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Me afastei, com a desculpa de que precisava tomar um ar. Caminhei despretensiosamente pelo deck de madeira do bangalô e observei o lago. Olhei algumas vezes de relance pela janela, para dentro da casinha onde Hugo e os maridos se encontravam.

Eu realmente esperava que ele estivesse se divertindo mais do que eu. O que, sinceramente, não era tão difícil.

Vi alguns homens engravatados rindo, com copos de whisky na mão e charutos em outra. O cheiro que vinha de dentro era forte.

Estiquei um pouco a cabeça na direção da janela, vislumbrando finalmente a mesa onde o grupo de maridos estavam. Pareciam estar jogando cartas. Apostas altas e Hugo gargalhava em meio a uma jogada e outra.

Havia um copo de whisky meio cheio ao seu lado. O que me deixou surpresa. Ele não costumava beber, um único copo de vodca era o suficiente para deixá-lo sorridente.

Fico feliz que ele esteja se divertindo tanto a ponto de deixar aquele princípio de lado por alguns momentos.

Já não tínhamos muitos amigos antes do meu surto. Depois, então, não nos restou nada além de um ao outro.

Nos tornamos muito mais próximos nesse meio tempo. Só eu e ele. Ninguém mais além de nós. Uma dupla inseparável. Perfeita.

No início eu gostava disso. Não queria ter ninguém com pena de mim, ou me perguntando a todo o momento se eu estava bem.

Ou vindo em minha casa e destrinchando toda a minha privacidade; Hugo me fez enxergar que ninguém de fora era importante no momento. Ninguém além dele.

Mas o tempo foi passando e a presença de Hugo tornou-se venenosa. Eu não podia contar tudo para ele e não esperava que ele fosse me entender.

Eu precisava ouvir outra voz, outros conselhos e outras risadas.

Precisava de um ombro amigo para chorar; de alguém que não fosse me chamar para transar depois de um longo abraço cheios de carinho. Eu precisava não me sentir tão sozinha.

Desci as escadas do bangalô e me afastei das risadas, do cheiro forte de charuto e da festa. Fui até o lago, onde uma mãe pato com 3 filhotes nadava despretensiosamente, com os filhotes lhe seguindo, até notar a minha presença.

A mãe me encarou com hostilidade, os filhotes fugiram da ameaça iminente. Eu parei diante deles, tomando nota de que deveria ter trazido migalhas de pão para facilitar o nosso primeiro contato.

- Cuidado, eu já vi ela ciscando para cima dessas crianças por muito menos - ouvi a voz de um homem em minhas costas - Tenta não chegar tão perto.

Me viro e encontro Joseph, o moço da farmácia. Escondia-se na sombra, sentado e encostado numa árvore. Ele, diferente de mim, trouxe pão.

Ficou em pé e esfarelou uma migalha na mão, jogando para os filhotes. Eu observei os patinhos comendo com uma sugestão de sorriso no rosto.

- Não está com os outros homens? - perguntei sem olhar para ele.

Ele se aproximou, suspirou fundo e observou o lago.

- Digamos que não sou adepto ao ambiente que se criou ali - disse - E você, por que saiu dali?

Apontou com o cenho para as hienas gargalhando próximas da mesa de frios.

- Precisava ficar sozinha - Lanço meus olhos para ele, esperando que entenda o recado e saia.

Joseph sorri de maneira divertida.

- Para ser mais justo, eu cheguei aqui primeiro.

Ele rasga uma lasca do pão e o estende em minha direção. Eu pego, amasso com a palma da mão e jogo os farelos para a mãe pata.

Fatal!Onde histórias criam vida. Descubra agora