Capítulo 11: Os arquivos enterrados no porão

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Narrado por Celina

-Finalmente você ligou! -Comento ao atender o chamado do walkie-talkie - Estava com saudades!

-Precisamos conversar.

Uno as sobrancelhas. A voz de Emily está arrastada por trás do telefone. Parece cansada.

-Qual o problema? 

Silêncio. 

-Você está sentada? Por que eu sugiro que faça isso antes de me ouvir. 

-Emi, você está me assustando!

Faço como ela disse e me sento em um toco de árvore no meio da floresta.

-Me diga o que está acontecendo!

-Valentim teve alguns...imprevistos aqui em Virdes...

-Como assim "imprevistos"?! Ele está bem? !

-Só me escute! Ele me contou que tinha prometido a você que daria uma olhada nos arquivos do castelo em busca de bruxos mestiços como você. Se lembra disso?

-Sim...

-E eu fiz isso. E acabei encontrando...Coisas. 

Mais silêncio.

-Emily, eu nunca achei que teria que te pedir isso - Falo, meio sem paciência - Mas fale comigo!

-Sua mãe foi presa quando tinha 26, certo?

-Certo....

-Bom, acontece que ela está nos arquivos de procurada desde que tinha 19...

-Eu...Bom...Não acho que estou entendendo onde você quer chegar. 

-O ponto, Celina, é que ela já estava marcada pela coroa muito antes de conhecer seu pai. Ela foi delatada para a inquisição quando era jovem. Eles passaram anos procurando-a.

Arregalo os olhos

-Você disse "delatada"? Alguém entregou ela para a realeza?

-Exato. E ela passou sete anos fugindo. 

Minhas mãos começam a tremer. 

-Quem foi? -Pergunto rapidamente.

Há pequenos ruídos vindo do outro lado da ilha, mas Emily não diz nada.

-Emily, quem delatou ela?

Ouço-a suspirar

-Foi a Ágatha.

De repente, me sinto sem chão. É como se eu pudesse desmaiar a qualquer momento. 

-Ela também está nos registros. Foi presa quando jovem, mas a enviaram para o exílio quando..Bem...

-Quando ela entregou minha mãe. 

Fazia sentido. O exílio era uma espécie de "recompensa" para os bruxos que colaboravam para a coroa. Eles entregavam seus amigos e família em troca de sua vida. Nunca me perguntei quem Ágatha teria delatado. Agora eu sabia.

-Celina?

A voz de Emily começa a surgir como um eco distante. Meus olhos enchem de lágrimas. Aquelas lágrimas de ódio, que queimam a pele conforme escorrem pelas bochechas. 

-Eu preciso ir, Emily.

E antes que ela possa dizer algo, eu desligo o walkie talkie. 

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora