Devastada. Eu estava devastada.
Milhões de pensamentos se passaram pela minha mente em questão de 5 segundos. A distância de Madrid até Barcelona, a minha faculdade, que ainda faltava um semestre pra chegar ao fim, a minha vida financeira, Pablo. E esse foi o mais me doeu.
Respirei fundo, Monalisa não me disse nada, apenas me olhou de uma forma que já dizia muito. Joguei uma água no rosto, prendi o cabelo e fingi que nada aconteceu pelo resto da noite.
Não dormi. Passei a noite inteira observando Gavi, seus braços em volta da minha cintura e sua cabeça deitada no meu peito, a posição preferida dele. E quando tive certeza de que ele estava em sono profundo, chorei baixinho, alisando seu cabelo com cuidado.
Comecei a pensar que estava sendo dramática e paranóica de mais. Madrid e Barcelona ficavam a 630 km de distância, o que eram 630 km de distância pra quem já tinha atravessado oceano? Mas aí pensei que era impossível para Gavi ter essa disponibilidade de tempo na agenda, quando ele teria a chance de pegar 7 horas de estrada só para nós vermos? Ou 1 horas de avião? Ele treinava a semana inteira, e jogava aos finais de semana, era impossível... E então pensei que eu estava sendo egoísta, porque mesmo com todos os contras, eu não pensei em recusar a proposta de emprego nem por um segundo.
(...)
- Tem certeza do que está fazendo, Carolina? - A voz chata de Manoel diz atrás de mim, enquanto eu esvaziava minha mesa na redação.
- O que você acha? - Pergunto sarcástica e ele suspira.
- Sempre soube que aqui não era o seu lugar... - O que era isso, discurso motivacional depois de tudo?
- Manoel, eu não quero ouvir seu discurso, tá bom?
Termino de enfiar o último monte de folhas da caixa de papelão, minha mesa era totalmente sem graça e sem conteúdo, não tinha muito o que se levar pra casa ali.
Manoel me olhava de uma forma estranha, de braços cruzados e com um quase mínimo sorriso no rosto.
- Espero que seu estágio na El Jueves tenha servido de algo, Carolina.
- Ah! Pode ter certeza que sim! - Chantagem emocional, estresse, ansiedade e constante sensação de não estar evoluindo. Amei a minha passagem pela revista!
- Estou falando sério. Espero que você tenha aprendido como o mundo jornalístico funciona. - Eu estava pronta para ir embora, com minha caixa na mão e orgulho entalado na garganta. Mas não fui.
- Isso que vocês fazem não é jornalismo, Manoel. E principalmente, o que você faz, não é jornalismo. - Seguro a caixa com força, morrendo de vontade de apontar o dedo na cara dele. - Chantagem não é moral, e se um dia eu precisar me rebaixar ao seu nível pra conseguir alguma matéria, eu mesma me demito.
Manoel solta um riso pelo nariz, indiferente às minhas palavras.
- Agora que não sou mais seu superior você pode destilar todo seu veneno.
- É... - Sorrio falsa, virando as costas pra ir embora. - Vai pro inferno, Manoel!
Me enfio no elevador sentindo meu corpo tremer. Me olho no espelho que tinha ali, e percebo que a credencial ainda estava no meu pescoço. Puxo ela do meu corpo, com uma sensação estranha de choro na garganta, me lembrando da primeira vez que usei ela. A primeira vez que encontrei Gavi, seus olhos raivosos indo de entro com a credencial, lendo o nome da revista com desdém. Hoje era uma lembrança até que engraçada... Aquela credencial tinha história pra contar.
A guardei no fundo da caixa.
(...)
A sensação de assistir um jogo no estádio era indescritível, mas a sensação de assistir o seu namorado jogar era melhor ainda.
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ANTI - HERO || Pablo Gavi
Fiksi PenggemarCarolina Almeida não era uma má pessoa. Estudava e batalhava para pagar suas contas, como qualquer pessoa sem muita sorte na vida. Quando a proposta de trabalhar em uma revista de fofoca surge para a estudante de jornalismo, ela não pensa duas vezes...