▬
17
▬▬Eu iria ficar bem. Na verdade, eu já estava.
A médica disse que foi apenas uma contusão leve no nariz, foi o ferimento na minha boca que a preocupou mais. 5 pontos na região interna dos meus lábios e estava nova, pronta para escorregar na piscina e bater a boca no chão novamente.
Nossa, como eu era desastrada!
Também tinha dado a mesma desculpa esfarrapada ao dentista que consertou os meus dentes.
- Você teve sorte por ter conseguido recuperar o dente - ele disse - Quase ninguém consegue ver o dente perdido quando cai na piscina. Mas você vai ficar bem. Viu? Agora pode sorrir!
Eu iria ficar bem? Sim, iria. Mesmo assim, a batida no painel do carro me deixou sequelas.
Meu nariz estava inchado, e nem mesmo a maquiagem conseguiu disfarçar as escoriações. Aquilo foi há pouco mais de um mês, mas, eu ainda estava com raiva demais para falar com Hugo.
Ele, no entanto, estava se esforçando ao máximo para conseguir o meu perdão. Havia pedido ao pai alguns dias de folga na empresa, com a desculpa de que estava doente. Só para ficar mais perto de mim enquanto estou me recuperando.
Fez de tudo para chamar a minha atenção; lançou perguntas, contou histórias e brincou com a situação. Eu nem dei bola, sequer olhava para ele.
Estou dormindo no quarto de hóspedes, com a porta trancada. Dormia, tomava banho e só saia para comer. Continuaria assim até ele voltar a trabalhar.
Aquilo estava-o matando, eu sentia. Hugo reagia como uma criança geralmente age quando faz merda: virando um santo.
Todas as manhãs, quando eu abria a porta para ir tomar café, encontrava um presente diferente deixado no chão, junto a ele um bilhete com um pedido de perdão.
Só naquela primeira semana, Hugo havia me presenteado com um café da manhã especial, flores, nutella, uma cesta cheia de chocolates, um iphone novo, a aliança que tanto pedi, perfumes caros e até mesmo o salto da versace que eu estava namorando havia algumas semanas.
Eu, como sempre, ignorava os presentes. Deixava lá, onde haviam sido deixados, se acumulando dia após dia, até que ele percebeu que eu não queria presentes; não queria as suas desculpas. Tudo o que eu queria era um tempo longe dele.
Distância.
Mas aquilo ele não poderia dar, então virou um fantasma naquela casa. Começou a interagir mais com os moradores do Paraíso Parque, até entrou no clube de golfe ridículo do condomínio.
No fundo, no fundo Hugo sabia que iria me vencer com a ausência, eu acabaria sentindo saudades. Cedendo a sua companhia.
E era o que estava acontecendo. Desde que começamos a sair, em 2019, não houve nenhum dia em que Hugo e eu ficamos sem nos falar. Mesmo nas nossas piores brigas, sempre trocamos uma ou duas palavras. E eu não tinha amigas, não mais; conhecidos ou qualquer casa para ir quando me sentisse solitária.
Evitei Nicole e Robson durante a minha recuperação, também não contei os motivos de estar tão sumida.
Quando perguntavam se podiam vir aqui em casa, eu dava uma desculpa. O lançamento do meu batom era geralmente a perfeita, a marca estava bombando então não estranharam quando eu dizia ter mais uma entrevista marcada.
Quase dois meses depois, Hugo estava farto daquele silêncio. Éramos completos estranhos numa casa enorme.
Nesta manhã ele fez de tudo para que eu o notasse. Tentou mostrar um meme, me enviou um vídeo de filhotes de cachorros no whatsapp; no fim sentou ao meu lado enquanto eu comia na mesa, estendendo a mão para que eu pegasse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fatal!
Misteri / Thriller⚠️ Todos os direitos reservados ⚠️ +18| Status da obra: Em Andamento | Suspense Psicológico | Dark Romance Depois de meses turbulentos, Laura Arruda retorna triunfante à internet, consolidando-se no auge de sua carreira como blogueira de moda. Sua...