Narrado por Yara
Tentei escapar de Valentim subindo no telhado do castelo. É mais alto do que eu lembrava.
-Não tente fugir de mim, Yara! – Escuto- o gritar
Atravesso todo o telhado até chegar na borda do castelo. Penso em manipular a água ao meu redor para que possa escorregar para baixo de forma segura, mas é tarde demais.
-Podemos ir direto ao assunto agora?
Me viro para dar de cara com o garoto. Ele esfrega o curativo na lateral do corpo, que voltara a sangrar. Parece assustadoramente calmo.
-Valentim...Eu realmente não quero te machucar...
-Você deixou isso bem claro – Cospe, de forma venenosa
-Você não e assim! Eu não sei que porra aconteceu com você nesse meio tempo, mas você não é esse tipo de pessoa! Não é um assassino!
-E o que você sabe, Yara? Não foi você quem disse que não sabíamos nada um do outro?
Esquadrinho o terreno, tentando bolar um plano.
Atenção: não tentem isso em casa, crianças.
Antes que ele possa fazer qualquer coisa, eu pulo em direção a cachoeira
E caio.
E continuo caindo.
Espremo os olhos, tentando focar cada pedaço do meu ser na água.
E quando estou na metade do caminho, eu começo a subir.
Uma grande onda se forma nos meus pés, me elevando mais e mais. Ultrapasso o nível do telhado, o garoto continua me encarando.
-E então, majestade? – Grito – O que tem a dizer agora?
A primeira vista, ele parece irritado, mas então tira a mesma pistola de antes do bolso.
-Como as pessoas costumam a dizer? "Vida longa a rainha?" – Ele solta uma risada sarcástica- Pena que você não vai ter tempo de se tornar uma.
E então, ele atira.
Espremo os olhos e estendo os punhos sobre o rosto, na esperança de que os braceletes grossos parem a bala.
Mas ela nunca chega a tocar meu corpo.
Ela paira no ar, no meio do caminho. E então, se desintegra.
-Mas o que..?.- Ouço o menino perguntar, antes de se virar e receber um soco no rosto, forte o suficiente para deixa-lo inconsciente.
E atrás dele.....
Só pode ser brincadeira.
-Desculpe, Valentim!
Valquíria se abaixa até o corpo do garoto e toca seu rosto, depois levanta a cabeça em minha direção e faz um sinal de positivo com as mãos.
-ELE DORMIU! PODE DESCER!- Grita
-NÃO, OBRIGADA – Também grito em resposta, o que faz a garota revirar os olhos.
-EU ACABEI E SALVAR A SUA VIDA! DESCE, MERDA!
-NÃO CONFIO EM VOCÊS!
Ela parece bufar.
-Ok, fique aí, se preferir!
-O que está acontecendo, afinal? – Aponto para o corpo aos pés da menina. -Desde quando o Valentim tenta atirar nas pessoas?!
-É uma longa história...
Espremo os olhos.
-Se tentar me matar, eu mato você!
-Eu não tenho dúvida disso
Abaixo o nível da onda um pouco. Apenas o suficiente para ouvi-la sem que tenha que gritar. Aponto a espada para sua direção e ela ergue as mãos, em sinal de rendição.
-Agora explique: Que porra aconteceu com ele?!
-Essa é a questão. Ele não é o Valentim!
Um longo silencio se estende, como se ela estivesse esperando que eu conclua seu raciocínio.
-Você quer que eu tire alguma conclusão mágica sobre isso? -Pergunto – O que você quer dizer?!
-O que eu quero dizer, Vossa grosseria Real, é que alguém está controlando a mente do Valentim.
Arregalo os olhos
-Então ele está tipo....Possuído?
Ela me encara como se eu fosse a criatura mais burra do planeta
-Não, Yara, ele não está possuído. A mente dele está sendo controlada. São coisas diferentes...
-Ah, sim, muito diferentes – Ironizo – Ok, mas, por quê? Como isso aconteceu? Quem está fazendo isso?!
-Acredito que é uma entidade que estava hospedada no exílio. Ele tem o poder de manipular mentes e...
-Ah, claro que isso tinha que ter vindo de lá! Porque sempre que algo catastrófico acontece você estão sempre envolvidas?!
Ela abaixa as mãos e faz uma expressão ofendida.
-Escuta aqui: Primeiro: Essa merda que estava controlando todo mundo não é um feiticeiro, ou uma bruxa! Ela é uma entidade inimiga de todos que estava no exílio por acaso. Não tem nada haver conosco!
-Sim, mas ela estava em Tenébris, não? Ela foi solta quando a barreira abriu então...
-Ah, então enquanto só nós estávamos em perigo, essas coisas não eram um problema, é isso?!
Somos interrompidas por um grunhido. Valentim está acordando
Ele gira a cabeça e me encara. Seus olhos parecem perfurar meu cérebro
-Yara – Valquíria sussurra – Corra.
-Como?
-VAI!
Ela se coloca na minha frente, me empurrando. Outra onda aparece me impedindo de cair.
E do alto, vejo Valentim se levantar, voltando a assumir sua postura sanguinária.
-ELE VAI TE MATAR! -Grito
-EU ME VIRO!
Reviro os olhos e avanço sobre eles novamente. Antes que Valentim possa fazer qualquer coisa, a onda cai sobre sua cabeça, derrubando-o novamente no chão. Seguro Valquíria em meus braços e subo novamente, a água nos guiando para longe do palácio.
-QUE MERDA VOCÊ ACHA QUE ESTÁ FAZENDO?! – Ela se debate, tentando descer.
-Te impedindo de fazer uma idiotice enorme! E PARE de gritar no meu ouvido, porra!
-Precisamos banir a entidade do corpo do Valentim!
-Bom, podemos fazer isso depois. Acredite, se eu quase morri nas mãos dele, não sei o que seria de você!
Ela faz uma expressão de nojo.
-Pode me colocar no chão agora?
-Não até estarmos em terra firme – Olho para baixo, a queda livre da cachoeira nos cercando – A água só funciona sob meu comando. Se eu te soltar agora, você vai despencar em uns....dois quilômetros de altura.
Ela engole em seco, os braços segundo meu pescoço mais firmemente.
-Pensando bem, aqui parece ótimo.
.
.
.
.
Notas da autora:
As alianças mais improváveis costumam a se formar nos períodos de crise.
Essas duas ainda vão render muito
(O tanto que eu ri escrevendo as cenas delas não ta escrito)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Ladra de Lumis: Sombras do passado
Fantasy*É recomendado ler o primeiro livro da saga antes de iniciar este! Uma nova era inicia-se em Lumis. A barreira e Tenébris foi derrubada, e os reinos estão em discórdia. Celina, agora livre, finalmente decide dar mais um passo em direção a suas raíz...