Capítulo 27: Todas as pontas soltas

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Narrado por Celina

Há papéis naquela caixa.

Apenas isso. Um grande aglomerado de papéis.

Valentim começa a folheá-los, espremendo os olhos. Alcanço seus óculos e me aproximo. Val e Emi fazem o mesmo.

Não são documentos ou jornais, como eu achei que seria. São cartas.

" 14 04 1***

Meu amado, Tom

Desde nosso último encontro, tem sido uma tortura viver na normalidade monótona do dia a dia.

Nada acontece quando se tem uma vida como a minha. São sempre os mesmos compromissos, as mesmas pessoas, os mesmos lugares. Nada de novo. Deve achar que eu sou ingrata por reclamar, mas precisava ser sincera.

Por outro lado, quando não se há nada para fazer, ocupo minha mente pensando em você, seus olhos, seu sorriso e suas histórias. E é como se meu mundo cinzento voltasse a ter cores novamente.

Você acabou se tornando meu grande vício. Minha ascensão e minha ruína.

E, durante noites frias como a que me encontro enquanto escrevo essa carta, o raio de sol que me aquece por dentro.

Espero que esta carta chegue em suas mãos em segurança. Espero que esteja em uma de suas grandes aventuras e possa me escrever sobre elas em breve.

Com todo o meu coração

Da sua amada, Zayra"

A carta seguinte tem uma caligrafia diferente.

" 08 05 1***

Para minha inesquecível Zayra...

Sua carta foi como um presente de boas vindas quando cheguei em casa está manhã. Acabo de voltar de uma trilha ao redor das cordilheiras de Glácias (Falarei mais sobre isso em breve) .

Embora me entristeça saber sobre sua constante rotina melancólica, não deixo de sentir certo alivio em saber que tenho te ajudado a passar por tempos tão difíceis, mesmo que tão longe.

Acredito que ficaria feliz em saber que sua imagem também tem preenchido meus pensamentos. As aventuras que eu vivia antigamente hoje não são as mesmas, pois a todo momento me pergunto o quão melhor tudo poderia ser se você estivesse comigo.

Mal posso esperar para o dia em que possamos fugir desse lugar fúnebre e finalmente viver juntos, sem tanto tempo de espera ansiosa entre nossos encontros.

Mas, enquanto isso não acontece, me cabe apenas te escrever todas as palavras de amor que me vêem a cabeça quando penso em teu nome, e torcer para que, acima de todo o caos, voc~e esteja bem.

Sempre Seu, Thomaz"

As cartas começam a ser espalhadas pela mesa com rapidez, e consigo ler apenas algumas frases soltas.

"Nos encontraremos no jardim"

"Meu marido..."

"Tenho sentido tonturas ultimamente, e meus enjoos começaram a crescer..."

"Ele descobriu"

"Eu te amo"

"Zayra"

"Thomaz"

-Quem é esse homem? -Valentim pergunta, com um fio de voz.

Eu e as meninas nos entre olhamos, nos perguntando quem deveria avisá-lo

-Eu acho...-Começo, tentando ser cautelosa – Que esse homem estava tendo um caso com sua mãe, Valentim.

O quarto mergulha em silêncio. Há mais papeis na caixa, mas são diferentes. Parecem ser novos, diferente das cartas, que já estavam amareladas e amassadas.

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora