Capítulo 18: Corra!

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Narrado por Yara

Tentei escapar de Valentim subindo no telhado do castelo. É mais alto do que eu lembrava.

-Não tente fugir de mim, Yara! – Escuto- o gritar

Atravesso todo o telhado até chegar na borda do castelo. Penso em manipular a água ao meu redor para que possa escorregar para baixo de forma segura, mas é tarde demais.

-Podemos ir direto ao assunto agora?

Me viro para dar de cara com o garoto. Ele esfrega o curativo na lateral do corpo, que voltara a sangrar. Parece assustadoramente calmo.

-Valentim...Eu realmente não quero te machucar...

-Você deixou isso bem claro – Cospe, de forma venenosa

-Você não e assim! Eu não sei que porra aconteceu com você nesse meio tempo, mas você não é esse tipo de pessoa! Não é um assassino!

-E o que você sabe, Yara? Não foi você quem disse que não sabíamos nada um do outro?

Esquadrinho o terreno, tentando bolar um plano.

Atenção: não tentem isso em casa, crianças.

Antes que ele possa fazer qualquer coisa, eu pulo em direção a cachoeira

E caio.

E continuo caindo.

Espremo os olhos, tentando focar cada pedaço do meu ser na água.

E quando estou na metade do caminho, eu começo a subir.

Uma grande onda se forma nos meus pés, me elevando mais e mais. Ultrapasso o nível do telhado, o garoto continua me encarando.

-E então, majestade? – Grito – O que tem a dizer agora?

A primeira vista, ele parece irritado, mas então tira a mesma pistola de antes do bolso.

-Como as pessoas costumam a dizer? "Vida longa a rainha?" – Ele solta uma risada sarcástica- Pena que você não vai ter tempo de se tornar uma.

E então, ele atira.

Espremo os olhos e estendo os punhos sobre o rosto, na esperança de que os braceletes grossos parem a bala.

Mas ela nunca chega a tocar meu corpo.

Ela paira no ar, no meio do caminho. E então, se desintegra.

-Mas o que..?.- Ouço o menino perguntar, antes de se virar e receber um soco no rosto, forte o suficiente para deixa-lo inconsciente.

E atrás dele.....

Só pode ser brincadeira.

-Desculpe, Valentim!

Valquíria se abaixa até o corpo do garoto e toca seu rosto, depois levanta a cabeça em minha direção e faz um sinal de positivo com as mãos.

-ELE DORMIU! PODE DESCER!- Grita

-NÃO, OBRIGADA – Também grito em resposta, o que faz a garota revirar os olhos.

-EU ACABEI E SALVAR A SUA VIDA! DESCE, MERDA!

-NÃO CONFIO EM VOCÊS!

Ela parece bufar.

-Ok, fique aí, se preferir!

-O que está acontecendo, afinal? – Aponto para o corpo aos pés da menina. -Desde quando o Valentim tenta atirar nas pessoas?!

-É uma longa história...

Espremo os olhos.

-Se tentar me matar, eu mato você!

-Eu não tenho dúvida disso

Abaixo o nível da onda um pouco. Apenas o suficiente para ouvi-la sem que tenha que gritar. Aponto a espada para sua direção e ela ergue as mãos, em sinal de rendição.

-Agora explique: Que porra aconteceu com ele?!

-Essa é a questão. Ele não é o Valentim!

Um longo silencio se estende, como se ela estivesse esperando que eu conclua seu raciocínio.

-Você quer que eu tire alguma conclusão mágica sobre isso? -Pergunto – O que você quer dizer?!

-O que eu quero dizer, Vossa grosseria Real, é que alguém está controlando a mente do Valentim.

Arregalo os olhos

-Então ele está tipo....Possuído?

Ela me encara como se eu fosse a criatura mais burra do planeta

-Não, Yara, ele não está possuído. A mente dele está sendo controlada. São coisas diferentes...

-Ah, sim, muito diferentes – Ironizo – Ok, mas, por quê? Como isso aconteceu? Quem está fazendo isso?!

-Acredito que é uma entidade que estava hospedada no exílio. Ele tem o poder de manipular mentes e...

-Ah, claro que isso tinha que ter vindo de lá! Porque sempre que algo catastrófico acontece você estão sempre envolvidas?!

Ela abaixa as mãos e faz uma expressão ofendida.

-Escuta aqui: Primeiro: Essa merda que estava controlando todo mundo não é um feiticeiro, ou uma bruxa! Ela é uma entidade inimiga de todos que estava no exílio por acaso. Não tem nada haver conosco!

-Sim, mas ela estava em Tenébris, não? Ela foi solta quando a barreira abriu então...

-Ah, então enquanto só nós estávamos em perigo, essas coisas não eram um problema, é isso?!

Somos interrompidas por um grunhido. Valentim está acordando

Ele gira a cabeça e me encara. Seus olhos parecem perfurar meu cérebro

-Yara – Valquíria sussurra – Corra.

-Como?

-VAI!

Ela se coloca na minha frente, me empurrando. Outra onda aparece me impedindo de cair.

E do alto, vejo Valentim se levantar, voltando a assumir sua postura sanguinária.

-ELE VAI TE MATAR! -Grito

-EU ME VIRO!

Reviro os olhos e avanço sobre eles novamente. Antes que Valentim possa fazer qualquer coisa, a onda cai sobre sua cabeça, derrubando-o novamente no chão. Seguro Valquíria em meus braços e subo novamente, a água nos guiando para longe do palácio.

-QUE MERDA VOCÊ ACHA QUE ESTÁ FAZENDO?! – Ela se debate, tentando descer.

-Te impedindo de fazer uma idiotice enorme! E PARE de gritar no meu ouvido, porra!

-Precisamos banir a entidade do corpo do Valentim!

-Bom, podemos fazer isso depois. Acredite, se eu quase morri nas mãos dele, não sei o que seria de você!

Ela faz uma expressão de nojo.

-Pode me colocar no chão agora?

-Não até estarmos em terra firme – Olho para baixo, a queda livre da cachoeira nos cercando – A água só funciona sob meu comando. Se eu te soltar agora, você vai despencar em uns....dois quilômetros de altura.

Ela engole em seco, os braços segundo meu pescoço mais firmemente.

-Pensando bem, aqui parece ótimo. 

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Notas da autora:

As alianças mais improváveis costumam a se formar nos períodos de crise. 

Essas duas ainda vão render muito 

(O tanto que eu ri escrevendo as cenas delas não ta escrito)

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora