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- Luan! - Nicole testa o nome em tom de exclamação - Luan... - Murmura novamente - Tem certeza?

Eu balanço a cabeça em confirmação.

- Era o nome que eu teria se fosse menino - revelei.

Nicole inclina-se na poltrona para amamentação cor de creme do quarto de hóspedes (agora reformado para o bebê), com as pernas cruzadas e uma xícara de café na mão. Os dedos deslizam pela borda da xícara enquanto ela parece pensativa.

- Conversou com ele sobre o nome? - perguntou - Me contou que Hugo deu ideias diferentes.

- Ele sabe que odiei a lista de nomes que preparou - bufei, irritada - Mas não, ainda não comentei com ele sobre nada.

Nicole faz um som de compreensão com a boca, põe a xícara na mesinha de canto de madeira e volta os ombros para a pilha de roupinhas e mantas recém passadas e dobradas.

Pedi para que ela viesse, assim poderia me ajudar a organizar todas as roupinhas do bebê e, de praxe, colocar as fofocas em dia.

- Ainda brigados? - ela pergunta, colocando as mantas já dobradas na gavetinha.

- Não diria que estamos brigados - murmurei de volta - Mas sim, ele ainda não está falando comigo. Nada além do necessário. Só fala quando quer saber sobre o bebê ou futilidades do dia a dia.

Hugo manteve-se estranhamente quieto com o fato de Joseph e eu termos transado. Era óbvio que estava chateado, mas evitava uma briga ou qualquer confronto direto sempre que eu dava-lhe a oportunidade.

O silêncio estava me matando, corroendo a minha alma aos poucos.

Isso foi há quase um mês. Mesmo assim, Hugo parecia estar longe de me perdoar ou, até mesmo, pronto para conversar.

- Vocês tem que fazer as pazes logo - Nicole disse, voltando a gaveta cheia de roupinhas para a cômoda do bebê - Logo, logo essa criança nasce; será ruim para ela que seus primeiros dias de vida seja num ambiente tão caótico. Com pais que se odeiam.

Eu não sei exatamente o que dizer sobre aquilo, então eu solto um suspiro, demonstrando a falta de ansiedade que tinha pelo nascimento do bebê.

Nicole nota, pois larga as roupinhas de lado e vira-se em minha direção.

- Tá acontecendo algo mais, amiga? - pergunta.

Eu dou de ombro.

- É besteira - suspiro - É só que... Eu tenho sonhado...

- Sonhado?

- É. Com o bebê - revelo - É a primeira vez que sonho com Luan desde a gravidez.

- Lembro-me da primeira vez que sonhei com Melanie - tinha um sorriso genuíno nos lábios de Nicole - Ainda nem sabia que estava grávida de uma menina, mas sonhei com ela mesmo assim. Lembro de ter acordado radiante - ela espreme o sorriso com os olhos fixos em mim - Você não me parece radiante.

- Não estou - suspiro, deixando as roupinhas de lado - Não foi um sonho que eu considere bom.

- Então me conta.

No meu sonho Luan deveria ter cerca de quatro ou cinco anos, sei disso pois ele parecia-se muito com uma foto de Hugo quando tinha a mesma idade. Naquele sonho eu estava deitada em minha cama e ele em pé, com um de seus pés em meu pescoço.

Senti-me sendo estrangulada por ele, enquanto os seus pequenos olhinhos me assistiam debatendo e lutando para respirar.

A mera menção do acontecido me faz levar a mão até o pescoço. Nicole se mantém imovel na poltrona de amamentação. Estou sentada na cama ao lado do berço, a poucos metros dela, entre uma pilha de roupinhas, sapatinhos e fraldas que aguardavam ser dobradas.

Fatal!Onde histórias criam vida. Descubra agora