Narrado por Celina
-Bom, você se esforçou, ao menos.
-Eu venho estudado muito durante esses meses. O que acha? Estou pronta?
Ágatha parece um pouco pensativa enquanto analisa minhas anotações em livros bruxos. Seus olhos vão de um lado para o outro, mas ela continua com o corpo inteiro estático e concentrado.
A cabana singela em que ela foi realojada ao voltar do exílio já foi tomada pela decoração extravagante. Cortinas em tons fúcsia ocupam todas as janelas, acompanhadas de relógios antigos, quadros e bordados nas paredes. Alguns livros e frascos coloridos também se encontram acumulados em prateleiras, organizados por cores.
É estranho pensar que, tum dia, eu poderei ser assim também.
A mais velha solta um grunhido, me trazendo de volta a realidade.
-O que me preocupa, Celina, não é exatamente sua inteligência teórica, e sim emocional. Um ritual como esse carrega junto de si uma quantidade grande de informações que podem ser prejudiciais para alguém que não tem uma saúde mental bem construída...
-Eu encaro! Eu já encarei coisas piores antes! Eu....
-Exatamente. Você passou por muita coisa, e ainda está se recuperando de tudo isso. Mais bagagem para carregar não vai ajudar em nada no seu processo de....
-Ágatha, eu não preciso que você me trate como uma criança. Eu estou ótima. Na verdade, nunca estive tão bem! Eu só quero fazer esse ritual logo e tirar isso da minha frente de uma vez por todas! A minha mãe já era uma bruxa experiente na minha idade!
Ela se encolhe, como faz toda a vez que menciono meus pais.
Ágatha, na verdade, tinha sido uma amiga de infância da minha mãe. Foi por isso que Valquíria reconheceu o sobrenome quando estávamos na Guerra. Mas mesmo que tenha tido o que parece ter sido uma amizade duradoura, minha mentora nunca entrou em detalhes sobre a relação, não importa o quanto eu insistisse.
Como toda a vez que entramos nesse assunto, ela tenta dispersar a atenção para alguma outra coisa.
-Certo, acredito que podemos começar os preparativos, então. Já que você está tão certa de que quer isso.
Ela arruma os cabelos castanho claros com as mãos e segue para a porta da entrada, abrindo-a.
-Eu vou conversar com Val e partiremos daqui alguns dias. Arrume as malas.
-Espera. Como assim "partiremos"?
-Normalmente, as bruxas e suas mentoras devem fazer uma trilha até a caverna das Encantadas, onde realizarão o ritual. A viagem a pé dura alguns dias, mas é parte do seu processo.
Ela se aproxima e coloca as mãos em meus ombros.
-Nós três vamos para a floresta e voltaremos assim que você conseguir seus poderes. É um caminho sem volta, Celina. Você tem certeza de que está pronta?
Um misto de medo e empolgação preenche meu estômago. Ainda assim, não deixo de sorrir.
-Eu estou pronta!
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Notas da autora
E la vamos nós de novo
A imagem no início do capítulo é um desenho autoral feito para representar a personagem Ágatha
Até o próximo capítulo!
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A Ladra de Lumis: Sombras do passado
Fantasy*É recomendado ler o primeiro livro da saga antes de iniciar este! Uma nova era inicia-se em Lumis. A barreira e Tenébris foi derrubada, e os reinos estão em discórdia. Celina, agora livre, finalmente decide dar mais um passo em direção a suas raíz...