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Hugo saiu para trabalhar reclamando que a cabeça estava doendo. Não havia dormido direito na noite passada e estava febril quando acordou.

Mesmo assim, se recusou a faltar ao trabalho, disse algo sobre ter um projeto importante para organizar com o pai.

Os sintomas iniciais eram de uma gripe leve. Só de pensar sobre isso eu começava a tremer. Os sintomas iniciais que levaram a minha mãe para o hospital foram semelhantes, lá ela descobriu que havia contraído covid. Os sintomas pioraram depois da descoberta: Pneumonia, anemia e por fim uma parada cardiorespiratória que a levou a morte.

Eu não queria passar por tudo aquilo novamente. Não sabia o que seria de mim sem Hugo.

Fui à farmácia comprar alguns remédios para febre, para a dor e para a gripe, rezando para não ser nada grave, aproveitei e comprei um teste rápido para covid.

Hugo havia se vacinado, deveria estar imune aos sintomas fatais dessa doença. Era jovem e saudável demais para cair por causa de um vírus.

Eu estava voltando para casa quando um vulto dourado atravessou as minhas pernas. Me desequilibrei e rolei pelo chão, ferindo a minha mão no processo.

Sem saber o que havia me atingido, ergui a cabeça, só para ver a boca grande e rosada de um cachorro vindo ao meu ataque.

Pensei que aquele fosse o meu fim, mas ao invés disso o cão me babou inteira com mordidas leves e lambidas. Eu o agarrei pela coleira e o tirei de cima de mim.

Ainda em seu frenesi, ele tentou escapar, mas usei todas as forças que tinha para contê-lo.

- Spike! - O reconheci imediatamente. Só havia um labrador retriever problemático naquele condomínio e eu sabia quem era o seu dono. Olhei em volta e não vi ninguém - Fugiu de novo?

Eu estava incrédula, mas ao menos agora o cachorro havia se acalmado. Lambia a minha mão, bem onde eu havia me machucado quando fui de encontro ao chão.

- Agora você sente culpa? - Lancei-lhe um olhar carrasco, Spike encolheu as orelhas e choramingou, como se tivesse ciência de seu crime - Vem, vou te levar até o seu dono.

Não era possível que aquilo estivesse acontecendo. Justo comigo! Eu tinha feito de tudo para me manter longe de Joseph.

Desde que assumi para mim mesma que tinha uma atração por ele, tentei evitar todos os lugares que eu sabia poder encontrá-lo.

Até então eu tinha feito um ótimo trabalho. Tinha me comportado bem. Havia acordado naquela manhã com o intuito de cuidar do meu noivo, devolver o cachorro do homem que eu queria transar não estava nos meus planos.

Cheguei na casa de Joseph vinte minutos depois de ser atropelada, bati na porta e quando o cachorro ouviu o barulho da cigarra voltou ao seu frenesi. Precisei de ambas as mãos para segurá-lo antes dele voltar a fugir.

Joseph abriu a porta, vestia uma blusa branca com o símbolo da medicina bordado do lado direito do seu peitoral; estava cheiroso, com os cabelos penteados e a barba brilhando e escovada, então tomei nota de que ele estava pronto para sair.

Ele estranhou a minha visita, me encarando de forma surpresa por poucos segundos antes de notar a presença do cachorro se debatendo em minhas pernas.

- Seu cachorro me atropelou.

- Fugiu de novo, amigão?

Joseph pegou o cão pela coleira, diferente de mim, usou só uma mão. Levou Spike para uma porta ao lado da entrada e fechou. Quando os olhos azuis finalmente me encontraram, ele tinha um sorriso sem graça nos lábios.

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