Capítulo- 16

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Algo a fez acordar no meio da noite. Alexa abriu os olhos e ficou ouvindo atentamente os sons contínuos e intermináveis. Levantou descalça, abriu a porta do banheiro e fechou a torneira da pia.

Passar a noite em um hotel barato no subúrbio era no mínimo, assustador.

Voltou sonolenta para o quarto e deu um grito quando viu Dylan em pé próximo ao espaldar da cama. Antes que ela pudesse fugir foi alcançada por ele que segurava a mesma faca grande e brilhante que havia cortado os bifes.

Dylan a segurou pelo cabelo encarando-a e deslizou a faca horizontalmente no seu pescoço de um lado a outro.

Alexa acordou e sentou na cama. Estava encharcada de suor, com o coração batendo como um tambor. Seu primeiro gesto foi levar a mão ao pescoço, em seguida respirou aliviada quando percebeu que foi apenas um sonho ruim.

Mas seu estômago estava borbulhando e ela correu para o banheiro, ajoelhou no chão e vomitou. Depois voltou para a cama segurando-se nas paredes com as pernas trêmulas.

Como era ingênua e tola! Mais uma vez acreditou em um homem e mais uma vez foi enganada. Havia alguma coisa errada com ela, pois só atraia psicopatas.

Aquele sonho fez seus pensamentos retrocederem.

***

Ravena viveu seu momento de contos de fadas quando Paolo a pediu em casamento. A cerimônia foi muito simples, contando apenas com a presença do padre e do juiz. Em seguida ela foi colocada por Paolo dentro de um barco bonito, cheio de luzes e seguiram em direção à sua nova moradia.

Assim que o barco aportou na ilha particular de Paolo, Ravena ficou encantada com o lugar. Seguiram abraçados em direção à casa de três andares toda de vidro e enquanto lhe mostrava a residência, Paolo avisou que o último andar fazia parte do seu laboratório de pesquisa.

Ravena não conseguia acreditar que tinha uma ilha só para ela. E todas as manhãs acordava cedo e caminhava descalça na praia na companhia das aves marinhas que voavam acima da sua cabeça.

A ilha tinha quatro seguranças que ficavam em pontos estratégicos, além dos empregados que cozinhavam e faziam a limpeza. Ela não saia dali para coisa alguma, estava no paraíso. O único ponto negativo era que não havia sinal para internet e ela vivia desconectada com o mundo exterior.

Com menos de um mês que estava na ilha ela pegou um resfriado e teve a oportunidade de conhecer pela primeira vez o trabalho do marido. O laboratório funcionava numa sala tão branca que doía a vista. Sobre as bancadas havia frascos transparentes de diversos tamanhos cada um contendo líquidos de uma determinada cor e sobre uma grande mesa centralizada havia três microscópios.

Paolo pediu que ela sentasse numa enorme poltrona hospitalar, em seguida tomou o seu braço e o amarrou com um garrote de látex, e por fim injetou alguma coisa nela.

Quando acordou Alexa piscou várias vezes para se acostumar com a luz e viu Paolo sentado na beirada da cama. Ela sentia uma sede insuportável e bebeu dois copos cheios de água.

— Como se sente? — Paolo perguntou.

— Bem.

— Mesmo?

— Sim. Por quê? O que houve?

— Injetei em você uma substância para aumentar a sua imunidade.

Ravena passou o dia bem e foi caminhar na praia, porém no dia seguinte começou a sentir fortes dores de cabeça. Novamente foi conduzida ao laboratório e recebeu mais uma droga injetável. Dormiu um dia inteiro e acordou sem dor, mas no terceiro dia começou a sentir enjoo e dores nas articulações.

E aquilo nunca mais parou. Era constantemente levada ao laboratório para receber doses cada vez mais fortes de substâncias que ela não fazia a menor ideia do que se tratava.

Passou a sentir coisas estranhas no corpo, num dia acordava doente sentindo-se fraca sem conseguir levantar da cama e no outro despertava nas primeiras horas da manhã disposta e cheia de energia.

Quando descobriu que esperava um filho atribuiu aqueles sintomas à gravidez e cada vez que recebia uma droga na veia os efeitos colaterais se multiplicavam no seu organismo.

No momento em que Lucas nasceu ela percebeu algo diferente nele e ao final do primeiro ano soube que ele era autista. O bebê dormia pouco e quando o fazia tinha o sono agitado. Na maioria das vezes Ravena ia para a varanda com o filho e ficava olhando o mar enquanto o acalentava. E foi assim que ela viu pela primeira vez quando Paolo trouxe uma "voluntária" para participar das suas pesquisas. Chegaram de barco bem cedo, quando o sol ainda estava nascendo. A moça em questão era negra, jovem e bonita, com a pele dourada e brilhante. Depois dela vieram outras e mais outras e Ravena perdeu as contas de quantas mulheres viu chegar na ilha.

Depois disso, aprendeu a espionar quando Paolo tinha visitas. Apenas uma vez viu Armando Ercolani e ouviu escondida a conversa dos dois. Compreendeu que Paolo nunca havia falado dela e do filho nem para a família e nem para outra pessoa qualquer. Era como se ela e Lucas não existissem.

Aos poucos passou a conhecer de verdade o homem que era o seu marido. Ele era louco; um louco disfarçado e perigoso que o mercado farmacêutico aplaudia. Entendeu também porque ele havia se casado com ela. Paolo precisava de uma garota que não tivesse família, alguém que fosse descartável e ela era a vítima perfeita. Na verdade, Paolo sabia que um dia a mataria, se não fosse pelas drogas injetadas seria com as próprias mãos para que ela não denunciasse os seus crimes. E quando isso acontecesse ninguém saberia que um dia ela sequer existiu.

Enquanto isso Lucas estava crescendo, porém a sua mente ainda era igual a de um bebê recém-nascido. Ravena não aceitou mais os diagnósticos online feito pelos médicos amigos de Paolo e pediu para visitar outros especialistas, mas ele não permitiu.

Os seguranças não a deixavam chegar perto dos barcos e Ravena compreendeu que era uma prisioneira naquele lugar. E foi então que começou a desconfiar que tanto ela quanto as mulheres que chegavam à ilha estavam sendo cobaias de drogas que ainda não haviam sido testadas em humanos.

Mais tarde ela descobriria que aquelas mulheres nunca saíram da ilha. Todas morreram ali.

A situação foi ficando insustentável. Ravena pensou em tudo o que estava acontecendo com ela e sentiu medo de morrer, porque se morresse Lucas não conseguiria sobreviver sozinho. E foi assim que começou a bolar um plano de fuga.

Uma vez por semana o homem do mercado vinha de barco entregar as compras. Um dia Ravena o esperou no píer e comprou o barco dele. Pagou o valor de três barcos, com o dinheiro que tirava de Paolo às escondidas e pediu que o homem o escondesse debaixo do píer que ficava nos fundos da casa. Naquele dia o homem só foi embora à noite de carona no barco do cozinheiro.

Normalmente usava-se o outro píer que ficava na frente da casa na direção do farol. Aquele lado do mar que ficava nos fundos da casa ia dar na vila de pescadores e o trajeto era de lama e águas escuras. Muitos barcos ficavam atolados, por isso ninguém se aventurava por aquela parte da ilha. Mas Ravena iria se arriscar porque era tudo o que ela tinha para escapar.

Naquela noite foi até a cozinha e colocou sonífero no suco dos vigilantes. Foi assim que ela fugiu de madrugada com o filho nos braços. 

Cobaia 52Onde histórias criam vida. Descubra agora