Capítulo 21: Ervas daninhas

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Narrado por Emily

O esforço nas mãos de Morgo é constante. Não me mata, mas também não me deixa respirar o suficiente. Me debato em seus braços, enquanto sua expressão continua quase entediada.

Ele se aproxima um pouco, nossos rostos a centímetros de distância.

-É uma pena – Susurra – Ela poderia ter sido mais útil.

Olho para Celina, ainda ímovel no chão. Uma poça sangrenta começa a surgir sob sua cabeça, manchando os cabelos loiros. Um pensamento surge em minha mente, e quero acima de tudo que eu esteja enganada.

-Desista, criança – Continua – Já é tarde demais para ela, ou qualquer um de vocês. Acabou.

-Por que...?- Engasgo – Por que tudo isso?...

-A erva daninha precisa ser eliminada para que possa ser plantado um novo jardim...- Reconheço essa frase. Li ela em um banner em frente ao castelo uma vez. Foi durante o Período sangrento - Não era isso que vocês diziam? Uma nova era começa, e para que isso aconteça, vocês devem morrer...Todos

-E quando acaba?! Quando as pessoas vão poder parar de morrer? Quando vamos poder só viver juntos e...

Ele ri alto

-Eu imaginei que alguém como você não entenderia as motivações de alguém como eu – Sua outra mão toca as tranças na lateral de meu rosto, e tenho quase certeza de que vejo algo brilhar por debaixo de sua venda – Pais amorosos, casa, uma infância feliz...Ou quase

Ele agarra o colar em meu pescoço e o arranca. A pedra esmeralda reluz em seus dedos.

Uma memória surge na minha mente. Algo que eu me forcei, durante anos, a esquecer.

Um casal acamado. Tosses cortantes de doentes rasgavam o silêncio como facas. O mesmo colar sacudindo nas mãos trêmulas de minha mãe enquanto ela o colocava nas minhas mãos. Seus olhos se fechando aos poucos, os de meu pai também.

-Os seus permaneceram abertos -Ele completa meus pensamentos – Você querendo ou não...

Sua mão se fecha por completo, cortando finalmente minha respiração.

-Eu vou acabar com esse sofrimento, criança. Com o sofrimento de todos. Hora de erradicar o mal que envenenou essas terras por tanto tempo. Vocês são apenas o começo.

Ele coloca os dedos sobre a venda e a puxa. Seus olhos são como dois buracos negros extremamente brilhantes.

Meus olhos se fixam com os dele, e não consigo parar de olhar. A sensação era esquisita, como se milhares de fogos de artifício estourassem na minha visão, e meu cérebro estivesse prestes a explodir.

Tudo é luz. Tudo é barulho. Sinto as unhas dele prestes a perfurar minha pele, e gotículas de sangue parecem flutuar ao meu redor. Um vaso sanguíneo estoura no meu olho, e o pouco de visão que tenho se torna levemente embaçado.

O homem sorri, como se estivesse prestes a completar um incrível feito, quando ouço um barulho vindo de trás dele.

Morgo apenas grita, depois se joga no chão, me libertando.

Tento recuperar o ar com certa dificuldade, e quando minha visão começa a voltar ao normal, vejo que uma faca brilhante atravessou o peito do feiticeiro. Ágatha quem a colocou ali.

-Vamos – Ela me puxa. Atravessamos o salão correndo, e ela se ajoelha até Celina e coloca os dedos sobre a veia de seu pescoço

-Está viva – Suspira de alívio e a pega nos braços com certa dificuldade.Ajudo-a.

-O que faremos agora?!

-Conseguimos matar o corpo hospedeiro atual, e libertamos a Celina. Isso é bom. Agora precisamos pensar em um plano.

-Plano para que?

-Para exorcisa-lo do corpo de Valentim – Responde – E destruí-lo para sempre.  

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Notas da autora:

Sim, pessoal, o momento chegou...

Estamos entrando em reta final

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora