Capítulo 22: Urna

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Narrado por Emily

Ágatha deixa Celina no chão, a cabeça apoiada em uma pedra. Me agacho ao seu lado.

Os olhos ainda estão fechados, e os cabelos completamente tingidos de vermelho sangue. Ela parecia quase....Ruiva.

A imagem faz Ágatha se afastar, um pouco agoniada.

-Seu nome era Verona, correto?

A outra apenas assente, ainda muda.

-Eu não me orgulho do que fiz, mas, se quer saber, eu não acho que me arrependo – Ela começa – Alguns pais fazem de tudo pelos filhos, não é?

Abro a mão, revelando o colar de esmeraldas, agora arrebentado. Nunca havia tirado ele. Era estranho não sentir mais seu peso.

-Não é para mim que você deve se justificar, Ágatha.

Viro um pouco a cabeça, encarando-a com o canto dos olhos

Um barulho corta o silencio. Celina abre os olhos de repente, e se levanta de forma brusca.

-EMILY! Aiii!

Ela pressiona a parte de trás da cabeça e se joga no chão novamente, tonta.

-Ei, vamos com calma!- Seguro-a. Seus olhos, felizmente, não brilham.

-Emi! Ah, que bom que você está bem! – Ela envolve meu pescoço com seus braços, o rosto na curva de meu ombro.

-Você voltou! – Retribuo o abraço, depois seguro seu rosto com as mãos e a afasto um pouco – Sério, eu vou matar você! O que eu te disse antes de você sair para o seu ritual?! EU AVISEI PARA VOCÊ TOMAR CUIDADO! E você fez o que? Você quase morre! Celina, eu juro, você ainda vai me dar um ataque cardíaco...

-Não grite no meu ouvido, por favor. – Ela coloca as mãos sobre as orelhas e espreme os olhos. Depois abre-os novamente e encara as palmas sangrentas –Meu caralho, isso dói!

Ajudo-a a levantar. Quando ela nota a presença de Ágatha, o pequeno sorriso que expressava some.

-Que bom que está viva, Celina...

Ela assente com a cabeça.

-Pelo menos isso...

De repente, ela arregala os olhos, e toca a bochecha, desenfreada.

-Espera, o ritual! Ele...

-Ele aconteceu – A mais velha tenta acalma-la – Você...Você é uma bruxa agora, Celina...

-Mas...Eu não me lembro....

-Morgo deve ter realizado o ritual enquanto você estava enfeitiçada. É comum que você não se lembre de nada ou apenas algumas partes do que aconteceu enquanto ele estava na sua mente.

Ela parece abalada no início, mas então olha para as próprias mãos.

De repente, seus braços ficam em chamas.

-CARALHO – Eles voltam ao normal rapidamente – Cacete! Puta merda! Fui eu quem....

Ela parece ao mesmo tempo aterrorizada e curiosa.

-Espera...AH MEU DEUS, EU MACHUQUEI VOCÊ! EU SOU UM MONSTRO, EU...

-Celina, por favor, acalme-se! – Ágatha a segura pelos ombros – Está vendo?! Era por isso que eu não queria que você fizesse o ritual! Você não soube lidar com suas emoções, e olha onde estamos agora!

Todas ficamos quietas. O ar parece ficar denso.

-Você está certa.

Sinto algo pingar em meu rosto. Gotas de água.

Mas as gotas não caem do céu.

Elas vem pelas laterais.

A minha direita, uma grande onda se aproxima.

A princípio, me desespero, pois acho que pode ser um tsunami, mas aos poucos, ela vai diminuindo, até desaparecer por completo dentre o jardim.

Yara emerge das flores, carregando Valquíria.

-Você pode descer agora – Fala para a garota, que apenas faz que não com a cabeça lentamente, os olhos arregalados. A princesa revira os olhos.

-Yara? – Celina questiona – O que vocês estão...

-Fiquei sabendo que estavam tentando matar vocês. Não gostei. Eu queria ter esse privilégio.

Sua expressão é séria, mas aos poucos vai suavizando, virando um sorriso. Ergo as sobrancelhas, confusa.

-Seu humor é horrível!

-Bom, eu tentei. – Responde – De qualquer forma, estamos escapando de Valentim. Ele ficou maluco!

-Sabemos! Conseguimos tirar Morgo do corpo de Lin, talvez consigamos tira-lo do corpo dele também! – Comento

-Isso não vai bastar – Ágatha aponta, se aproximando – Quando Morgo for expulso, ele vai assumir sua verdadeira forma. E quando isso acontecer, precisamos estar preparados!

-Como?

Ela parece ponderar por um segundo.

-Precisamos de uma urna.

Ficamos em silêncio, confusas. A mulher suspira.

-Quando Morgo assumir sua forma original, podemos aprisiona-los na urna. Queimamos ela depois disso, para que possamos mata-lo. É o único jeito....Mas é impossível.

Yara une as sobrancelhas.

-Se é impossível, porque você sugeriu, então?!

-Precisávamos de uma urna encantada! E essas urnas não existem mais. Todas foram confiscadas pelo governo durante o período sangrento, junto com outros materiais bruxos. Sabe lá o que fizeram com eles!

Uma lâmpada parece ascender sobre a cabeça de Celina.

-Eu sei onde podemos encontrar uma!


A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora