POV Gizelly
Saímos da terapia e fomos direto para a casa de Manu, buscar nosso filho.
A nossa primeira sessão juntas foi um pouco nostálgica. Relembrar como pedi Rafa em namoro, me fez reviver uma fase em que eu era muito insegura, porque não tinha dinheiro suficiente para chama-la para sair, levar a jantares, almoços ou até mesmo dar jóias de presente. O pouco que eu tinha, eu ganhava fazendo uns bicos após a escola, o que dava para tomar um sorvete ou comer um cachorro quente.
Na noite em que a pedi em namoro, paguei o restaurante com o dinheiro que havia juntado antes de me relacionar com ela, dos meus bicos, já as alianças, mãe me ajudou na compra delas. Diferente de mim, Rafaella nessa época, já tinha carro próprio e cartão de crédito sem limite. A diferença financeira entre a gente era gritante, isso fazia com que eu tivesse um sentimento de inferioridade e nos limitasse a sair para fazer programas de casal, já que não aceitava que ela ficasse pagando por tudo sozinha. Não era orgulho, é ser justa.
Não me entendam mal, sempre me orgulhei da força que minha mãe teve para nos sustentar. No começo foi muito mais difícil, perdi as contas de quantas vezes nós tivemos que pular o café da manhã e o café da tarde, só havia comida para o almoço e a janta, e mesmo assim, em sua maioria água com fubá, na tentativa de nos sustentar. Isso foi logo depois que pai faleceu, mãe não conseguia encontrar emprego e as coisas foram piorando. O pouco do dinheiro que pai deixou, mãe pagou dois alugueis adiantado para não morarmos na rua e as contas básicas como água e luz, orando para que, durante esses dois meses ela conseguisse um trabalho.
No meio do segundo mês, ela foi chamada para trabalhar como secretária de uma dentista. O que acabou dando certo e as coisas começaram a se tornarem menos sofridas. Pelo menos o aluguel, contas básicas e comida estavam garantidas. O resto ficava para segundo plano, quando pudesse.
Estudei em colégio estadual por grande parte da minha infância. Quando formei a oitava série, apareceu a oportunidade de fazer uma prova para uma bolsa de estudos, em um colégio particular. Passei e assim fui aceita, o que fez eu ter a chance de conhecer meus melhores amigos de vida e meu grande amor. Fui indicada pela chefe da minha mãe na época e sou muito agradecida a ela, por tudo que fez por nós.
Sempre fui muito estudiosa e esforçada. Ser médica era um sonho, desde nova, então, quando passamos por todas as dificuldades, fiz a promessa de que, passaria na federal para medicina e seria bem sucedida na profissão, para nunca mais passar pelo que eu e mãe passamos novamente.
Hoje sou médica, bem sucedida. Isso me deu a oportunidade de dar uma casa de presente para minha mãe, como forma de agradecer por tudo que fez por mim.
- Boa noite Manuzinha - a cumprimentei assim que ela abriu a porta para nós.
- Boa noite titchela, boa noite cabeção.
- Boa noite pequena. Cadê nosso baby?! - Rafa perguntou.
- Está lá na sala, no tapete que coloquei para ele brincar. Antes de vocês chegarem nós jantamos e agora estamos montando um lego - Manu falou indo em direção a sala com nós duas ao seu encalço.
- Oi amor da mommy, que saudades meu meninão - falei assim que o avistei e ele abriu os bracinhos sorrindo para que eu o pegasse.
- Ele é muito apegado a você titchela, mesmo aceitando que poucas pessoas se aproximem e o fato de não gostar de socializar, com você é diferente. Ele confia em ti.
- Esses dois aí Manu são unha e carne. As vezes parece que nem existo para o meu filho.
- Deixa de ser dramática amor. Theo te ama, muito. Nunca duvide disso.
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Everything
FanficTheo tem 3 anos e é autista, apaixonado pelas suas duas mães, que aprendem todo dia um pouco mais sobre seu espectro e a lhe dar com isso no dia a dia, só tem um problema, elas não conseguem se entenderem. *** Se trata de uma história fictícia, nada...