Presença de Manu

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                       POV Rafaella

- As vezes será melhor assim, nos divorciar.

As palavras saíram automaticamente da minha boca. Gizelly arregalou os olhos paralisada. Ela estava assustada.

- Divórcio?! Você tem certeza que é isso que você quer?! Que é a melhor saída para tudo isso?! - ela perguntou com dificuldade na sua fala, seu semblante totalmente caído.

- Eu...eu não sei Gizelly, já não sei de mais nada.

- Rafaella, se você pedir o divórcio não tem mais volta, então pensa bem antes de tomar qualquer atitude.

- Eu não te entendo Gizelly. Quantas vezes mais vai pisar na bola e eu vou ter que aguentar sozinha as consequências depois. Eu não sou cega, estava vendo sua mudança, seus esforços, aí quando começo a ter esperança de que tudo ia começar a se acertar aos poucos, você vacila de novo e todas as minhas expectativas caem por terra. Estou cansada de pisar em ovos com você.

- Eu sinto muito que você se sinta desse jeito e me dói saber que foi por causa das minhas ações, mais eu tô tentando Rafaella, estou mais presente, mudei meus horários no hospital para participar de tudo com nosso filho, não faço mais horas extras trabalhando até tarde.

- Queria que tivesse tomado essas atitudes quando ainda estávamos em crise, antes de eu tomar a decisão do término - vi lágrimas saírem de seus olhos, não eram só as delas que estavam saindo.

- Tudo bem, você está certa. Se eu machuco tanto você a ponto de querer o divórcio vou respeitar, o mais importante para mim é ver você bem e a sua felicidade. Eu já vou indo, depois vemos os dias que posso vir ver o Theo - ela estava saindo, quando a chamei...

- Gizelly...eu não sei se quero o divórcio, saiu sem eu pensar - respirei fundo - mais não minto que isso já passou pela minha cabeça em algum momento. Acho que podemos continuar do jeito que estamos fazendo aos fins de semana, com a febre emocional de Theo, não podemos nos afastar agora.

- Você não sabe se quer?! Eu não sou um boneco que você faz o que quiser, na hora que quiser Rafaella. Eu tenho sentimentos, aliás, muitos por você. Então se decida. Amanhã venho buscar vocês para o almoço na Naty, passo aqui as 11 - ela saiu e bateu a porta, sem me dar o direito de resposta.

Desabei no sofá, sentindo uma dor aguda em meu coração. Não conseguia mais parar de chorar. Então peguei meu celular e disquei o número já conhecido por mim. No terceiro toque ela atendeu.

- Ma...Manu, vem pra cá, por favor - fiz um esforço enorme pra conseguir falar.

- Rafa?! Já estou a caminho. Meia hora estou aí.

Não vi a hora passar, estava afogada em minha própria tristeza, quando me assustei com o som da campainha.

- Manu - assim que abri a porta e vi minha melhor amiga, desabei em seus braços.

- Rafa, o que acontece amiga?! Vem vamos entrar e sentar. Vou pegar um copo de água para você, vai ajudar a se acalmar um pouco - apenas assenti.

Ela me deu o copo de água e fomos nos sentar no sofá.

- Está um pouco mais calma?! - afirmei - então agora me conte tudo o que aconteceu.

Contei para Manu tudo o que aconteceu, desde o dia em que Theo passou mal até a conversa sobre o divórcio, que eu e Gizelly tivemos, antes dela ir embora.

- Rafa, você realmente está pensando em divórcio?!

- Manu, você mais do que ninguém, sabe o quanto amo aquela mulher e como foi difícil ficarmos juntas. Ela não se achava digna de ficar comigo por não termos na época, o mesmo status social, seu orgulho falava mais alto. Não queria que ninguém pensasse que estava comigo por interesse, já que na época papai deu o emprego a mãe dela, se não teriam que sair de onde moravam pois não tinham mais dinheiro para o aluguel e teriam passado fome. Eu já pensei sim no divórcio, mais nunca tive coragem de pedir, tinha esperança de que ela ia mudar e íamos voltar a ser uma família novamente.

- Eu entendo amiga. Pelo o que a gente tem conversado ela mudou muito neh?! Tem se esforçado bastante, acho que isso já é um começo. Só que se você ainda estiver pensando em pedir o divórcio, resolva logo, não pode prender a Gi para sempre, por causa dessa sua indecisão. Você precisa deixa-la seguir com a vida dela.

- Não Manu, eu não consigo ver Gizelly longe de mim, muito menos com outra pessoa. Me mataria por dentro. Na primeira vez que pensei em divórcio, não durou muito, desisti da idéia logo depois. Hoje falei da boca pra fora. Estou muito chateada sobre tudo o que aconteceu.

- Então não desista amiga. Gizelly te ama muito. Terapia cairia muito bem nesse momento. Ajudaria vocês a passar por essa fase ruim.

- Já marquei minha primeira sessão amiga, será na quarta feira. Gi vai ficar com Theo para eu ir. Ela também vai começar, a primeira sessão dela vai ser na sexta. No horário do almoço dela.

- Isso é ótimo. Vai ajudar vocês no estresse emocional, identificar a causa dos problemas e auxiliar a descobrir novas formas de lidar com as questões mal resolvidas entre vocês.

- Espero que sim Manu. Minha última esperança para conseguirmos nos acertar de vez, é na terapia.

- Acho que vai dar certo cabeção. O amor de vocês, no final, vai transcender a qualquer barreira que aparecer.

- Espero que sim. Obrigado por ter vindo ao meu socorro. Te amo muito.

- Eu também te amo. Não precisa agradecer, você é como uma irmã para mim. Sempre que precisar, eu virei. Agora vou brincar um pouco com meu afilhado antes de ir.

E assim ela fez. Sentou no tapete com meu filho e brincou com ele até ele cansar e acabar dormindo em meu ombro, no meio do caminho, quando estava subindo com ele para colocá-lo em sua cama. Antes disso Manuzinha se despediu, alegando que acordaria cedo amanhã, para o seu plantão. De 15 em 15 dias ela trabalha aos sábados até às 13 horas, de plantão no hospital da minha família.

Após deitar meu filho em sua cama e o cobri-lo, fui para o meu quarto no intuito de tomar um banho e dormir.

Acordei com a luz solar entrando em meu quarto. Esqueci de fechar as cortinas antes de dormir, estava com o psicológico exausto, acabei apagando.

Demorei para me acostumar com a claridade. Levantei da minha cama, coloquei meu roupão e fui até o banheiro tomar um banho e fazer minha higiene matinal.

Quando terminei, fui ver como meu filho estava, ele ainda estava dormindo como um anjinho.

Não vou acordar ele agora, vou aproveitar para fazer nosso desjejum e arrumar sua bolsa para levar para casa da Natália. Com tudo pronto vou acorda-lo, dar seu banho e seu café.

As onze em ponto Gizelly tocou a campainha. Fui abrir a porta para ela.

- Bom dia Rafaella.

- Bom dia Gizelly, pode entrar, falei dando espaço a ela.

- Só vou entrar para ajudar com nosso filho, não podemos demorar, esta tudo pronto?! - assenti - então vamos.

Pegamos tudo, entramos em seu carro e partimos rumo a casa da Natália. O caminho todo foi em um silêncio mortal, só se ouvia o balbuciar do nosso filho.


















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