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Eu chego ao hospital 50 minutos depois de ter recebido a ligação. Nicole está comigo. Ela veio dirigindo, pois se recusou a me deixar tocar no volante no estado em que me encontro.

Segundo algumas testemunhas, Hugo dirigia em alta velocidade pela estrada, até perder o controle do carro e capotar diversas vezes. O carro girou tanto na estrada que ficou irreconhecível. Dada a gravidade do acidente, foi pura sorte Hugo ter sobrevivido.

Os médicos disseram que ele deu entrada no hospital em estado grave. Foi direto para a sala de cirurgia. Chegou aqui com uma fratura exposta na perna direita e uma lesão grave no braço esquerdo; também teve algumas costelas quebradas. O sangramento constante vindo do couro cabeludo preocupava os médicos, que ainda não tinham descartado o risco de traumatismo craniano.

Kriudis e Cirlene chegaram ao hospital 10 minutos depois de mim. Atravessaram a sala de espera e foram direto para a recepção. Me viram no caminho, mas não pararam para falar ou prestar atenção em mim. Quando se informaram da situação de Hugo, Cirlene desabou em choro e precisou da ajuda de vários enfermeiros para colocá-la em segurança numa das cadeiras antes que ela desmaiasse.

Cirlene ficou lá, sendo acudida por um batalhão de pessoas, enquanto Kriudis exigia da recepcionista a transferência imediata de Hugo para um hospital particular, onde, segundo ele, receberia melhores cuidados.

A cirurgia durou cinco horas. O dia já estava claro quando o médico responsável por Hugo atravessou a porta de duas folhas e chamou pela sua família. Eu estava no bebedouro quando isso aconteceu. Cirlene e Kriudis dispararam na direção do homem, e eu me aproximei sorrateiramente para ouvir o que ele tinha a dizer.

— A cirurgia foi um sucesso — ele disse, e eu me sinto imediatamente aliviada.

— Mas ele vai ficar bem? — Cirlene perguntou.

O médico olha para ela, depois para Kriudis e pousa o olhar em mim; era um homem grisalho, no auge dos seus 60 anos, experiente. Decide ignorar a pergunta de Cirlene por agora e continua o que estava dizendo antes de ser interrompido.

— Levamos o paciente para um leito para descansar — ele disse. — O ferimento em sua cabeça não foi profundo o suficiente para atingir o crânio, então, por agora, está descartada a possibilidade de traumatismo craniano.

— Mas ele vai acordar? — Cirlene voltou a interrompê-lo.

— Vamos torcer que sim — disse o médico. — Ainda é cedo para dizer. Complicações podem acontecer durante e depois da cirurgia. O melhor a se fazer é observar possíveis mudanças.

— Podemos vê-lo? — Desta vez sou eu quem pergunto.

O homem balança a cabeça em confirmação.

— Mas tenham cuidado.

Fomos levados para uma sala longa com vários pacientes. Os leitos eram divididos por cortinas pesadas de blackout. Kriudis não gostou nem um pouco daquilo; murmurou e resmungou que o filho merecia um quarto só dele, num hospital de verdade. Cirlene, no entanto, estava mais preocupada com o filho do que com o lugar onde ele se encontrava. Agradeceu o tempo todo ao médico pelo que ele fez pelo filho.

Entramos no leito de Hugo e uma enfermeira logo se prontificou a cercar o lugar com a cortina. Cirlene debulhou-se em choro, sentada ao lado da cama enquanto assistia o filho envolto de máquinas hospitalares.

Naquela cama hospitalar, Hugo parecia tão pequeno. Seus olhos estavam fechados. Fios, cabos e mangueiras entravam e saíam de todos os lugares. O pé direito estava suspenso por uma pequena rede de elástico, todo enfaixado, com curativos onde havia barras de ferro segurando o osso que foi fraturado. O mesmo acontecia com o braço esquerdo.

Fatal!Onde histórias criam vida. Descubra agora