Alexa entrou no apartamento arfando. Conferiu a fechadura da porta e passou a tranca. Ato contínuo, sentou no sofá e abraçou as almofadas. A exaustão a dominou e permaneceu imóvel, analisando os últimos acontecimentos, se perguntando quando teria paz e poderia andar tranquilamente, sem medo.
Depois de tudo o que passou naquela tarde fugindo de Lorenzo Ercolani, foi impossível não recordar o passado.
***
No momento em que soube da gravidez de Simona, Ravena ligou para Paolo e marcou um encontro. Enquanto jantavam em um restaurante elegante da cidade, ela despejou:
— Simona está grávida!
Paolo tomou um gole do vinho e respondeu calmamente:
— Ela me falou, mas nós vamos resolver o problema.
— Como assim, "resolver o problema"? Você quer que ela aborte?
— Eu não quero falar sobre isso agora. Planejei uma noite diferente para nós.
Ravena jogou o guardanapo de lado, levantou e disse:
— Se pensa em me usar e depois descartar como está fazendo com ela, buscou a pessoa errada. Não me procure mais.
Saiu do restaurante e foi caminhando na chuva. Um pouco adiante Paolo parou o carro e abriu a porta.
— Entra aqui, por favor!
Ela continuou andando.
— Preciso te contar umas coisas. E depois você decide se quer me expulsar da sua vida.
Ela entrou. Ele dirigiu em silêncio e quando parou na frente da casa dela desligou o motor, a encarou e disse:
— Eu me encantei pela Simona e quis de verdade me casar com ela. Mas no momento em que vi você eu me apaixonei perdidamente, loucamente. No entanto, o mal já estava feito; eu e Simona já transávamos há algum tempo. Ela me disse que usava pílulas e eu me descuidei. Só que nada disso que está acontecendo altera o que sinto por você.
— Não! Isso está errado! Ela é a minha melhor amiga.
— Ravena, eu te amo.
Ravena enxugou os olhos com as costas da mão e falou com voz trêmula:
— O seu lugar é ao lado da Simona. Eu não deveria ter me colocado no meio de vocês dois.
— Escuta, meu amor. Eu quero você, só você.
— É melhor que a gente termine tudo e que você assuma de uma vez o seu compromisso com ela.
— Não faz isso comigo, Ravena! Eu preciso de você. Preciso agora!
— Sinto muito.
Ravena saltou do carro com as lágrimas rolando pela face. Abriu a porta de casa e se jogou no sofá sem acender a luz. Colocou uma almofada na boca e chorou, gritou até ficar sem fôlego.
Estava arrasada! Paolo era o seu primeiro amor. Ele era tudo o que ela nunca sonhou ter, e não fazia a menor ideia do que havia feito para ganhar o amor daquele homem tão especial. Ele era lindo, um cientista importante, filho de um bilionário do ramo farmacêutico e ela não cansava de se perguntar o que Paolo tinha visto nela.
Tempos depois, um pouco tarde, Ravena descobriria o porquê de Paolo se interessar por ela. E não tinha a ver com amor.
***
Ravena havia decidido ficar longe de Paolo, por isso não atendia suas ligações e devolvia os presentes que ele enviava. Um dia no trabalho fez uma venda errada, passou por constrangimentos na presença do gerente e terminou o seu turno com o coração triste e a alma abatida.
Assim que saiu para a rua viu Paolo recostado no carro segurando um buquê de rosas vermelhas e uma caixa de bombons. Ela correu ao seu encontro e se jogou nos braços dele. Naquela noite Ravena se entregou para Paolo. Fizeram amor em uma suíte master de um hotel de luxo dentro de uma banheira de hidromassagem com uma garrafa de vinho e velas coloridas e perfumadas ao redor.
A partir daquele dia o relacionamento parecia ter ficado mais sólido. Viam-se constantemente e faziam planos para o futuro.
Certa noite depois que se despediram com um longo beijo, Ravena saltou do carro e se dirigiu para casa caminhando lentamente pela calçada quando deu de cara com Simona que a esperava no portão. A expressão facial da amiga estava dura e sombria.
— Então, era por isso que andava tão ocupada, não é? Você é mesmo uma vadia escrota!
No susto Alexa perdeu a voz. Aquela cena era tudo que ela não queria que acontecesse. Planejava contar para Simona sobre o seu relacionamento com Paolo, mas não sabia como e nem quando.
Permaneceu calada enquanto Simona despejava em seu rosto adjetivos inescrupulosos, rotulando-a com insultos degradantes de baixo calão. Tomada pela culpa, Ravena fez menção de segurar o braço da amiga, mas inesperadamente recebeu um tremendo bofetão estalado que deixou sua face corada e ardendo.
— Eu ia te contar — Ravena prosseguiu.
— Cala a boca, sua desgraçada!
Simona naquele momento estava totalmente desequilibrada. Ravena, no entanto, buscava dentro de si autocontrole para conseguir passar por aquele momento inevitável e doloroso. Optou por ser verdadeira e falou com a voz ligeiramente embargada:
— Paolo me ama e eu também o amo.
Simona deu-lhe o segundo tapa, dessa vez tão forte que a fez cambalear e se apoiar no muro. Ravena arquejou e soluçou enquanto uma tempestade de lágrimas precipitava dos seus olhos alagando o rosto dolorido.
— Eu nunca quis te magoar. Sinto muito.
Simona começou a rir desenfreadamente. Em seguida sua expressão facial ficou dura, perversa e havia um prazer malicioso na sua voz quando disse:
— Eu fui sua amiga quando ninguém mais a queria por perto. Fiz você se sentir incluída, um ser humano de verdade, e olha como me pagou.
Àquela altura, Ravena só chorava, enquanto Simona descontrolada pela dor e pelo despeito, gritou a plenos pulmões:
— Você vai pagar caro por isso, sua vagabunda ingrata!
Em seguida voltou abruptamente às costas e afastou-se deixando Ravena completamente destruída.
***
Quando o senhor Leonardo Gasparri soube pela boca de Simona que ela estava grávida e que Paolo havia terminado o namoro, ficou irado. Mandou chamá-lo, esqueceu a educação e os bons costumes e o sacudiu pelo colarinho da camisa ordenando que ele se comportasse como um homem de verdade. Paolo concordou em manter o compromisso com Simona, ambos apertaram as mãos e o noivado foi marcado.
Uma semana depois enquanto dirigia na rodovia em alta velocidade, o senhor Gasparri percebeu que o freio do carro não estava funcionando, mas era tarde demais porque o veículo derrapou na curva que estava à frente e caiu no despenhadeiro. Em seguida explodiu.
Paolo não pretendia deixar que ninguém atrapalhasse os seus planos, por isso teve que se livrar do senhor Gasparri.
Permitiu que Simona chorasse a sua perda e um tempo depois a levou para uma clinica clandestina para fazer o aborto. O choro da moça pela gravidez avançada de quatro meses não o impediu de arrastá-la à força e entregá-la nas mãos do médico, sem piedade nem remorso.
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Cobaia 52
Mystery / ThrillerEla casa com um cientista bilionário, louco e perverso, herdeiro de uma empresa farmacêutica multinacional. É mantida prisioneira numa ilha durante quatro anos, usada como cobaia em um experimento científico e tem a sua saúde física e mental desesta...