Capítulo 14: Quando o mal bate a porta

15 3 6
                                    

Narrado por Yara

Tranco a porta do escritório e massageio as têmporas. Aqui é o único lugar onde não serei incomodada.

O encontro com Valentim foi estranho, e embora eu tivesse achado que vê-lo de novo não me deixaria estressada, eu estava errada.

Me jogo na poltrona e apoio a cabeça na escrivaninha, a testa tocando o vidro frio.

Ao meu lado, uma pilha de papéis. Eram estratégias de invasão a Virdes. Deveriam estar prontas a algum tempo, mas simplesmente não consigo termina-las. Não me parece certo. Isso nunca me acontece antes.

Levanto a cabeça e começo a bater os anéis em formato de garras na mesa, na esperança de me distrair com o barulho. Ou talvez eu só queira quebrar alguma coisa.

A janela a minha frente mostra o por do sol. Grande parte do castelo sse encontra a beira de uma cachoeira, então era comum que as janelas exibissem vistas lindas. O doce som da água caindo preenche o espaço.

Ouço uma batida da porta.

-Quem é?

Sem resposta. Mas uma batida.

Ergo uma sobrancelha e me aproximo com cautela. Pego a espada na parede e olho para o outro lado da porta pelo olho mágico.

Está vazio.

Abro a porta. Não há ninguém ali.

Antes que eu possa fecha-la novamente, um som metálico ecoa em meus ouvidos. Olho para o lado e dou de cara com a boca de uma arma apontada para minha cabeça. Atrás dela, uma figura loira muito familiar.

Valentim coloca o indicador sobre os lábios e indica para que eu entre novamente no escritório. E eu o faço.

Quando ambos estamos dentro, o menino tranca a porta.

-Largue a espada.

-Eu acho que não.

-Yara! – Ele adverte, destravando a arma. Solto a espada no chão.

-Valentim, o que você pensa que está fazendo?!

Ele sorri novamente, de orelha a orelha. Suas pupilas estão opacas, e seus olhos parecem vibrar.

-Não era assim que eu imaginava nosso reencontro. Seus pais me causaram certo prejuízo, Yara. Está na hora de retribuir o favor...

-Você não faria isso – Minha voz é trêmula, mas não por conta do medo, e sim da surpresa.

Ele pode até ter uma arma, mas ainda é o mesmo garoto de sempre. Valentim nunca ao menos sonhou em pisar em um campo de batalha, e eu fui treinada a minha vida inteira para isso. Eu sei como reagir em situações como aquela, só nunca pensei que aconteceriam desse jeito.

- Vocês tem tirado proveito de mim desde que me entendo por gente – Continua – Chega de fugir, Yara. Vocês merecem uma lição.

Ele da alguns passos.

- Valentim, sou eu!

-E essa é a melhor parte! – Ele da de ombros – Sem ressentimentos, certo?

E quando ele está prestes a puxar o gatilho, me abaixo com rapidez. Bato minha mão contra parede três vezes, e os anéis em minha mão crescem e se tornam mais afiados, como pequenas facas na ponta dos dedos.

O som do tiro ecoa pelo cômodo e a bala atravessa a parede. Dou uma rasteira em sua pernas e ele cai para trás. Agarro seu colarinho e o puxo para perto, as lâminas em minha mão pressionando sua garganta.

-Não me obrigue a fazer isso!

Nem em momentos como esse o sorriso sai de seu rosto.

-Você faria, Yara?

Não respondo.

-Você não consegue. Nós dois sabemos disso.

O clima fica pesado, e o cômodo mergulha em um silêncio profundo. Consigo ouvir meu coração batendo acelerado.

-Cansei de esperar.

Ele se segura em meus braços e chuta meus joelhos, me fazendo perder o equilíbrio. Minha cabeça bate na parede e caio em sua frente, mas não recuo.

Antes que o outro possa fazer alguma coisa, fecho o punho e miro diretamente em sua virilha. Ele murmura um "Filha da puta" e recua para trás. O empurro e corro até a porta, destrancando-a e levando comigo a espada antes jogada no chão. Vou sem olhar para trás, mas ainda consigo ouvir palavras de ódio vindas do garoto.

E pouco tempo depois, ouço som de passos também. 

.

.

.

.

Notas da autora:

Valentim, você não era assim, meu jovem. 

A relação desses dois ainda vai render muita coisa. Apenas aguardem

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora