capítulo 22.

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Minha família estava indo embora, e eu sentia que não aproveitei nada com eles nesses últimos dias. Comecei a me sentir culpada. Com todo o drama e correria do meu antigo trabalho, mais a proposta em Madrid, eu não tive nem tempo para passear pela cidade com eles, e agora eles estavam voltando para o Brasil...

Gavi tinha me emprestado o carro para eu levá-los até o aeroporto, meus irmãos e mamãe no banco de trás não calavam a boca desde que saímos do hotel, fiquei feliz que papai estava ao meu lado, calado como sempre.

- Carolina? - Eduardo me chama baixinho, enquanto estávamos no semáforo.

- Oi?

- Eu adorei esses últimos dias com você. - Ele fala simplesmente, segurando minha mão que estava sob o câmbio do carro. - Estou muito orgulhoso de tudo que você conquistou.

- Pai... - Sinto um nó na garganta, aquela famosa vontade de chorar. Eu devia estar de TPM.

- Você estava muito ocupada, fez o que pode. - Meu pai fala como se tivesse lido meus pensamentos.

Meu pai não falava muito, ele sempre foi assim. Ele era daqueles pais que faziam as coisas. Foi ele que me deu meu primeiro bloco de notas, onde comecei a escrever e descobri minha paixão pelo jornalismo. Papai não ganhava muito como professor do estado, mas juntou dinheiro suficiente para dar um computador para Chico, no aniversário de 7 anos dele, e hoje Chico trabalhava com programação. Também foi ele que deu a primeira lousa de brinquedo para Anna Júlia, e hoje ela era formada em Letras. Deu pra entender o meu ponto?

Quando meus pais se separaram e papai foi embora, perdemos esse tipo de contato. Não culpava nenhum dos dois, mas não foi fácil para mim ou meus irmãos na época. Ter que do nada se acostumar com a falta de um deles, sem respostas... Posso dizer que o casamento de meus pais foi um trauma de infância.

- Obrigada, pai. - Eu forço um sorriso e ele sorri de volta, e não fala mais nada.

Eu não gostava de despedidas, nunca sabia o que falar, quanto tempo ficar no abraço, se segurava o choro ou não. Então, quando o voo deles é anunciado, eu só fico parada, rezando para que um deles tenha alguma reação.

- Estou orgulhosa de você. - Minha mãe fala quando me abraça. Que ótimo, era o dia mundial de "faça sua filha chorar!" - Sua casa, sua carreira, seu relacionamento... Você cresceu.

- Não é pra tanto, mãe...

- É sim, Carol. - Ela arruma meu cabelo, um carinho de mãe. - Você quis isso desde criancinha...

- Tá bom mãe, sem papo emocional agora. - Chico empurra dona Monica de leve, que retribui com um tapa em seu braço.

- Obrigada, Chico... - Eu sussurro quando ele me abraça, me fazendo ficar na pontas dos pés. Francisco e Anna Júlia tinham puxado a altura de papai, e eu, da minha mãe. - Não ia aguentar um papo de manteiga derretida agora.

- Eu sei, você ia se acabar de chorar. - Ele me da rir, dando espaço para Anna Júlia.

- Eu te amo, feia. - Ela me abraça forte. - Você vai conquistar coisas incríveis ainda.

- Ai que inferno, parem com esse papo! - Eu digo já chorando, mas dando risada ao mesmo tempo.

Francisco e Anna Júlia me abraçam ao mesmo tempo, fazendo eu me sentir como uma criança de novo, a irmã mais nova e café com leite que sempre fui.

- Aquela sua amiga, Monalisa. - Chico fala meio sem graça antes de ir pegar sua mala. - Passa meu número pra ela.

- Tá brincando né?

ANTI - HERO  || Pablo GaviOnde histórias criam vida. Descubra agora