem luz, sem vida. Sentia a rejeição e um buraco enorme se abria dentro de si, trazendo uma frustração que o corroía por dentro. Realizar-se era o mais alto intento humano e talvez por isso sentisse apenas tristeza e vontade de destruir a humanidade. Sofria por um complô do destino, mas ele, o destino, também lhe fez um favor ao lhe despertar um desejo que existe em muitas pessoas, porém nem todas admitem que o tem guardado dentro de si como um leão na jaula esperando o momento de pular sobre a vítima: a vingança é algo libertador, mas é também um caminho sem volta.

E estava chegando a hora em que tudo se resolveria. O momento esperado estava bem próximo e teria sua revanche, só precisava ter um pouco mais de paciência. Tinha tudo projetado, calculado, programado. A prudência era o segredo para o sucesso, por isso precisava encobrir o seu rastro com mais cuidado.

Havia planejado cada detalhe e encontrara o ambiente perfeito de que necessitava. Em breve tudo estaria resolvido e finalmente poderia descansar.

Quando pensava no que estava para acontecer suas veias latejavam com violência e o sangue cheio de veneno circulava num ritmo selvagem, antevendo sua vitória com um prazer mórbido e doentio.

Olhou para o menino sentado ao seu lado. Estava tremendo. Era febre.

***

Caminhava ao redor da cama onde a criança jazia molhada de suor. A febre do menino aumentava causando-lhe espasmos e sua pele estava terrivelmente avermelhada.

Já havia lhe dado os analgésicos que podia comprar na farmácia sem receita médica, mas parece que não estavam fazendo efeito e os medicamentos que havia na mochila do garoto acabaram.

Sentou-se na cadeira em frente da cama e ligou mais uma vez para a pessoa que era sua parceira, sua cúmplice, mas caiu novamente na caixa de mensagens. Há dois dias que ela não dava sinal de vida; nunca ficara tanto tempo sem se comunicar. Teria acontecido alguma coisa? Ela era responsável pelo transporte que deveria conduzi-los para o seu destino final. Sim, e lá ninguém jamais o encontraria. Havia se mudado para muitas cidades diferentes, sempre trocando de nome, se camuflando, mas em breve não precisaria mais se esconder. Caminharia livremente pelas ruas depois que eliminasse a pedra do seu caminho.

Dirigiu-se para o quarto ao lado, pegou água e um comprimido que estava na mesinha de cabeceira, o engoliu e deitou lentamente com a porta aberta. Ficou olhando para o teto. Consumido pela ansiedade, o coração mudava o ritmo, ora fraco ora forte e havia aquela terrível dor de cabeça que deixava seus pensamentos ainda mais confusos. Naquele momento só conseguia sentir angústia e vontade de matar.

Adormeceu e acordou assustado. Levantou e foi olhar a criança que estava se debatendo numa convulsão violenta. Desesperado, senhor Reddinton bateu com a própria cabeça várias vezes no espaldar da cama. Não era para ser assim. Não podia correr o risco de ser descoberto.

Cobaia 52Onde histórias criam vida. Descubra agora