Capítulo 19: Escuridão

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Narrado por Emily

Chego no palácio, e tudo parece normal.

A sensação dura segundos. Logo, vejo Ágata sendo arremessada por uma das janelas dos andares mais baixos. Corro até ela.

-Você está bem?

-Emily! Você não deveria estar aqui!

-Eu sei. Sua filha deixou isso bem claro.

Ágatha parece tentar recuperar o fôlego.

-Eu sei o que você fez.

Ela olha para mim.

-Celina não vai descansar até matá-la. E isso não nos ajudará em nada!

Mais uma explosão. Atrás de nós, Celina surge novamente. Os olhos fúcsia brilhante.

-Morgo tem olhos brilhantes. É assim que identificamos seus hospedeiros – A mais velha menciona.

Celina estende a mão e Ágatha cai de joelhos ao meu lado. Começa a tossir e chiar. Está sufocando.

É o meu momento de agir.

Corro em sua direção e jogo meu corpo sobre o dela. Nós duas acabamos estateladas no chão da sala de música.

Ágatha, agora parcialmente recuperada, se junta a nós. Ao vê-la, Celina parece quase espumar. Ela se vira em direção a mulher, mas não posso deixa-la continuar.

Ela dispara feitiços, e logo coloco meus braços ao redor de seu pescoço.

-Celina, porra! Sai dessa!

Ela não parece me ouvir. Ao invés disso, começa a andar para trás, suas costas indo em direção a parede junto comigo.

Ela me espreme entre seu corpo e o cimento, e minha cabeça bate contra o local. Fico um pouco desorientada e afrouxo o braço, deixando-a ir.

Ela volta a atenção para Ágatha, mas antes que possa encontra-la no cômodo, as cortinas fecham como um passe de mágica, mergulhando o espaço na escuridão.

Os olhos de Celina são como dois pontos brilhantes. Mas não são os olhos dela. Não é o olhar dela.

Meus olhos acostumam-se com a escuridão, e logo vejo Ágatha aparecer por trás da garota, tentando atacá-la. Celina é mais rápida e vira o corpo inteiro em uma fração de segundo. Mesmo sendo mais experiente, a bruxa não parece ser páreo para ela.

Ela desvia de todos os truques da mais velha como se tivesse praticado por anos, e tenho quase certeza de que vejo um vulto se mover sobre sua cabeça. É Morgo.

O punho dela atinge Ágatha no rosto com força, produzindo um leve estalo. Ela cai no chão, e as mãos de Celina começam a brilhar. Me coloco na frente dela para tentar pará-la no mesmo momento em que ela lança o feitiço.

Uma rajada de brilho verde-clara atinge meu estômago, e logo uma dor dilacerante começa a preencher todo o meu corpo. Apoio as mãos no chão, tentando achar equilíbrio. Não há sangue, não há machucado, apenas dor.

Celina não queria matar Ágatha. Queria faze-la sofrer. E eu estou pagando por isso.

O silêncio do salão é preenchido pelos meus gritos. Uma pressão tão forte e latejante preenche meus ossos, de forma que eles parecem prestes a se partir. Tudo gira, tudo é confuso. Tudo queima, lateja, rasga, dói.

Espremo os olhos, quase perdendo o raciocínio em meio ao caos.

Foi quando vi a expressão de Celina mudar de repente, como se acordasse de um transe.

-EMILY!

Suas mãos agitam e apagam. Seus olhos parecem parar de brilhar também.

A dor some, me deixando ofegante sobre o chão gelado do salão. Algumas lágrimas ainda estão frescas e saltam pelas laterais dos meus olhos .

Celina se aproxima, e me esquivo por instinto.

Mas ela não parece mais assassina. Não parece diferente.

Parece apenas....Ela.

-Não não não...Isso não deveria...Eu....

Fica muda de repente. Ergo um rosto e observo sua expressão aterrorizada.

-Lin ...– Começo, a voz tremendo e as mãos também -É você mesmo?

Toco a bochecha dela com minha mão.

Mas antes que eu possa falar ou fazer alguma coisa, um homem alto vestindo uma venda aparece atrás dela, os dedos magros apoiando-se em seu ombro.

-Eu sabia que você era fraca.

Com um gesto da outra mão, Celina é arremessada pelo ar para o outro lado da sala e bate a cabeça em uma parece. Seu corpo cai estatelado no chão.

-CELINA!

Me levanto e tendo correr ao seu encontro, mas o homem é mais rápido. Sua mão se fecha em meu pescoço e também sou pressionada contra a parede mais próxima, meus pés um pouco acima do chão.

-Vamos acabar com isso.


A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora