Capítulo 5: Algo nas árvores

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Narrado por Emily

   -Val, você precisa ir!

   -Mas eu não posso deixar vocês nessa situação! Eu preciso...

   -Você precisa ajudar a Celina! Esse era o combinado!

   Ouço passos frenéticos pelo outro lado do corredor, onde a discussão acontece.

   -Quem esse homem acha que ele é para te difamar desse jeito?!

   -Um rei dono do império mais rico de Lumis, talvez...

   -Foda-se a posição dele. Você é um rei também!

   -Por que nós sempre estamos em pé de guerra com algum rei nessa casa? – Sussurro para Celina, tentando não atrapalhar a discussão do casal na cozinha. Ela apenas escolhe os ombros e volta a colocar roupas na mochila de couro.

   -Reis são uma desgraça. Sem ofensas, Valentim! - Ela grita para o corredor.

   -Eu não poderia concordar mais – Ele grita de volta, antes de cruzar o corredor e aparecer no nosso quarto – Se eu soubesse disso antes, teria fingido minha morte e fugido para a floresta.

   -Talvez ainda de tempo. Nós encenamos seu assassinato, e quando todos acharem que você está morto, você ressurge das cinzas jurando vingança com aqueles que te destruíram e acaba com todo mundo em uma batalha épica ou algo assim.

   -Eu posso me esconder aqui na casa de vocês duas. Adorei a decoração.

   -Ah, obrigada. Eu fiz tudo sozinha.

   -EI! Eu me ofereci para ajudar várias vezes! - A outra rebate

   -Você pendurou os quadros de cabeça para baixo!

   -Era uma pintura abstrata! Como você espera que eu saiba os lados de uma pintura abstrata?!

   - Minha Deusa, as vezes vocês parecem um casal aposentado de tanto que discutem! - Valquíria se junta a nós também. Ela se coloca ao lado de Valentim, que a segura pela cintura. 

   -Sim. Nós duas somos praticamente casadas. Não é, Celina?

   -Com toda certeza. Exigimos presentes de casamento.

   O garoto ao meu lado ri.

   -Só vocês três para me distraírem desse caos.

   -Eu ouvi a conversa de vocês – Celina volta a falar – Val, se você quiser ficar, não há problema. Ágatha pode ir comigo e...

   -Não, Valentim tem razão. Eu prometi a minha mãe que iria. Eu te ajudei com a sua mentoria, então tenho que estar lá também. É tipo questão de honra.

   -Ah, se é assim...- Ela finalmente termina de empacotar as roupas e fecha a mala sobre a cama.- Valentim, você vai ficar bem aqui?

   -Vou ver o que posso fazer- Responde – Mais não se preocupe comigo. Vá com elas, conquiste seus poderes e me conte tudo depois! Com detalhes!

   Ele sorri, mas há uma sombra em seu rosto.

   -Você não vai fazer o que eles pediram, vai?

   O garoto suspira, apoiando a cabeça nos ombros de Valquíria.

   -Não está nos meus planos. Vou tentar mostrar a eles que as coisas podem dar certo. Empurrar até onde der e pensar em uma boa estratégia. – Direciona o olhar para mim – Você me ajuda?

   -Claro! Vamos destruir ele. Verbalmente. Ou não. O que você preferir.

   Eles voltam a rir. Celina coloca a mala nas costas e se dirige a entrada do corredor.

   -Estou pronta.

   Val afasta Valentim aos poucos e se coloca ao seu lado.

   -Está na hora de ir, então. Encontraremos minha mãe na floresta.

   Ela assente com a cabeça, e caminhamos juntos até a entrada.

   Dou um abraço forte em Celina antes que ela se vá.

   -Promete tomar cuidado?

   -Sempre. Você sabe o quão cuidadosa eu sou! - Ironiza.

   -Se você se meter em algum problema, eu mato você!

   -Emily, é só uma iniciação. Não há nada de perigoso nisso!

   -Certo.

   Valentim também a abraça. Ela sussurra um "Vai dar tudo certo" em seu ombro, e o vejo assentir com a cabeça.

   -Leve isso – Diz, entregando-a um walkie talkie azul – Nos ajudou bastante da última vez

   -Eu lembro disso! Não há ninguém envenenado agora, pelo menos!

   -Vou tentar procurar aqueles arquivos que te prometi assim que puder!

   -Obrigada!

   Ela nos abraça uma última vez e começa a caminhar em direção a floresta. Conforme se afastam, as duas vão se tornando um ponto luminoso dentre a escuridão. Sinto um frio na barriga, mas ignoro a sensação.

   Um aroma peculiar envolve o espaço. Deve ser algo apodrecendo nas árvores.

   -Acho melhor entrarmos. Está ficando escuro. 

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora