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Nem cheguei a abrir os olhos e já sabia que estava em apuros.

Virei de um lado a outro pela cama, estiquei o braço na direção de Hugo, mas ele já havia acordado a muito tempo. Peguei o seu travesseiro e o joguei sobre a minha cabeça, na falha tentativa de abafar a barulheira de vozes vindas da sala.

Não consegui, era óbvio.

Vencida pelo barulho, me levantei, sentei na cama e olhei para o relógio na cabeceira. 08:31, tarde para alguém acordar, mas cedo demais para visitas.

Trouxe a mão para massagear as têmporas quando uma rajada de risadas invadiu a porta e esmurrou os meus ouvidos.

Suspirei e pedi a Deus para aquilo não ser verdade; ela teve um mês inteiro para vir nos visitar na casa nova, mas era óbvio que dentro de todos os 30 dias, iria escolher justamente aquele em que eu tivesse morrendo de cólica, dor de cabeça e com o sono atrasado.

Eu não era esse tipo de pessoa louca o bastante para exigir que ela adivinhasse, mas conhecendo a peça, era óbvio que Cirlene sabia exatamente quando deveria bater na minha porta.

Ela era como um espírito obsessor, fazia festa em me ver acabada.

Levantei da cama e fui até a gaveta dos remédios, tomei algo para as dores, depois fui direto para o banheiro.

Demorei mais do que deveria no banho. Eu não tinha nenhuma pressa para encontrar a víbora da Cirlene. Sai do banheiro, tirei um conjunto básico do closet e fiz uma maquiagem preguiçosa de dez minutos.

Decidi não perder tempo com o cabelo, não importava o quanto eu me arrumasse, a maldita sempre conseguia encontrar algo para me criticar. E quando não achava, era na forma que eu cuidava de Hugo que ela atacava.

- Ele parece tão magrinho, não está comendo direito, filho? - Ela disse da última vez que nos encontramos - Tem que passar uns dias na casa da mamãe. Se continuar sem cuidados vai acabar adoecendo - Então virou-se para mim - Tem que cuidar melhor dele, Laura. É o mínimo a ser feito depois de tudo o que ele fez por você.

Víbora desgraçada! Como ela teve coragem?

Só de lembrar do seu deboche fez o meu sangue ferver. Hugo não havia emagrecido coisa nenhuma; naquela semana tinha ganho 4 quilos de massa magra e se ele não comia direito, o problema era dele.

A culpa era dela, ninguém mandou criar um filho mimado que não gosta de comer verdura.

Eu ainda não queria ter filhos, e estava longe dos meus planos tratar um homem de 27 anos como se ele ainda tivesse 9.

Sai do quarto prometendo a mim mesma que Cirlene iria ouvir se soltasse alguma graça para mim de baixo do meu teto. Desci as escadas e ela foi a primeira pessoa que encontrei naquela manhã.

Deve ser um mau agouro.

- Aí está ela! - ela sorriu falsamente, eu só devolvi a falsa simpatia - Como está, querida?

- Bem.

O Lord Voldemort, pai de Hugo, estava sentado no sofá com Hugo ao seu lado; ele mostrava algo para o filho, mas a atenção veio para mim assim que desci.

- Vida, vem cá, papai comprou um carro novo, quer ver?

Eu faço um som de animação com a boca.

- Senhor Kriudis, bom dia.

- Oi fofa, dormiu bem? - Ele perguntou, mas sequer tirou os olhos da tela do celular.

Eu não me importei em responder, de qualquer forma ele não se importava em ouvir. Olhei de relance para a cozinha e vi a empregada da família bagunçando as minhas panelas.

Fatal!Onde histórias criam vida. Descubra agora