Entregar currículo era com certeza uma das piores coisas da vida adulta. Era humilhante, desgastante, cansativo, péssimo. Depois de quase dois meses enviando aquele mesmo papel pra diversos jornais e revistas, eu desisti. Tinha esperança de que em algum momento iriam me chamar, simplesmente não existia mais nenhum lugar em Barcelona em que eu já não tivesse tentado, me candidatei até mesmo à empregos que não tinham a ver com a minha área, como rádio jornalismo e fotografia. E até agora nada.
Os meses se arrastavam, as fofocas de que o golden boy do Barcelona estaria namorando continuavam, não tão fortes quanto antes, mas ainda estavam ali. Manoel não foi tão cruel como achei que seria, não me pediu para escrever nenhuma matéria sobre o assunto ou fez alguma pergunta indecente. Minha vida voltou para a rotina meio monótona de sempre. O que me deixava meio feliz, meio ansiosa, meio correndo contra o tempo...
Pablo vinha dormir em casa com frequência, principalmente depois dos jogos. Eu gostava muito, tínhamos uma rotina pré estabelecida, ele fazia o jantar, eu limpava as coisas, saíamos sempre que possível em encontros não chamativos, o sexo continuava sendo ótimo. Coisas simples da vida.
Mas eu sentia que a questão do meu emprego continuava o incomodando, toda vez que eu tinha que escrever uma matéria tendenciosa sobre seus colegas de time, ou todos os momentos que eram privados de nós porque eu era muito cagona para expor nosso relacionamento para o pessoal da revista.
- Seu aniversário! - Eu estava quase pegando no sono depois de um dia cheio quando Gavi exclamou do nada, pulando da cama.
- O que tem?
- Seu aniversário, semana que vem! Vai cair junto com nosso aniversário de namoro! - Parecia que ele tinha comido dois quilos de açúcar do nada.
- Meu bem, eu já te disse que aniversário é anual...
- Mas é 6 meses, metade de um ano, então acho que vale!
Gavi era meio sistemático com datas, não sei se era porque esse era seu primeiro namoro, ou ele simplesmente tinha uma tara por datas comemorativas. No nosso "aniversário" de 3 meses ele me deu uma caneca personalizada que dizia "não fale comigo antes do café". Ele tinha começado a ficar bem engraçadinho ultimamente.
- Aham... - Eu falo sonolenta, sem nem me mexer na cama. - Agora volta aqui, estou com frio.
Sei que ele revirou os olhos, mas voltou para cama e me abraçou forte mesmo assim.
- O que você quer de aniversário? - Ele pergunta baixinho no meu ouvido.
- Qualquer coisa que vier de você já está ótimo.
- É sério, Lina! Você sabe que eu sou péssimo com presentes...
A linguagem de amor de Pablo era toque físico e presentes. Com toque físico ele era ótimo, mas quando se tratava de presentear ele sempre pensava de mais e entrava em parafuso. Mas mesmo assim se esforçava ao máximo, e essa era uma das coisas que eu mais gostava nele.
- Eu gostei da caneca... - Me aconchego no seu peito, implorando para que ele esquecesse a ideia do presente e me deixasse dormir.
- Mas uma caneca é muito sem graça, agora é seu aniversário e também é o -
- Ai meu deus, Pablo! -Eu levanto o rosto, encarando aqueles olhos enormes. - Me da um carro, uma casa mobiliada, um emprego descente, um cachorro, sei lá!
- Tá com sono, bem?
- O que você acha?!
Ele solta um riso fraco e volta a me abraçar, deixando um beijo na minha testa e finalmente calando a boca.
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ANTI - HERO || Pablo Gavi
Fiksi PenggemarCarolina Almeida não era uma má pessoa. Estudava e batalhava para pagar suas contas, como qualquer pessoa sem muita sorte na vida. Quando a proposta de trabalhar em uma revista de fofoca surge para a estudante de jornalismo, ela não pensa duas vezes...