4

37 8 54
                                    


4
▬▬

Fiquei cerca de vinte minutos rondando a farmácia até ter coragem de entrar. Dei a volta no quarteirão umas três vezes. Parei em frente a fachada, criei uma estratégia na cabeça de como me comportaria; um meio de não chamar tanta atenção, ou não ser reconhecida. Tomei coragem, respirei fundo, empurrei a porta de vidro e...

Desisti.

Mais uma volta pelo quarteirão, só para tomar a coragem necessária. Há essa altura já estava criando o diálogo perfeito em minha mente.

Tudo seria tão fácil se aquela farmácia ficasse fora do condomínio. Ali eu me sentia observada o tempo inteiro. Como se os vizinhos estivessem futricando, e contando junto a mim, quantas vezes eu enrolava dando mais uma volta no quarteirão antes de entrar na maldita farmácia.

Abri o celular, ignorei as mensagens dos fãs e fui direto para o mapa. Além daquela, a farmácia mais próxima de mim estava a cerca de 20 quilômetros de distância. Engoli em seco, suspirei fundo e continuei a caminhada.

Tinha aproveitado a corrida matinal de Hugo para dar aquela escapada. Ultimamente ele não saia de cima de mim, sempre com medo de eu tentar uma nova loucura. Entendia a sua super proteção para o meu lado, mas às vezes aquilo me sufocava tanto que me corroía por dentro; às vezes tudo o que eu queria era gritar.

Com a volta completa, parei exatamente no mesmo lugar que estava. Hesitante mais uma vez, porém com um pouco mais de coragem. Toquei na maçaneta da porta de vidro e dessa vez a puxei; usando toda a coragem que havia acumulado com tantas voltas pelo quarteirão. O sino na porta tilintou, avisando que havia um novo cliente.

O interior da farmácia estava frio graças ao ar condicionado. Coloquei os óculos escuros quando notei a câmera de segurança voltada para a entrada, depois o capuz. Caminhei vagarosamente até o balcão, com o atendente fitando-me como se eu fosse algum tipo de assaltante.

Com exceção do homem loiro fitando a prateleira de balas fini, não havia mais ninguém naquela farmácia além de mim e do atendente. Suspirei mais tranquila; o homem parecia alheio à situação, então provavelmente não ouviria o que eu tinha a pedir para o farmacêutico. Sequer virou-se para tentar me reconhecer.

- Bom dia - Eu disse.

O farmacêutico manteve os olhos vidrados em mim.

- Eu posso ajudar a senhora?

- Eu... eu queria saber se você pode conseguir isso para mim.

Estendi um papel com o nome do remédio anotado. Deslizei-o sobre o balcão, como se tivesse pedindo drogas a um traficante.

Ele leu o nome e afastou-se, desaparecendo por trás de uma das prateleiras atrás dele; segundos mais tarde retornou, tamborilando os dedos na caixa do anticoncepcional. Chamava tanta atenção que eu senti meu rosto esquentando.

Olhei de relance para o homem no corredor dos doces. Ele ainda estava alheio a toda aquela situação; agora tentando decidir se levaria o fini sabor morango ou uva.

- Aqui - jogou a caixa sobre o balcão, tirou uma sacola de papel de algum lugar e depois passou o código de barra no lazer vermelho do computador.

- Vou pagar em dinheiro - Eu me precipitei e disse, tirando as notas da minha carteira - Quanto deu?

O atendente sorriu.

- Não aceitamos pagamento em dinheiro.

- Como não?

Eu quase engasguei. Deslizei o dedo no meu cartão de crédito; usá-lo poderia chamar atenção desnecessária. A última coisa que eu queria era que Hugo descobrisse que estou fazendo de tudo para evitar ter um filho dele.

Fatal!Onde histórias criam vida. Descubra agora