Narrado por Yara
Tranco a porta do escritório e massageio as têmporas. Aqui é o único lugar onde não serei incomodada.
O encontro com Valentim foi estranho, e embora eu tivesse achado que vê-lo de novo não me deixaria estressada, eu estava errada.
Me jogo na poltrona e apoio a cabeça na escrivaninha, a testa tocando o vidro frio.
Ao meu lado, uma pilha de papéis. Eram estratégias de invasão a Virdes. Deveriam estar prontas a algum tempo, mas simplesmente não consigo termina-las. Não me parece certo. Isso nunca me acontece antes.
Levanto a cabeça e começo a bater os anéis em formato de garras na mesa, na esperança de me distrair com o barulho. Ou talvez eu só queira quebrar alguma coisa.
A janela a minha frente mostra o por do sol. Grande parte do castelo sse encontra a beira de uma cachoeira, então era comum que as janelas exibissem vistas lindas. O doce som da água caindo preenche o espaço.
Ouço uma batida da porta.
-Quem é?
Sem resposta. Mas uma batida.
Ergo uma sobrancelha e me aproximo com cautela. Pego a espada na parede e olho para o outro lado da porta pelo olho mágico.
Está vazio.
Abro a porta. Não há ninguém ali.
Antes que eu possa fecha-la novamente, um som metálico ecoa em meus ouvidos. Olho para o lado e dou de cara com a boca de uma arma apontada para minha cabeça. Atrás dela, uma figura loira muito familiar.
Valentim coloca o indicador sobre os lábios e indica para que eu entre novamente no escritório. E eu o faço.
Quando ambos estamos dentro, o menino tranca a porta.
-Largue a espada.
-Eu acho que não.
-Yara! – Ele adverte, destravando a arma. Solto a espada no chão.
-Valentim, o que você pensa que está fazendo?!
Ele sorri novamente, de orelha a orelha. Suas pupilas estão opacas, e seus olhos parecem vibrar.
-Não era assim que eu imaginava nosso reencontro. Seus pais me causaram certo prejuízo, Yara. Está na hora de retribuir o favor...
-Você não faria isso – Minha voz é trêmula, mas não por conta do medo, e sim da surpresa.
Ele pode até ter uma arma, mas ainda é o mesmo garoto de sempre. Valentim nunca ao menos sonhou em pisar em um campo de batalha, e eu fui treinada a minha vida inteira para isso. Eu sei como reagir em situações como aquela, só nunca pensei que aconteceriam desse jeito.
- Vocês tem tirado proveito de mim desde que me entendo por gente – Continua – Chega de fugir, Yara. Vocês merecem uma lição.
Ele da alguns passos.
- Valentim, sou eu!
-E essa é a melhor parte! – Ele da de ombros – Sem ressentimentos, certo?
E quando ele está prestes a puxar o gatilho, me abaixo com rapidez. Bato minha mão contra parede três vezes, e os anéis em minha mão crescem e se tornam mais afiados, como pequenas facas na ponta dos dedos.
O som do tiro ecoa pelo cômodo e a bala atravessa a parede. Dou uma rasteira em sua pernas e ele cai para trás. Agarro seu colarinho e o puxo para perto, as lâminas em minha mão pressionando sua garganta.
-Não me obrigue a fazer isso!
Nem em momentos como esse o sorriso sai de seu rosto.
-Você faria, Yara?
Não respondo.
-Você não consegue. Nós dois sabemos disso.
O clima fica pesado, e o cômodo mergulha em um silêncio profundo. Consigo ouvir meu coração batendo acelerado.
-Cansei de esperar.
Ele se segura em meus braços e chuta meus joelhos, me fazendo perder o equilíbrio. Minha cabeça bate na parede e caio em sua frente, mas não recuo.
Antes que o outro possa fazer alguma coisa, fecho o punho e miro diretamente em sua virilha. Ele murmura um "Filha da puta" e recua para trás. O empurro e corro até a porta, destrancando-a e levando comigo a espada antes jogada no chão. Vou sem olhar para trás, mas ainda consigo ouvir palavras de ódio vindas do garoto.
E pouco tempo depois, ouço som de passos também.
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Notas da autora:
Valentim, você não era assim, meu jovem.
A relação desses dois ainda vai render muita coisa. Apenas aguardem
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A Ladra de Lumis: Sombras do passado
Fantasia*É recomendado ler o primeiro livro da saga antes de iniciar este! Uma nova era inicia-se em Lumis. A barreira e Tenébris foi derrubada, e os reinos estão em discórdia. Celina, agora livre, finalmente decide dar mais um passo em direção a suas raíz...