Capítulo 6: Floresta

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Narrado por Celina

Ágatha nos espera na entrada da floresta. Ela traja um macacão de mangas compridas e seu cabelo está preso em um coque alto.

-Celina – Val sussurra ao meu lado – Tente relaxar, ok? Vai ser um processo longo, então aproveite ele.

Concordo com a cabeça, logo depois nos juntamos a mais velha.

-Bem vindas, meninas- Ela começa – Estamos aqui hoje para iniciarmos uma jornada essencial na vida de qualquer bruxa...

Sous olhos se voltam para mim. Eles são iguais aos da filha.

- Começaremos com a Celina fazendo uma prova de 30 páginas sobre os conhecimentos básicos da bruxaria

Arregalo os olhos, transbordando desespero. Valquíria logo complementa:

-É uma brincadeira, Celina. Você não vai ter que responder nada. Por enquanto.

Solto todo o ar que estava prendendo de uma vez.

-Vocês são as criaturas mais engraçadas que eu já conheci – Ironizo

-Ah, onde está seu senso de humor? – A garota coloca o braço nos meus ombros- Temos que descontrair!

-Achei que rituais fossem uma coisa tipo, super séria?

-Não sobre minha supervisão. Eu sou aquela tia legal que faz piadas nas festividades de fina de ano.

-Essas piadas geralmente são horríveis – Retruco – E você só é dois anos mais velha que eu, criatura!

-Que seja.

Embora as vezes seja um pouco....Demais...Ela esta tentando ao máximo se encaixar desde que chegou aqui. Eu entendo esse sentimento.

-Se as duas já terminaram -Ágatha puxa um pequeno papel com anotações e espreme os olhos para lê-lo – Celina, como eu já disse para você, esse é um caminho sem volta. Ao adentrarmos nessa floresta, só poderemos sair quando você tiver sua marca. Então, vou lhe perguntar mais uma vez: Você realmente quer isso? Por livre e espontânea vontade?

-Eu realmente quero – Respondo - Por livre e espontânea vontade.

Ela entende a mão para mim, e quando baixo os olhos, vejo que está em chamas. Recuo

-Ei, não me falaram que eu deveria colocar fogo em mim mesma para iss-

-Elas não vão de queimar – A outra responde – Elas são tipo um selo. Aperte.

Com um leve receio, me aproximo aos poucos. Ao apertar a mão da mulher, eu não a sinto queimar. É como um calor morno e calmo. A chama brilha mais intensamente quando nos tocamos, e depois volta ao estado normal. Ágatha puxa de sua bolsa um pequeno lampião e coloca a mão dentro. O fogo meio que se transfere para dentro do vidro.

-Ficará acesso até você concluir o ritual. Ele iluminará o nosso caminho.

Em seguida ela se vira e começa a guiar a caminhada. Uma brisa suave corre pela floresta, e me lembro do dia em que sai da prisão. Parece fazer tanto tempo.

-E ai, ansiosa?

-Nervosa. Como foi sua iniciação?

-Correu tudo bem. Foi meio improvisada, mas conseguimos achar um lugar no exílio que substituía a gruta encantada de Lumis, então deu tudo certo.

-Você convivia com muitas bruxas? Sabe, em Tenébris?

-Não gosto desse nome.

-Tenébris? Porque não?

- Tenébris significa "Tenebroso", como se aquele lugar fosse habitado por seres amaldiçoados ou coisa assim. É um apelido idiota. Gosto de "Exílio", é mais realista.

-Nunca tinha parado pra pensar nisso...

-A maioria das pessoas nunca pensou. Mas, respondendo sua pergunta: Não, não convivia com muita gente. Na maioria do tempo, éramos só a minha mãe, eu e....

Ela para de repente

-Enfim, minha avó também nos visitava de vez em quando. Mas nos acabamos nos afastando.

-O que houve?

-Problemas – Ágatha responde, seca. Ela estava ouvindo a nossa conversa – Nós tínhamos opiniões diferentes sobre assuntos diversos.

Ela dá a conversa por encerrado. Embora já as conheça a algum tempo, nunca consegui ouvir sobre a vida de ambas no exílio. Era como uma grande lacuna que nem a mãe nem a filha sentiam vontade de preencher

O resto da caminhada é silenciosa. 

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora