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Havia dias em que os enjoos eram tão intensos que eu sequer conseguia me erguer da cama. Hoje foi um desses dias.

Não consegui ficar em pé por tempo suficiente sem que o mundo girasse, me fazendo vomitar. Os enjoos, com certeza, eram a pior parte dessa gestação.

Nicole havia me prometido que isso passaria logo, mas já fazia semanas. A tontura, as dores constantes nas costas e a falta de ar que me atingia de supetão estavam me matando agora. Não me restava muita coisa a fazer além de ficar deitada na cama por horas, olhando para o teto e esperando as dores e o enjoo passarem.

A propósito, estou entrando no quinto mês de gestação. Os dias passaram voando, o bebê continua crescendo firme e forte dentro de mim.

Hugo comprou uma máquina para ouvir o seu coração batendo, que se assemelha a um microfone de plástico. É só encostá-lo na minha barriga que escutamos o pequeno coração do nosso bebê batendo de forma violenta.

— Ele vai ser um lutador — Ele sempre dizia a mesma coisa enquanto esfregava o aparelho em mim. Seu sorriso radiante me forçava a acompanhá-lo na felicidade.

Estou feliz pelo bebê. De verdade. Mesmo que não pareça, minhas risadas e lágrimas em cada exame, e todas as vezes que ouço seu pequeno coração batendo cheio de vida, são genuínas. Mas me sufoca a ideia de tudo ter acontecido antes do esperado. Eu me sentia tão perdida.

Por sinal, estou grávida de um menino. Descobrimos isso na última ultrassom, feita há duas semanas; desta vez Hugo veio comigo. Ele não estava completamente curado, mas já se encontrava sem o gesso no braço esquerdo e os fixadores de fraturas na perna direita.

Ainda estava mancando e, segundo o médico ortopedista, continuaria assim por, pelo menos, um ano inteiro; por isso ele precisava fazer fisioterapia periodicamente.

Hugo livrou-se da muleta na semana passada e dos curativos na retrasada. Tudo o que restou daquele trágico acidente foi uma enorme cicatriz avermelhada que percorria o seu joelho até o tornozelo e uma dorzinha chata que o forçava a mancar.

Devolvida toda a sua mobilidade e sem mais restrições médicas, Hugo ignorou todos os pedidos de seu pai para continuar descansando e voltou logo ao trabalho. Segundo ele, precisava ganhar dinheiro para os brinquedos do nosso filho.

Com seu carro completamente destruído, Hugo passou a usar o meu para se locomover até a empresa; mesmo com Kriudis implorando para ele não dirigir e Cirlene pagando um motorista particular, Hugo às vezes era teimoso demais.

Lutei contra o meu próprio corpo para me erguer da cama. Já passavam das 9 da manhã de uma segunda-feira; eu não podia passar o dia inteiro deitada, minha empresa precisava de mim.

Sentei na cabeceira da cama e me deixei respirar um pouco. O enjoo ainda estava presente, forte demais para eu me sentir segura a ponto de descer as escadas e procurar café na cozinha.

Levantei-me e fui ao banheiro, abri o armário e peguei a nécessaire com alguns remédios. A cartela de Dramin estava no fim, era o último comprimido. Eu precisava comprar mais ou estaria, pelo resto do dia, em apuros.

Tomei o Dramin e passei mais dez minutos no quarto, até ver que o remédio fez efeito. Sentindo-me segura o suficiente para descer, fui até a cozinha, preparei uma xícara de café e tomei com algumas torradas.

A casa estava vazia; Hugo tinha saído de manhã bem cedo e não quis incomodar meu sono. Agradeço por isso, ele sabe que estou tendo problemas para dormir à noite.

Apesar de termos voltado a morar juntos e da nossa convivência pacífica, não dormimos juntos. Estou na suíte principal e Hugo no quarto de hóspedes. Vez ou outra, ele vem ao nosso quarto, quando precisa pegar algo no banheiro, faz carinho em meus cabelos enquanto eu durmo, mas não se atreve a fazer algo mais além disso.

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