Cap 6

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- Você tem certeza?- Olhei ao redor

- Nem tanto - Ele coça a cabeça - Precisamos chegar logo e descobrir a origem daquela fumaça. Vamos entrar no carro. - Ele indica com a mão e sobe

Eu não estava me sentindo bem, alguma coisa ia acontecer. Dei uns passos até o caminhão, olhei em volta antes de subir procurando algo, mas não havia nada.

- Você está se sentindo bem? - João me pergunta após eu me sentar ao seu lado

- Estou -Sorri para ele tentando passar conforto, mas ele olhava desconfiado pra mim.

--- Vamos dar partida, estão todos aí?- Paulo grita lá da frente

--- Estão todos aqui Paulo, pode seguir- Joaquim diz a ele

O carro logo começou a andar, aquela sensação aumentava cada vez mais. "Qual vai ser o próximo problema causado por um desses demônios?". Encostei a cabeça no carro, senti minha cabeça latejar levemente. Estava muito cansada da noite mal dormida e mais ainda de saber que estávamos em perigo. Eu deveria ter ficado na Montanha.

- Se quiser tirar um cochilo novamente, pode encostar sua cabeça em meu ombro- Joaquim diz próximo a mim

Eu fiquei em choque por um tempo. O que ele queria dizer com isso? Após um tempo nos encarando, Joaquim umedece seus lábios e corrige sua fala.

- Me desculpa, Acho que a frase soou um pouco... Deixa pra lá- Ele sorri sem graça

- Não, tudo bem. Só foi repentina- Sorri pra ele - Eu aguento até lá, mas obrigada

Ele sorri de volta. Seus olhos brilhavam intensamente, seu sorriso era tão genuíno e doce. Como sua alma parecia em paz em meio de tanto caos? Depois de toda a história que me contaram, como depois de tanto sofrimento seus olhos eram tão gentil e amigável? Ao mesmo tempo que parecia alegre, parecia que me escondia algo.
Ainda olhando em seus olhos e ele nos meus, nossas expressões de alegria mudaram drasticamente, estávamos imersos em nossos pensamentos. Cada um criando um personagem do outro, cada um imaginando a dor do outro, a alegria do outro.
Cada detalhe em nossos olhos foi minuciosamente admirado, cada detalhe da nossa alma foi vista, foi como se estivéssemos nus diante um do outro.
Acabamos desviando nossos olhos após o caminhão da uma freada brusca.

--- DESÇAM DO CAMINHÃO!!- Paulo grita abrindo a porta para escapar e Mayron fez o mesmo

--- O que está acontecendo?- O menino mais velho diz irritado

--- DESÇAM!

Assim que descemos, vários corpos espalhados no meio do caminho. Eram muitos, algumas moscas voavam sobre os corpos e algumas larvas estavam sobre os corpos. Aquela imagem era terrível, havia criança, mulheres e alguns homens. Eles claramente tentando lutar, havia todo tipo de arma do lado de cada corpo, até o das crianças.
Pus minhas mãos na boca, horrizada com a cena. Havia sangue por todos os lugares, as expressões de medo na face daquelas pessoas... tudo era terrível. Aquelas moscas e bichos se alimentando deles como se não fossem nada.

--- MEU DEUS! - Mada olha horrorizada- Aquela é... é...- ela aponta pra alguém

Eu não queria ver mais aquilo, virei de costas, tampei meus olhos. Quando senti uma mão sobre meu ombro.

--- Eu sei que isso é terrível, mas a gente precisa de sua ajuda. - Joaquim tinha os olhos marejados- Você está sentindo a presença deles?

--- Eu não... Eu não sei - Meu olhos enchem d'água- Puta merda! Vamos sair daqui pelo amor de Deus - O cheiro dos cadeves batiam em minhas narinas

Um amor que transcende o tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora