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Deslizei o dedo no diamante da aliança em meu dedo anelar, tomando nota de que o anel estava folgado demais para os meus dedos magros.

Hugo continuava a tagarelar qualquer coisa sobre eu adorar a casa nova. Sobre ser mais espaçosa e iluminada para as minhas fotos. Dirigia com um sorriso no rosto, os olhos fixos na estrada não permitiram que ele percebesse que eu não estava prestando atenção.

– A aliança continua folgada - eu suspirei mas Hugo não me ouviu.

A música que tocava estava alta demais

– A aliança ainda está folgada! - disse num tom de voz mais estridente.

Hugo virou o rosto para me encarar. Olhos castanhos, uma pele levemente corada pela luz do sol que, naquela tarde, tocava o seu rosto, sardas surgiam no corpo de seu nariz, ainda pouco visíveis, mesmo assim havia se tornado algo belo a ser contemplado. Quando percebeu que eu não prestava atenção nas maravilhas que a casa comprada por ele iria me trazer, fechou o sorriso.

– Eu sei que esta, vida - ele disse, tirando a mão direita do volante para acariciar os cachos castanhos do meu cabelo solto – Sei que prometi apertar ela. É que ainda não tive tempo. Com tudo o que está rolando nas últimas semanas...

– Eu não quero que aperte, Hugo. Eu quero uma aliança nova - tiro o anel do dedo e o coloco no porta copos ao lado do banco do motorista.

Hugo torce os lábios, leva os olhos para a estrada, desliga o som do carro e volta a me encarar.

– Eu vou comprar uma nova - ele garante – Não vai subir ao altar com ela. É só que... É tradição na minha família. Você sabe...

O anel ouro rosé de 18 quilates com diamante e topázio azul custava uma fortuna. Ao menos foi isso o que a mãe de Hugo me disse quando o viu brilhando em meu dedo. Ela não esforçou-se nem um pouco para disfarçar a infelicidade em saber que o seu precioso filho único havia me pedido em casamento.

Quando fomos visitá-la, dias depois de Hugo fazer o pedido, ela chegou ao meu lado como quem não quer nada, puxou a minha mão com o anel e o analisou, como um joalheiro analisa um diamante raro. Fez uma careta depois de longos segundos em silêncio, e finalmente murmurou sobre o estimado valor daquele anel.

– Pertenceu a minha mãe - Hugo começou a dizer, voltando os olhos para o caminho – E antes dela, pertenceu a minha avó.

Eu já havia ouvido aquela história antes. Muitas e muitas vezes. O anel veio da Itália para o Brasil durante a segunda guerra mundial, no dedo da bisavó de Hugo, enquanto ela e seu marido, ambos judeus, tentavam fugir da perversidade de Hitler.

A senhora Judite e o seu marido passaram aqui poucas e boas; chegando a passar fome enquanto tentavam atravessar vivos pela crise que assolava o mundo naquela época. As histórias contadas a mim diziam que Judite pensou em vender a aliança várias e várias vezes para conseguir alimentar os seus filhos. Mas como o anel fora a única coisa que restou de seu passado, o manteve.

Eu entendia o peso emocional que aquilo tinha para a família Cassius. Não era um monstro.

Eu o amava, de verdade, amava tanto quanto nenhuma outra mulher jamais pensou em amar; Hugo era muito mais do que meu parceiro, um amante ou, agora, meu noivo, Hugo conseguia ser o meu melhor amigo. Ficará ao meu lado no pior momento da minha vida; chorou junto a mim e me abraçou quando eu perdi tudo.

Depois que o furacão passou, continuou aqui, só que agora de joelhos, com a aliança de noivado estendida e prometendo que permaneceria pelo resto de nossas vidas junto a mim.

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