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Dois Anos Depois

Hoje faz exatamente dois anos desde a morte de Hugo.

Segundo a longa autópsia, Hugo sofreu um ataque cardíaco e morreu momentos antes de chegar ao hospital. Eu o vi sofrendo e chamei a ambulância, mas não havia mais esperança quando os paramédicos chegaram.

Enquanto eu tentava explicar aos pais dele o que havia acontecido, não pude evitar cair em choro. As lágrimas eram genuínas. Apesar de tudo o que aconteceu, havia em mim um grande pesar com a morte de Hugo.

Senti-me vazia. Eu o amava, de verdade. O amei como nunca antes, nenhuma outra o amou. Mas aquilo foi necessário. Era ele ou eu.

Demorou quarenta minutos para que eu tivesse coragem de me levantar da cama e ir até onde Hugo jazia, só para me certificar de que ele ainda estava respirando.

Desci as escadas com medo de me aproximar. Ele estava roxo, seus lábios sobressaltados, os olhos fixos na janela enquanto uma lágrima solitária e imóvel se encontrava em sua bochecha.

Sua pele estava gelada quando o toquei para ver se ainda tinha pulso. Eu quase vomitei naquelas escadas quando a ficha caiu e percebi que havia matado uma pessoa. Pior ainda: eu havia matado o amor da minha vida.

O procedimento seguinte foi ligar para Joseph. Ele saberia o que fazer.

Enquanto eu limpava a sujeira que Hugo fez ao descobrir que eu havia colocado pó de camarão em seu suplemento de treino, Joseph prometeu que faria as ligações e chamaria a ambulância.

Os paramédicos, amigos de Joseph, fizeram todo o procedimento como planejado: levaram o corpo para o hospital e, depois disso, Hugo seria enviado para o IML, onde o legista, também conhecido de Joseph, faria a autópsia e daria o resultado.

Tirando a minha culpabilidade e ignorando todos os sinais de que Hugo, na verdade, havia morrido graças à sua alergia a camarão.

Eu quase não acreditei quando o resultado da autópsia saiu. Era assustador como tudo foi facilmente resolvido com uma única ligação.

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Uma semana depois do enterro de Hugo, quando retornei para casa logo após a missa do sétimo dia, Joseph bateu em minha porta.

Senti-me estranha em vê-lo ali. Quando tudo sobre a morte de Hugo foi resolvido, eu decidi me afastar; nunca lidei bem com a morte e o luto e, para sentir-me melhor comigo mesma, achei que não falar com Joseph iria apaziguar minha relação com o universo.

Eu sei, é besteira. Mas nos primeiros dias, não conseguia evitar os pesadelos frequentes. Às vezes, enquanto dormia, tendo apenas a companhia de Luan naquele casarão, eu escutava Hugo lutando para respirar.

Era aterrorizante.

- Oi - suspirou Joseph ainda da porta quando me viu. - Como você está?

Ele tinha um sorriso fraco no rosto, a voz apaziguadora, como quem estivesse tomando cautela enquanto tentava se aproximar.

- Bem - minha voz quase desapareceu quando lhe respondi. - Quer dizer... ainda é difícil. Mas estou bem, na medida do possível.

Joseph espremeu os lábios e escondeu o sorriso por baixo da barba. Tentava digerir a informação com cuidado.

- Eu só passei para ver como você estava - ele disse. - Isso e me despedir.

- Despedir?

- Não vai me deixar entrar?

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